Sophia @princesinhamt
Turismo

‘História Negra na Liberdade: Endereços que Preservam a Memória Cultural’

Grupo do Whatsapp Cuiabá

É bem provável que ao pensar sobre o bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, o que venha à mente seja a Rua Galvão Bueno, como as lanternas de estilo japonês (suzurantos) e o portal vermelho de nove metros (torii) no começo do Viaduto Cidade de Osaka.

Além da arquitetura japonesa, é óbvio associar a região com feiras, restaurantes, mercadinhos e galerias de produtos geek, mas o bairro já teve muitas outras caras. 

Os primeiros imigrantes japoneses chegaram por volta de e a Liberdade só começou a tomar a forma que conhecemos hoje na década de 1970, quando o era transformá-la em um bairro aos moldes de Chinatown, em Nova York.

E ainda antes da transformação em ponto turístico e centro de cultura japonesa, a região não se assemelhava à imagem que temos dela hoje. Nos séculos 18 e 19, o bairro abrigava uma grande comunidade de pessoas negras escravizadas, além de espaços de tortura dos cativos.

A Praça da Liberdade, por exemplo, onde acontece a tradicional Feira aos fins de semana, era conhecida como Largo da Forca. Entre 1765 e 1874, pessoas condenadas à pena de morte eram enforcadas em público ali; muitas das condenações eram de escravizados que tentaram fugir. Um pelourinho também existia no local.

Abaixo, você confere outros endereços que contam a história negra da Liberdade:

Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados

Em 20 de setembro de 1821, o soldado negro Francisco José Chagas, conhecido como Chaguinhas, foi condenado à forca após liderar uma revolta entre cabos contra atrasos no pagamento dos salários em Santos

Conta-se que no momento da execução, a corda rompeu três vezes e a população admirada clamou por “liberdade!” – uma das explicações possíveis para o nome do bairro. Chaguinhas, no entanto, não foi perdoado e foi morto a pauladas.  

Uma cruz foi erguida onde Chaguinhas morreu e se tornou um espaço de peregrinação e rezas. Tempos depois, em 1887, a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados foi construída no local.

Onde? Praça da Liberdade, 238.

Igreja Santa Cruz da Alma dos Enforcados, São Paulo, São PauloIgreja Santa Cruz da Alma dos Enforcados, São Paulo, São Paulo
A Igreja Santa Cruz da Alma dos Enforcados foi construída em homenagem a Chaguinhas, soldado negro que foi um bastião da liberdade  (Rodrigo Tetsuo Argenton/)

Capela dos Aflitos

O enterro dos condenados à morte na forca, dos escravizados e das pessoas indigentes era feito perto do Largo da Forca, no Cemitério dos Aflitos, que funcionou de 1775 até 1858, quando o Cemitério da Consolação foi inaugurado. 

A Capela dos Aflitos, tombada em 1978, é a única estrutura que sobrou do Cemitério. Chaguinhas foi enterrado no local e se tornou padroeiro da igreja, mas não pode ser chamado de santo porque não foi canonizado. Ainda assim, uma missa em sua homenagem sempre é rezada no dia 20 de setembro, quando foi morto.

A Capela passa despercebida, afinal está no final de uma rua sem saída, acuada por prédios e com uma fachada deteriorada. 

Em 2019, nove ossadas do século 18 foram descobertas durante a construção de um prédio na Rua Galvão Bueno, perto da Capela dos Aflitos. Diante da descoberta, foi determinada a criação do Memorial dos Aflitos no local, mas a construção ainda não avançou por divergências sobre o projeto. 

Onde? Rua dos Aflitos, 70.

Capela dos Aflitos, São Paulo, São PauloCapela dos Aflitos, São Paulo, São Paulo
A Capela dos Aflitos fazia parte do Cemitério dos Aflitos, onde escravizados eram enterrados (Gabrielagk/Wikimedia Commons)

Estátua de

Deolinda Madre – nome de batismo de Madrinha Eunice – é um símbolo de ativismo negro e feminino. Em 1973, a sambista fundou a Escola de Samba Lavapés Pirata Negro, a mais antiga de São Paulo ainda em atividade.

Madrinha Eunice nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, em 1909 e se mudou para a capital aos 12 anos. Sempre morou no bairro da Liberdade e era chamada de “madrinha” porque batizava crianças – foram mais de 40 ao longo da vida. 

A matriarca do samba paulistano foi uma das primeiras mulheres a estar à frente de uma escola de samba em São Paulo e ainda teve papel importante na luta pela oficialização do carnaval na cidade.

A estátua em sua homenagem foi inaugurada em 2022. Trata-se de uma escultura de bronze tem 1,70 de altura e retrata Madrinha Eunice dançando com turbante, saia rodada e colares.

Onde? Praça da Liberdade.

Escultura Madrinha Eunice, Liberdade, São PauloEscultura Madrinha Eunice, Liberdade, São Paulo
Madrinha Eunice foi pioneira no samba paulista com a fundação da Escola de Samba Lavapés Pirata Negro (Rovena Rosa/Wikimedia Commons)

Leia tudo sobre São Paulo

Fonte: viagemeturismo

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.