A Justiça do Trabalho julgou mais de 400 mil ações de assédio moral e sexual entre 2020 e 2023. No período, houve um aumento de 44,8% nos processos sobre assédio sexual. São, em média, 6,4 mil ações relacionadas a assédio no trabalho por mês. Apenas esses dados justificam o tema do meu artigo de hoje.
O tema da diversidade com foco em mulheres em cargos de liderança e em setores predominantemente masculinos, como a tecnologia e a política, tem sido uma bandeira importante na minha carreira nos últimos anos. E a questão do assédio, uma das minhas maiores preocupações.
Não vou entrar em casos específicos, embora a pauta tenha voltado à tona nas últimas semanas – e deixo aos veículos de comunicação, que são fontes confiáveis, dar a cobertura devida aos últimos acontecimentos. Mas quero aproveitar o momento para falar sobre alguns pontos importantes que, muitas vezes, passam despercebidos quando algum caso de assédio ganha destaque.
O primeiro é sobre ROMPER O SILÊNCIO.
Como é difícil criar ambientes de trabalho seguros, receptivos e acolhedores que incentivem mulheres a romper o silêncio em um caso sobre assédio! Vergonha, medo e solidão são sentimentos que vêm à tona nesses casos. E eles são tão fortes… Por que será que se passam meses, anos, para alguém ouvir e, mais que isso, agir sobre casos de assédio?
Quantos são coniventes? Quantos homens e mulheres que, mesmo defendendo a causa, ouvem mas não se envolvem, não ajudam a romper o silêncio.
A famosa “síndrome da impostora” que atinge as mulheres no ambiente de trabalho é reforçada na situação de assédio. No fim, quem passa por isso acaba com a saúde mental afetada. A autoestima e autoconfiança são abaladas e é difícil sair desse ciclo.
O segundo é sobre a frase “ISSO É MENTIRA, UM ABSURDO”.
Quando o ataque é a melhor defesa, tanto as vítimas quanto quem as apoiam são desqualificados. No momento em que a vítima está mais fragilizada, ainda precisa lidar com o fundo do poço. Julgamento, dúvida, superexposição são sentimentos difíceis de lidar. “Eles tem um histórico relacional controverso”, dizem uns. “Esse é um modus operandi”, dizem outros.
Nos últimos anos, vimos julgamentos exemplares que condenaram agressores, colocaram luz sobre situações recorrentes de abusos sexuais na indústria cinematográfica, no esporte, em instituições, em empresas. Mas, ainda assim, os casos continuam acontecendo! O que me leva ao próximo ponto:
Por que você ACHA QUE TEM DIREITO?
Por que algumas pessoas se acham no direito de objetificar mulheres no ambiente de trabalho? Por que acham que queremos receber elogios sobre nossa aparência, corpo, cheiro, roupa no dia-a-dia. Não precisamos!
Já temos que lutar pelo nosso espaço com mais capacitação, mais horas de dedicação, mais provas do nosso valor, não precisamos de outras lutas. É cansativo. Somente parem.
Está arraigado na nossa cultura machista que é normal comentar sobre uma mulher bonita na roda dos amigos, mas não é normal! Não é normal as mulheres rirem desses comentários também. Não é mais aceitável. Isso faz parte de uma cultura de assédio na qual cada um de nós temos que nos esforçar para romper o ciclo.
Estamos evoluindo como sociedade. Mas ainda temos muito por fazer. E aqui chego a meu último ponto:
NÃO É UMA LUTA DE GÊNERO. Muitos homens têm lutado por essa causa, têm apoiado, da mesma forma que muitas mulheres ainda não conseguem enxergar que há um problema nesse tipo de relação. Temos, juntos, que perceber que há problemas nos detalhes, na sutileza do que eles falam e como agem – e também nos motivos que levam as mulheres a não falar. E para terminar, eu somo a minha à voz que diz: “Your story matters” (“Sua história importa”). Importa para mim também. #MeToo
Fonte: gazzconecta