O fim de ano chegou e logo surge a polêmica: colocar ou não uva passa nas refeições? O ingrediente é alvo de protestos e elogios. Mas você sabia que é possível passarmos a gostar de alimentos que antes rejeitávamos?
Em geral, o que pode acontecer é algo comum: passar muito tempo renegando certos sabores até provar e perceber que não são tão ruins assim.
As papilas gustativas são as responsáveis por essas alterações junto ao olfato e às experiências psíquicas, culturais e do ambiente em que vivemos.
Tudo começa na infância. A criança que é apresentada a alimentos de diversos sabores, diferentes texturas e temperaturas tem menor probabilidade de se tornar um adulto com grande seletividade:
- Durante a fase de introdução dos alimentos na primeira infância, quando a criança deixa o leite, é comum perceber um processo adaptativo e primitivo de testar alimentos que lhe tragam prazer e sensação de segurança.
- Mas se a família percebe que o bebê não gostou da comida e não apresenta mais esse sabor, forma-se uma repulsa até a fase adulta, o que eventualmente é chamado padrão infantil de alimentação, o famoso paladar infantil.
- A condição é modificável, como um treino para reduzir a dificuldade em provar novos sabores e novas texturas de alimentos.
O poder das memórias
As papilas gustativas, responsáveis pela identificação de sabores, modificam-se durante toda a vida.
- Em recém-nascidos: parecem programados a aceitar alimentos que lhe tragam nutrição adequada. Doces são precocemente reconhecidos como prazerosos e representam importante fonte de calorias essenciais à vida e os salgados têm sua importância no suprimento de sais minerais.
- Na infância: crianças apresentam enorme plasticidade em suas preferências, permitindo que aprendam a preferir alimentos presentes em sua cultura, assim como relacionados aos aspectos do modo de preparo do ambiente onde habitam.
Além da boca, o nariz tem um papel importante no processo de aceitação de alimentos. O olfato nos conecta a sensações ainda mais primitivas de estímulos prazerosos e desagradáveis.
Enquanto as papilas gustativas da língua nos trazem à consciência os sabores doce, amargo, azedo, salgado e umami, o olfato compõe uma gama infinita de sensações e memórias, algumas delas que nos remetem a aspectos primitivos de sobrevivência e prazer. Fabio Pupo Ceccon, otorrinolaringologista
- O olfato é considerado um sentido mais primitivo, com suas fibras e conexões neurais ligadas a áreas de memória e prazer em nosso cérebro.
- É por isso que é importante estarmos sempre abertos a experimentar antigos sabores que não gostávamos ou mesmo novos.
- Nossas experiências vividas a cada dia podem modificar os gostos, e o que antes era ruim pode ser lembrado como algo agradável pelo que vivemos naquele momento, não obrigatoriamente pelo sabor em si.