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O problema dos dois corpos: balões chineses desafiam Estados Unidos

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“Nós vamos dar um jeito”, antecipou Joe Biden. Falou e cumpriu, depois de ser colocado na posição impossível de um presidente que permite a violação do espaço aéreo americano sem reagir.

A situação tinha assim sido resumida por Leon Panetta, não um adversário republicano interessado em desmoralizar Biden, mas um democrata que foi secretário da Defesa e diretor da CIA durante o governo Obama:

“Ele invadiu nosso espaço aéreo. Obviamente, invadiu nossa soberania. É importante que os Estados Unidos assumam o controle desse balão, seja interceptando-o, seja derrubando-o”.

O balão que flutuava desafiadoramente a cerca de 20 mil metros de altitude, grande o suficiente para ser visto por cidadãos americanos de caído diante da sensação de estar vivendo uma invasão alienígena, abre problemas espantosos.

Por que a mandou um artefato dirigível destinado à espionagem (dois, na verdade, contando o que foi localizado inicialmente voando sobre a Colômbia e a Venezuela) que podia ser visto e, obviamente, derrubado? Qual a explicação para uma manobra acintosa quando a própria essência dos aparelhos espiões é serem furtivos ou minimamente passíveis de ser desmentidos? 

As especulações, por motivos óbvios, pulularamme algumas atingiram o nível da insanidade. Seguindo o princípio de que a melhor explicação envolve a com menor número de premissas, é possível aventar que a China mandou um balão visível a olho nu porque queria que ele fosse visto. Ou seja, estava testando um adversário que pretende eventualmente confrontar na disputa que, no consenso unânime dos especialistas, está sendo armada em torno da ilha de Taiwan.

Desse ponto de vista, o cancelamento da visita do secretário de Estado, Antony Blinken, foi um prejuízo que já estava precificado. Também já estava incluída na conta a formidável cara de pau das “explicações” oficiais de que o balão é um artefato meteorológico que errou a trajetória e a China nunca, jamais, em tempo algum “violou o território e o espaço aéreo de nenhum país soberano”

O trajeto do balão também tem um componente importante. Saiu da China, atravessou o Pacífico, avançou pelo Alaska, sobrevoou todo o Canadá e finalmente foi avistado em Montana, o estado americano que, por estar bem no centro do país, e portanto mais protegido, abriga uma das grandes bases de mísseis intercontinentais baseados em terra.

Alguns especialistas acham que o balão deveria ter sido derrubado justamente quando estava sobre Montana, um estado de baixa densidade populacional, o que diminui a possibilidade de vítimas em terra. 

O balão chinês criou um problema danado para Joe Biden, pois deixar que um veículo de espionagem passasse incolumemente sobre os Estados Unidos equivalia a uma demonstração de fraqueza quase inacreditável. Derrubar o balão tornou-se a única opção política aceitável para Biden.

Apenas um antes de que o balão fosse avistado sobre os Estados Unidos, um general da Força Aérea americana, Mike Minihan deixou muita gente suando frio com um documento no qual conclama seus comandados a estar preparados para uma guerra com a China dentro de apenas dois anos.

Um movimento chinês para anexar Taiwan, onde as manobras militares estão cada vez mais agressivas, é considerado inevitável se não houve uma mudança – impossível até onde a vista alcança – de orientação política. O “prazo” mais viável seria depois de 2027, mas o brigadeiro Minihan acha que a realização de eleições presidenciais tanto nos Estados Unidos quanto em Taiwan no ano que vem cria uma janela de vulnerabilidade que a China pretende explorar.

A China não precisa do balão para espionar o território americano, tem satélites suficientes para fazer isso. “Além de todos os equipamentos da Huawei que ainda estão instalados nos Estados Unidos; eles têm milhões de modos de levantar informação”, disse o senador Marco Rubio.

O balão pode ter sido um sinal de alerta de que a China está fazendo uma manobra programada para provocar os Estados Unidos e outras mais virão, com o de atordoar a e disseminar o medo de um conflito em torno de uma pequena ilha que, à primeira vista, não envolve interesses existenciais dos americanos.

Devemos temer essa nova fase de movimentos agressivos?

“A sua falta de medo é baseada na sua ignorância”, diz um dos personagens do magnífico O Problema dos Três Corpos, a ficção científica escrita por Liu Cixin.

Fonte: Veja

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