O segundo ano de The White Lotus chegou ao fim no último domingo (11), com o episódio mais longo da temporada. Aguardadas respostas, buscadas desde os primeiros minutos na Sicília, foram finalmente dadas, enquanto a trama se estabeleceu como uma das mais interessantes de 2022.
Vencedora de 10 prêmios no Emmy Awards por sua primeira temporada, a produção se distanciou dos cenários quentes do Havaí vistos anteriormente e direcionou sua atenção para as deslumbrantes paisagens da Itália, em um novo hotel da franquia White Lotus
Utilizando uma contínua mescla entre a beleza local e o estranhamento, um desconforto contínuo toma conta de todos os capítulos da trama. Há algo à espreita. Dos personagens vistos no primeiro ano, apenas Tanya, interpretada por Jennifer Coolidge, retorna para continuar a sua história. Agora, ela tenta desfrutar o amor de Greg (Jon Gries) enquanto enfrenta uma turbulenta viagem.
Logo no início, o público é introduzido a um novo mistério. Não só um, mas alguns corpos surgem na praia em frente a um dos edifícios mais caros da Itália. Mesmo com o enigma pela frente, a apresentação de inusitados arcos de personagens singulares segura a história sem a necessidade de urgência por grandes revelações a cada avanço.
The White Lotus: Onde a 3ª temporada vai se passar?
Durante a nova temporada da antologia, o criador Mike White faz questão de explorar as falhas de relacionamentos amorosos, com protagonismo de Ethan (Will Sharpe) e Harper (Aubrey Plaza) que supostamente têm um relacionamento calcado na honestidade, em contraponto à união de Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy), que a princípio estão envolvidos em uma redoma calorosa de paixão e futilidade.
O caminhar da trama questiona a maneira como o sexo é visto por esses e outros indivíduos, colocando o desejo carnal como a manifestação de suas maiores ambições ou medos. Ao fim, o realizador entrelaça os dois casais em um emaranhado de situações intensas, que não finalizam a desconstrução dos contratos sociais, mas flexibiliza qualquer sintoma burocrático em nome do amor (ou algo próximo a ele). Como Daphne expõe durante o último capítulo, nem sempre é preciso saber de tudo para amar alguém, essa busca incessante pelo todo pode acabar com o mistério dos apaixonados.
A trama ainda se deleita com famílias disfuncionais, como é o caso de Bert, Dominic e Albie, que apresentam um complexo geracional da relação destes homens com mulheres que estão ao seu entorno. Mesmo tentando se aproximar de um arquétipo de bom moço e quebrar problemáticas da masculinidade, até mesmo o mais jovem da família Di Grasso se mostra pouco disposto a deixar de lado algumas heranças de seu pai e avô.
Durante 7 episódios, enquanto assistimos belos corpos nos diferentes e estonteantes espaços da Sicília, a trama mergulha ainda mais nas falhas destas pessoas que, teoricamente, tem tudo o que inúmeras pessoas buscam por toda a vida: dinheiro, tempo, amores e uma vida extremamente luxuosa.
O interessante está na forma como esses indivíduos são desconstruídos a partir de um emaranhado de situações constrangedoras, cínicas, e que só provam que a humanidade e a mesquinharia de cada um andam lado a lado. Nessa toada, torna-se fascinante acompanhar a vida e os tropeços de pessoas que não se importam com gastos, que acreditam que o dinheiro pode resolver qualquer problema, pois há sempre uma nova camada a se explorar.
A beleza, que sempre está em primeiro lugar na vida dos personagens e na própria estética da série, se torna a prioridade em relações que envolvem segredos, inveja, traições e uma vontade intensa de manter as máscaras. Todos estão em busca de algo que suas fortunas não supriram.
A todo instante, a narrativa tenta mostrar que estar nesse paraíso europeu não é sinônimo de felicidade. Até mesmo os personagens que orbitam fora deste universo da riqueza, pois estão a trabalho de algum ricaço, seguem essa órbita. Mesmo que em pontas opostas e objetivos totalmente diferentes, Portia e Jack são excelentes exemplificações da desesperança da juventude que está inserida neste universo bilionário.
Para o elenco italiano, ainda temos a preciosa adição de Lúcia (Simona Tabasco), Mia (Beatrice Grannò) e Valentina (Sabrina Impacciatore). Enquanto as duas primeiras estão em uma missão obstinada por sucesso e riqueza, para deixarem a vida que levam de lado, a última passa por uma jornada de descobrimento – em que a rigidez de sua personalidade floresce quando finalmente se liberta de travas sexuais e afetivas.
Em consonância com o roteiro, que aos poucos leva a audiência ao pico de suspense e mistério no derradeiro desfecho da temporada, o trabalho de fotografia liderado pelo mexicano Xavier Grobet coloca o público nas paisagens mais impactantes da Sicília, com referências ao cinema italiano, como no episódio que se inspira em uma cena de A Aventura, de Michelangelo Antonioni.
Ao fim, como na primeira temporada, todos os arcos entram em rota de colisão. Todos os hóspedes do White Lótus que acompanhamos chegam ao ápice de suas tramas de uma maneira hipnotizante e, claro, densa. Como Mike White compartilhou em recente entrevista, a produção “aborda o mal-estar das pessoas ricas e esse tipo de busca por significado quando você está apenas relaxando em uma piscina infinita.”
Já renovada para a terceira temporada, The White Lotus deve retornar às listas de melhores séries do ano e, provavelmente, disputar algumas estatuetas de ouro no Emmy novamente. Nesta semana, o projeto já emplacou indicações no Golden Globe 2023 – e assim deve seguir por toda a temporada de premiações.
Fonte: adorocinema.com