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Turmalina Paraíba: uma das gemas mais caras do mundo é brasileira

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Este é o 24º texto do blog Deriva Continental, escrito por Lauro Cézar Montefalco de Lira Santos, da Universidade Federal de Pernambuco, e Guilherme dos Santos Teles, da Universidade Federal de Campina Grande.

O Brasil é protagonista no fornecimento de recursos minerais para a indústria. Basta ver os sucessivos recordes anuais nas exportações de petróleo, ouro e minério de ferro. Já no mercado de gemas (popularmente conhecidas como “pedras preciosas”,), o Brasil sempre foi inovador na produção de águas-marinhas, esmeraldas, ametistas, diamantes, topázios e safiras. Elas são utilizadas na produção de jóias de alto padrão desde a época do Brasil império, com destaque para as gemas de Minas Gerais encontradas nos vales dos rios Doce, Araçuaí e Jequitinhonha.

O município de Salgadinho, localizado no sertão do estado da Paraíba, ficou famoso internacionalmente no início da década de 1980, quando foi descoberta uma das mais belas, valiosas e fascinantes gemas que o mundo já tinha visto: a “Turmalina Paraíba”. Ela pertence ao grupo de minerais genericamente denominados de turmalinas, o que inclui minerais com enorme variabilidade de composição e de cores.  Os minerais do grupo das turmalinas apresentam-se em cristais alongados com uma base triangular. 

A Turmalina Paraíba pertence ao  subgrupo elbaíta, e destaca-se pela cor azul néon (podendo variar para verde ou lilás néon).  Veja alguns exemplos abaixo.

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(a) Exemplares de elbaítas coloridas, apresentando hábito prismático trigonal e estrias longitudinais características – extraído de Trinchillo et al. (2015). (b) Modelo cristalográfico da turmalina elbaíta com vista a partir da sua seção basal triangular. (c) Modelo tridimensional da estrutura cristalina da turmalina elbaíta. (mindat.org e Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert. /Reprodução)

A Turmalina Paraíba possui uma fórmula química bem complexa, com quantidades consideráveis de elementos incomuns na crosta terrestre, como lítio, boro, cromo e flúor. O intenso azul turquesa e o brilho “neon” ou “elétrico” são diferenciais que fazem dela uma gema excepcional e única no mundo.  A variação de cor entre os exemplares normalmente depende de elementos químicos denominados cromóforos. Altas concentrações (acima de 2%) de cobre são responsáveis pela sua cor azul peculiar.

Foto da Turmalina Paraíba.
Exemplar de Turmalina Paraíba, com sua cor azul turquesa característica (Robert Weldon/GIA; courtesy of David Bindra, B&B Fine Gems./Reprodução)

A Turmalina Paraíba (assim como outras variedades de turmalinas) é encontrada em pegmatitos graníticos: rochas de origem ígnea  compostas por minerais de grande tamanho, centimétrico a decimétrico. Em geral, os pegmatitos ocorrem em veios ou diques que alcançam metros de extensão; eles são conhecidos por hospedar minerais exóticos, muitos deles com potencial para aproveitamento – como as gemas.

Cristais de turmalina Paraíba, associadas a quartzo e albita.
Agregado de cristais de turmalina elbaíta em pegmatito granítico – extraído de Beurlen et al. (2011). (Beurlen et al.,2011/Reprodução)
Foto de 8 turmalinas.
Cristais lapidados de Turmalina Paraíba com teores variados de cobre, responsáveis pela variação dos tons de azul – extraído de Katsurada et al. (2019). (Robert Weldon/GIA; courtesy of Gerhard Becker./Reprodução)

A Turmalina Paraíba é rara e só é encontrada na Província Pegmatítica da Borborema, situada entre os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, além da Nigéria e Moçambique, na África. 

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Mapa geológico com a indicação da área de abrangência da Província Pegmatítica da Borborema. Os pegmatitos graníticos onde a Turmalina Paraíba é encontrada estão representados pelas estrelas vermelhas – modificado de Soares (2004). (Modificado de Soares (2004)/Reprodução)

A Província Pegmatítica da Borborema possui mais de 750 pegmatitos identificados. Muitos deles representam reservas estratégicas de lítio, berílio, bismuto, nióbio e tântalo, inclusive alguns foram explorados desde a Primeira Guerra Mundial.

As rochas que compõem essa província foram formadas na convergência entre os continentes sul-americano e africano, durante a formação do Supercontinente Gondwana há aproximadamente  510  milhões de anos atrás. Isso explica a ocorrência da Turmalina Paraíba nos dois lados do Atlântico.

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Reconstituição geográfica-geológica da disposição dos continentes sul-americano e africano mostrando a distribuição dos depósitos de Turmalina Paraíba (estrelas vermelhas) no momento de sua formação. (Modificado de Soares (2004)/Reprodução)

 A distribuição da Turmalina Paraíba nos pegmatitos  ocorre comumente na zona intermediária de cristais coloridos de elbaíta, que possuem um núcleo rosa a vermelho (rico em alumínio e manganês) e borda verde a verde escura (rica em ferro e magnésio). Isso indica que a Turmalina Paraíba se formou durante os últimos estágios de cristalização do magma que deu origem aos pegmatitos mineralizados, numa condição em que boa parte do ferro e magnésio havia sido consumida na cristalização de outras variedades de turmalina – como schorlita e dravita, menos apreciadas pelo mercado joalheiro.

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(a) Contato entre o pegmatito Capoeira – único produtor da Turmalina Paraíba em atividade no Brasil – e sua rocha hospedeira, um metaconglomerado. Grandes cristais de turmalina preta (schorlita) ocorrem próximos à zona de contato. (b) Exemplar de elbaíta com variação de cores associada à mudança da composição química. A seta amarela indica uma porção reliquiar de Turmalina Paraíba (PT) – extraído de Beurlen et al. (2011). (Modificado de Soares (2004)/Reprodução)

Atualmente, a maioria das minas de Turmalina Paraíba no Brasil estão exauridas a única ainda em operação está localizada no município de Parelhas (pegmatito Capoeira), Rio Grande do Norte. As turmalinas encontradas na Nigéria e Moçambique, apresentam em geral  qualidades gemológicas inferiores às encontradas no nordeste brasileiro. As gemas brasileiras são reconhecidas por laboratórios internacionais como Gemological Institute of America e Swiss Gemmological Institute.  Dependendo da qualidade da gema, o quilate ( 0,2 gramas) da Turmalina Paraíba pode variar de alguns milhares a centenas de milhares de dólares. Um pingente, brinco ou anel de ouro cravejado com Turmalina Paraíba pode atingir valores superiores a US$600.000 (equivalente a R$3 milhões). 

O Brasil destaca-se então como o principal fornecedor de uma das mais belas e valiosas pedras preciosas já encontradas na Terra.

Fontes:

Beurlen, H., Moura, O. J. M., Soares, D. R., Da Silva, M. R. R., Rhede, D., 2011. Geochemical and Geological Controls on the Genesis of Gem-Quality “Paraíba Tourmaline” in Granitic Pegmatites from Northeastern brazil. The Canadian Mineralogist 49, p. 277-300.

Katsurada, Y., Sun, Z., Breeding, C. M., Dutrow, B. H., 2019. Geographic origin determination of Paraíba Tourmaline. Gems and Gemology 55, p. 648-659.

Soares, D. R., 2004. Contribuição a petrologia de pegmatitos mineralizados em elementos raros e elbaítas gemológicas da Província Pegmatítica da Borborema, NE-Brasil. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Pernambuco, 286 p.

Soares, D. R., Beurlen, H., Da Silva, M. R. R., Gonzaga, F. A. S., Santos Filho, J. I., Oliveira, H. B. L., 2018. Variedades Gemológicas de Minerais da Província Pegmatítica da Borborema, NE do Brasil: Uma Síntese. Estudos Geológicos 28(1), p. 56-71.

Trinchillo, D., Pezzota, F., Dini, A., 2015. The Pederneira Mine. The Mineralogical Record 46(1), 138 p.

Agradecimentos: Dr. Dwight Rodrigues Soares (professor do IFPB, campus Campina Grande) e Josenildo Isidro Santos Filho (graduando em Engenharia de Minas da UFCG).

Fonte: abril

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