Em seu mais recente filme, Os Fabelmans, que segue em cartaz nos cinemas do Brasil, Steven Spielberg se mantém fiel a um dos seus temas preferidos: a família. Dessa vez, o aclamado diretor de Tubarão, Jurassic Park e A Lista de Schindler abraça aquilo que foi retratado por meio de metáforas, subtextos ou simbolismos em muitas de suas produções anteriores: sua própria vida.
A trama gira em torno de Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle), um garoto que cresce no Arizona do pós-Segunda Guerra ao lado de sua mãe artística Mitzi (Michelle Williams), seu pai engenheiro Burt (Paul Dano) e suas três irmãs. Ele acaba se apaixonando pelo cinema depois que os pais o levam para ver O Maior Espetáculo da Terra, longa dirigido por Cecil B. DeMille e lançado em 1952. Mas quão real é tudo isso?
O conflito central é o divórcio dos pais de Sammy e como a difícil decisão coincide com sua carreira de cineasta. De fato, os genitores de Spielberg, Leah Adler e Arnold Spielberg, se divorciaram quando ele tinha 19 anos. No documentário intitulado Spielberg (disponível na HBO Max), ele e suas irmãs relembram como o casamento começou a desmoronar após a mudança da família para a Califórnia devido ao trabalho do pai. Quando sua mãe anunciou que o casamento havia chegado ao fim, seu pai assumiu a culpa.
Durante o documentário, Arnold Spielberg disse que permitiu que os filhos pensassem que ele havia feito a escolha, e não a mãe: “[Eu estava] protegendo-a porque ela é frágil, e ainda assim… Eu ainda a amava.”
Semelhante ao que acontece em Os Fabelmans, Leah teve um caso com o melhor amigo de seu marido, Bernie, que era “como um tio” para Spielberg e suas irmãs. No filme, o personagem se chama Bennie (Seth Rogen) e é deixado para trás quando a família se instala no oeste dos EUA, e Mitzi cai em uma depressão sombria, assim como Leah caiu na vida real. Eventualmente, Leah e Bernie se casaram.
Na época da separação de seus pais, nem Spielberg nem suas irmãs sabiam dos detalhes. Ele culpou o pai pelo fim do relacionamento e não falou com ele por 15 anos. “Nunca disse ao meu pai que estava com raiva dele, nunca trocamos palavras de raiva, mas foi uma distância que criei”, contou o diretor no documentário.
Esse evento também se reflete na filmografia de Spielberg, por meio da figura do pai ausente ou do embate entre pai e filho – como se pode ver em Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T. – O Extraterrestre, Prenda-me Se For Capaz ou Guerra dos Mundos.
“A obsessão pai-filho que tive em meus filmes obviamente fala de muitos sentimentos que carrego comigo e dos quais quero me livrar. E consegui”, disse Spielberg. Eles finalmente se reconciliaram, e o cineasta até dedicou O Resgate do Soldado Ryan a seu pai, que era um veterano da Segunda Guerra Mundial.
Fonte: adorocinema