Fazia muito tempo que uma edição do Oscar não tinha tantas categorias indefinidas. No próximo domingo (2), muitos anúncios de vencedores podem pegar os espectadores de surpresa, visto que há disputas acirradas para Melhor Filme, Atriz e Roteiro Original, só para citar três páreos duros. Já em outras categorias, há favoritos evidentes, como Adrien Brody (O Brutalista) em Ator, Zoe Saldaña (Emilia Pérez) em Atriz Coadjuvante e Conclave em Roteiro Adaptado.
Independentemente de quem vai levar estatueta para casa, a verdade é que o último ano foi recheado de lançamentos interessantes, da comédia ao drama, passando pela ficção científica, pelo terror, pelos documentários e pelas animações. Nesse amplo universo, existem aqueles filmes que valem a nossa torcida, mesmo que as chances de premiação sejam remotas.
Aqui vão cinco filmes já avaliados por esta editoria de Cultura que estão na disputa e mereciam mais reconhecimento.
A Verdadeira Dor
Concorre a Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante (Kieran Culkin), categoria em que é o favorito.

“Trata-se de um pequeno grande filme, cheio de sutilezas e com pétalas que vão se abrindo a cada interação entre os primos (vividos pelo diretor e roteirista Jesse Eisenberg e por Kieran Culkin), às vezes com ajuda dos outros participantes da excursão pelos campos de concentração da Polônia. Não chega a ser o Os Rejeitados dessa temporada de Oscar. A Verdadeira Dor é mais singelo e passageiro do que o longa de Alexander Payne com Paul Giamatti no papel principal, que foi o representante da ternura na premiação do ano passado. Mas entre um Papa intersexo aqui e um traficante operado e desafinado acolá, a existência dessa história tão íntima de Eisenberg sobre a amizade de dois primos se reconectando na Polônia acaba sendo muito salutar.” Leia a resenha completa.
A Semente do Fruto Sagrado
Concorre a Melhor Filme Internacional, mas tem bem menos chance do que Ainda Estou Aqui e Emilia Pérez.
“Com quase três horas de duração, A Semente do Fruto Sagrado é o ponto alto da filmografia do cineasta Mohammad Rasouluf e um dos títulos mais impressionantes para revelar as profundezas do regime iraniano hoje. O dramático conflito entre o pai, a mulher e as duas filhas explica como o totalitarismo se constrói a partir de casa, em pequenos detalhes que levam ao silêncio, às regras não escritas e a uma cumplicidade venenosa com o sistema. O roteiro é baseado em símbolos e metáforas muito sugestivas que guiam o espectador sem a necessidade de enfatizar ou forçar o drama, permitindo também que a intriga tenha o ritmo e a intensidade que, em alguns casos, falta no mais premiado cinema iraniano das últimas décadas.” Leia a resenha completa.
Wallace & Gromit – Avengança
Concorre a Melhor Animação e venceu o BAFTA (o Oscar britânico) na categoria, mas enfrenta forte concorrência de Robô Selvagem, do sucesso Divertida Mente 2 e do fenômeno da Letônia Flow (que também poderia estar nesta matéria).
Nesta animação disponível na Netflix cabe ao cachorro o papel de grande herói. É ele quem alerta o dono dos riscos de substituir o trabalho da humanidade por uma máquina alimentada por inteligência artificial. O tema é um prato cheio para um debate que envolve o próprio futuro de estúdios como a Aardman, que desde 1989 traz a dupla Wallace e Gromit à vida por meio da arte do stop-motion. (…) A presença de Wallace & Gromit – Avengança no Oscar é um lembrete para que a indústria não deixe de valorizar artistas que colocam a mão na massa. Afinal, uma das coisas mais impressionantes no stop-motion é conseguir ver as digitais dos escultores nos bonequinhos que se mexem na tela. Leia a resenha completa.
Setembro 5
É o azarão na categoria Melhor Roteiro Original, que só tem filmaços: Anora (o favorito), O Brutalista (que corre por fora), A Substância e A Verdadeira Dor.
Setembro 5 disseca o trabalho de um grupo de repórteres esportivos da rede ABC que, por algumas horas, deixou de fazer jornalismo esportivo para transmitir ao vivo um atentado com gravíssimas consequências humanas e geopolíticas (no dia 5 de setembro de 1972, em Munique, em plenos Jogos Olímpicos, um grupo terrorista palestino – Setembro Negro – sequestrou e assassinou 11 atletas israelenses). Estamos diante de um thriller jornalístico cativante. Um bom thriller que se apoia em abundante documentação e emocionantes testemunhos reais: os dos próprios jornalistas da ABC que, no meio de uma situação extrema, tiveram de tomar decisões com claras implicações éticas. (…) Num momento de crise do jornalismo, Setembro 5 é um filme necessário. E é um dos principais lançamentos do ano. Leia a resenha completa.
Robô Selvagem
Concorre a Melhor Animação, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som, com chance em todas as categorias.
O longa é baseado em Wild Robot, livro publicado por Peter Brown em 2016. A obra foi um sucesso imediato no exterior e virou uma série de quatro livros. Essa fábula encantadora que fala sobre ter coração, cuidar dos outros, servir e proteger o planeta, e que usa referências do naipe de O Livro da Selva e O Pequeno Príncipe, não é uma má escolha para assistir com os pequenos. O filme tem ritmo, tem humor e levanta questões interessantes sem dar nenhuma aula magna. O robô Roz quer cumprir o seu papel de servir num contexto estranho e dá sentido à sua existência ao ultrapassar os limites impostos pelos seus programadores. É aquela velha história da Inteligência Artificial que passa a ter autoconsciência e sentimentos. Leia a resenha completa.
Fonte: gazetadopovo