A dipirona é um medicamento amplamente comercializado no Brasil, mas proibida nos Estados Unidos e em parte da Europa. Criado em 1920, o produto ajuda a aliviar a febre e a dor.
Mais de 215 milhões de doses da dipirona foram comercializados no país em 2022, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em outras partes do mundo, no entanto, a realidade é diferente. Em lugares como os Estados Unidos e uma parcela da União Europeia, o medicamento está proibido há décadas.
Por trás do veto da dipirona nesses lugares está uma controvérsia sobre um possível efeito colateral da medicação: a agranulocitose, responável por provocar uma alteração no sangue.
A doença pode ser potencialmente fatal, porque provoca uma queda na quantidade de alguns tipos de células de defesa.
A proibição da dipirona em alguns lugares do mundo
A dipirona estava amplamente disponível em boa parte do mundo até meados de 1960 e 1970, quando começaram a surgir os primeiros estudos que originaram o alerta sobre os riscos de agranulocitose.
Um trabalho, publicado em 1964, calculou que a alteração sanguínea grave acontecia em um indivíduo para cada 127 que consumiam a aminopirina — uma substância cuja estrutura é bem parecida com a da dipirona.
A partir da evidência de que o efeito colateral grave não se distingue em ambas as substâncias (aminopirina e dipirona), a agência regulatória dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), decidiu que a dipirona deveria ser retirada do mercado norte-americano, em 1977.
Pouco depois, outros países tomaram a mesma resolução, como foi o caso da Austrália, do Japão, do Reino Unido e de partes da União Europeia.
Em 1980, começaram a surgir novas evidências sobre a segurança da medicação. Os resultados do Estudo Boston encontraram uma incidência de 1,1 caso de agranulocitose para cada 1 milhão de indivíduos que usaram a dipirona.
E o uso da dipirona no Brasil?
Em 2001, a Anvisa realizou um evento chamado “Painel Internacional de Avaliação de Segurança da Dipirona”, em que foram convidados especialistas brasileiros e estrangeiros.
De acordo com a Anvisa, o objetivo do painel foi a promoção de amplo esclarecimento sobre os aspectos de segurança da dipirona.
Para explicar o motivo pelo qual o remédio não foi proibido no país, a agência regulatória brasileira, por meio de uma nota enviada à BBC News Brasil, informou que o uso do medicamento não apresentou altos riscos.
“As conclusões do referido painel foram que há consenso de que a eficácia da dipirona como analgésico e antitérmico é inquestionável e que os riscos atribuídos à sua utilização em nossa população são baixos e similares que o de outros analgésicos disponíveis no mercado”.
Fonte: revistaoeste