O chef norte-americano Anthony Bourdain dedicou a vida a conhecer cada canto do planeta e compartilhar suas descobertas com o público, seja através de programas de televisão ou livros. Em 2017, ele teve a ideia de escrever um guia de viagem em um formato que fugisse do tradicional e para isso pediu a ajuda de sua amiga e editora de longa data, Laurie Woolever. No entanto, Bourdain tragicamente tirou a própria vida aos 61 anos em junho de 2018, quando o livro ainda era apenas um projeto. Decidida a honrar a memória do finado amigo e chef, Woolever seguiu trabalhando sozinha na obra e publicou Volta Ao Mundo: Um Guia Irreverente, lançado no Brasil em outubro de 2021 pela Editora Intrínseca.
Divido em 43 capítulos, cada um sobre um país, o livro de 464 páginas é uma viagem de volta ao mundo sob o olhar de Bourdain. Ao mesmo tempo em que traz dicas práticas dos destinos – aeroportos mais próximos, como se deslocar e sugestões de restaurantes -, o guia acrescenta as observações mais sinceras e sagazes do irreverente chef. Para conseguir imprimir as opiniões de Bourdain mesmo após sua morte, Woolever fez um compilado de frases ditas por ele ao longo dos anos nos programas de televisão “Lugares Desconhecidos” (2013-2018), “Sem reservas” (2011-2012) e “Fazendo escala” (2011-2013).
No capítulo dedicado ao Brasil, o apresentador e escritor não poupou elogios à Salvador e trouxe uma explicação bem interessante sobre o Acarajé da Dinha, tido como o melhor acarajé da Bahia, bem como um alerta para quem vai prová-lo pela primeira vez:
“O que é Acarajé? É isso: uma pasta, uma massa, um bolinho parecido com um falafel de feijão-fradinho amassado, temperado com camarão seco moído e cebolas, frito no azeite-de-dendê misturado com pimenta-malagueta até ficar crocante e dourado. Dentro vem o vatapá, uma espécie de pasta de camarão, a salada de tomate e o camarão frito. Imperdível. (…) Adoro azeite-de-dendê. Mas leva algum tempo para se acostumar. A primeira vez que estive aqui foi assim: você come e caga sem parar durante horas. Mas, depois de se acostumar, sem problemas! Eu adoro.”
As páginas do livro também são compostas por contribuições de amigos e familiares do apresentador. É o caso do relato escrito pelo seu irmão Christopher Bourdain, que contou sobre uma viagem em família para Paris quando os dois ainda eram crianças: “contraímos o bichinho da comida, o bichinho das viagens e ali entendemos que é possível conviver com pessoas de outros países, aprender coisas novas e sentir prazer em entendê-las melhor. Foi onde tudo começou”, afirma. Outro depoimento é o de Nari Kye, gerente de produção do programa “Sem Reservas”. Segundo ela, Bourdain foi fundamental para fazê-la aceitar suas raízes sul-coreanas. “Antes de fazer o episódio da Coreia, eu era outra pessoa: envergonhada e constrangida por ser diferente. Hoje, se eu tivesse que apontar o que me torna um indivíduo singular, diria, em primeiro lugar, que é minha herança coreana”, revela Kye.
No geral, a leitura deixa um gostinho de quero mais. Fica clara a tentativa da empreitada de querer espremer até a última gota para trazer a essência de Bourdain, mas o resultado deixa um pouco a desejar por não ter muito da voz, da sagacidade e da irreverência do saudoso chef.
Quem foi Anthony Bourdain?
Anthony Bourdain nasceu em Nova York em 1961, mesma cidade em que se formou na renomada escola de culinária Culinary Institute of America. A partir daí, passou a orquestrar a cozinha de restaurantes como a Sullivan´s, One Fifth Avenue e Supper Club. Em 1999, ganhou notoriedade ao publicar um artigo na revista New Yorker intitulado “Don’t eat before reading this” (algo como “não coma antes de ler isso”), que no ano seguinte se transformou no livro Cozinha Confidencial – Uma aventura nas entranhas da culinária, publicado em 2001 no Brasil. A obra se tornou um best-seller justamente porque revelava sem dourar nenhuma pílula os bastidores de grandes restaurantes em histórias envolvendo máfia, drogas e bebedeiras. O sucesso do livro fez com que Bourdain ganhasse um programa de televisão chamado “A cook’s tour”, do canal Food Network. No Travel Channel, comandou “Anthony Bourdain: No reservations”, que recebeu dois prêmios Emmy. Estreou na CNN em 2013, na série “Sem Reservas”, que teve 11 temporadas. O chef e apresentador foi encontrado morto em um quarto de hotel na França em 2018.
Fonte: viagemeturismo