📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Yale, produtos químicos como PFAS podem ser causadores de metástase
  • Pesquisadores mergulharam 2 tipos de células cancerígenas colorretais em uma solução PFAS por até 7 dias; foram observadas alterações metabólicas sinalizando metástase de câncer, com aumento da motilidade celular
  • Elas tiveram uma tendência a se espalhar e penetrar nas membranas, além da capacidade de migração ter sido aumentada
  • PFAS podem provocar alterações na expressão genética e epigenéticas que podem causar inflamação, perturbação endócrina e alterações no metabolismo e na sinalização celular
  • Outra pesquisa mostra que a exposição à PFAS pode ser responsável por piorar o prognóstico de pacientes com câncer colorretal

🩺Por Dr. Mercola

Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Yale, produtos químicos como PFAS podem ser causadores de metástase. A descoberta pode até explicar porque é que os bombeiros, que muitas vezes entram em contato com o PFAS na espuma de combate a incêndios, também têm maior probabilidade de desenvolver e morrer de câncer, incluindo colorretal.

Como não se decompõem de maneira fácil no meio ambiente, os PFAS são conhecidas como “produtos químicos eternos.” Os PFAS possuem meias-vidas de 2 a 5 anos, no corpo humano. Incluindo panelas antiaderentes, tecidos resistentes a manchas e espumas de combate a incêndios, os produtos químicos PFAS são muito utilizados em produtos de consumo, devido à sua capacidade de repelir água, sujeira e óleo.

Como produtos químicos desreguladores endócrinos, sabemos que os PFAS podem afetar os hormônios e o metabolismo, interferindo na fertilidade, no crescimento e no desenvolvimento. Os PFAS também podem contribuir para o câncer, incluindo a promoção da sua propagação.

PFAS podem ser responsáveis por metástase de câncer

O ácido perfluorooctanóico (PFOA), um tipo de PFAS, é classificado como cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, enquanto o ácido perfluorooctanossulfônico (PFOS) é considerado um cancerígeno para humanos.

Devido à exposição a produtos químicos no trabalho, os bombeiros têm níveis mais elevados de PFAS nos seus corpos do que a população em geral, e também são mais propensos a desenvolver câncer colorretal. Acredita-se que cerca de 80% desses casos de câncer sejam devidos a exposições ambientais.

A autora do estudo, Caroline Johnson, Ph.D., disse professor associado de epidemiologia, “observamos os padrões que ocorrem em um grupo de pessoas expostas ou em um grupo de pessoas doentes e, em seguida, tentamos gerar uma hipótese sobre por que alguém pode desenvolver uma doença ou ter progressão da mesma.”

Para o estudo, os pesquisadores mergulharam 2 tipos de células cancerígenas colorretais em uma solução PFAS por até 7 dias. Foram observadas alterações metabólicas podendo ser sinais de metástase, com aumento da motilidade celular. “Isso não prova que seja metástase, mas eles aumentaram a motilidade, sendo essa uma característica da mesma,” disse Johnson.

Elas tiveram uma tendência a se espalhar e penetrar nas membranas, além da capacidade de migração ter sido aumentada. Segundo um comunicado à imprensa da Escola de Saúde Pública de Yale:

“Em outro experimento, pesquisadores cultivaram as células como uma camada plana e bidimensional, depois desenharam um risco no meio, separando metade das células. Quando adicionaram PFAS, as linhas celulares cresceram e migraram juntas… A análise metabolomica revelou que os esferoides estavam a produzir uma variedade de ácidos gordos, aminoácidos e proteínas de sinalização em padrões que antes eram ligados à metástase.

Os ácidos graxos de cadeia pequena, que podem proteger contra tumores e inflamações, foram regulados de maneira negativa.”

O estudo utilizou níveis de exposição ao PFAS semelhantes aos dos bombeiros e outras pessoas que aumentaram a exposição, como pessoas que vivem perto de bases militares, aterros sanitários, aeroportos e estações de tratamento de águas residuais. Pesquisadores pretendem realizar outros estudos para verificar se níveis mais baixos de exposição ao PFAS, como os que uma pessoa média pode ser exposta durante seu dia-a-dia, podem apresentar efeitos semelhantes.

A exposição ao PFAS pode piorar o prognóstico do câncer colorretal

Outra pesquisa mostra que a exposição à PFAS pode ser responsável por piorar o prognóstico de pacientes com câncer colorretal. Cada aumento nas misturas de PFAS foi ligado à um aumento de 4,67% no número de linfonodos metastáticos em pacientes com câncer colorretal.

Além disso, o número de linfonodos metastáticos em pacientes com concentrações séricas de PFOA no percentil 95 foi 27% maior do que naqueles com concentrações no nível limiar. Algumas evidências também sugerem que a exposição aos PFOS podem provocar inflamação gastrointestinal, contribuindo para a colite ulcerativa, um precursor do câncer colorretal.

PFAS podem provocar alterações na expressão genética e epigenéticas que podem causar inflamação, perturbação endócrina e alterações no metabolismo e na sinalização celular. Escrevendo na Frontiers in Toxicology, os pesquisadores explicaram: “A literatura atual sugere uma ligação entre a exposição prolongada ao PFOS, a desregulação do metabolismo lipídico, a inflamação, a disfunção do microbioma e a etiologia do câncer colorretal.”

A exposição ao PFAS aumenta o risco de câncer de tireoide

A exposição ao PFAS já foi ligada ao câncer de tireoide. Os níveis de PFAS e sua relação com diagnósticos de câncer de tireoide foram analisadas por pesquisadores. A equipe mediu os níveis de 8 PFAS, encontrando uma associação significativa, utilizando dados de 88 pacientes com câncer da tiroide e 88 controles correspondentes sem câncer da tiroide.

Conforme o estudo, “por duplicação da intensidade do ácido perfluorooctanossulfônico linear (n-PFOS), houve um aumento de 56% na taxa de diagnóstico de câncer de tireoide.” Em um subgrupo de 31 pacientes diagnosticados com câncer de tiroide 1 ano ou mais após a inscrição no estudo, outra análise foi realizada.

Incluindo ácido perfluorooctanossulfônico ramificado, ácido perfluorononanóico, ácido perfluorooctilfosfônico e ácido perfluorohexanossulfônico linear, esta análise também encontrou uma associação entre a exposição a PFOS e o risco de câncer de tireoide, bem como a exposição a vários outros PFAS.

O PFAS podem ser responsáveis pela causa de câncer por diversos motivos, como pelas alterações na epigenética, imunossupressão, estresse oxidativo e inflamação ou através de vias hormonais e metabolômicas. Alguns eventos epigenéticos provocados pela exposição ao PFAS pode “amplificar a tumorigenicidade e a progressão do câncer,” explicou a equipe, acrescentando que a supressão do sistema imunológico e a inflamação crônica também desempenham um papel:

“Em estudos epidemiológicos realizados em animais o PFOS e o PFOA foram considerados imunotóxicos. Incluindo os antígenos presentes nas células tumorais, a supressão do sistema imunológico pode afetar a resposta do corpo a antígenos estranhos. 

Demonstrando a capacidade dos PFOS de causar imunossupressão sistêmica, exposições aos PFOS estão associadas de maneira inversa à diminuição dos anticorpos anti-rubéola e anti-caxumba e à redução da resposta de anticorpos à difteria e ao tétano entre crianças. 

Por fim, o PFOS ativa receptores ativados por proliferadores de peroxissoma, contribuindo para o desenvolvimento e regulação dos cânceres da tiroide. A inflamação crônica, que pode conduzir ao desenvolvimento do câncer, associa-se à exposição ao PFOS.”

Riscos à saúde da exposição à PFAS

A exposição de PFAS também pode afetar o sistema imunológico, e evidências de estudos realizados em humanos e animais, mostram que essa exposição pode reduzir sua resistência a doenças infecciosas. Também pode ser prejudicial para a saúde da visão — uma descoberta preocupante, uma vez que os PFAS são muitas vezes encontrados em lentes de contacto.

Foi descoberto em um estuda na China que a exposição ao PFAS aumentou o risco de deficiência visual, de certo modo por induzir estresse oxidativo. “Os PFASs são pró-oxidantes comprovados e a exposição a esses poluentes emergentes provoca danos no DNA, peroxidação lipídica, geração de espécies reativas (ROS) e inibição de enzimas antioxidantes, além de desencadear cascatas de sinalização como a apoptose,” explicaram.

Os soldados expostos ao PFAS em bases militares, também sofreram de diversas doenças oculares, incluindo miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA também reconhece que a exposição ao PFAS é prejudicial e afirma que estudos científicos demonstraram que tal exposição pode causar:

Efeitos reprodutivos como redução da fertilidade ou aumento da pressão arterial em mulheres grávidas

Efeitos ou atrasos no desenvolvimento em crianças, incluindo baixo peso ao nascer, puberdade acelerada, variações ósseas ou alterações comportamentais

Aumento do risco de alguns tipos de câncer, incluindo de próstata, rim e testículo

Capacidade reduzida do sistema imunológico do organismo para combater infecções, incluindo resposta vacinal reduzida

Interferência com os hormônios naturais do organismo

Aumento dos níveis de colesterol e/ou risco de obesidade

Os PFAS também são responsáveis por acelerar alterações metabólicas que aumentam a gordura no fígado. “Essa bioacumulação,” escreveram os pesquisadores em Perspectivas de Saúde Ambiental, “com as longas meias-vidas de muitos PFAS, leva à preocupação com o potencial do PFAS de interromper a homeostase do fígado, caso continue a se acumular no tecido humano, mesmo que o uso industrial seja reduzido.”

A exposição aos PFAS pode ser a causa de inflamação e estresse oxidativo, contribuindo assim para uma variedade de doenças como obesidade, resistência à insulina, aumento do risco de doença hepática gordurosa e câncer.

Onde podemos encontrar os PFAS?

A natureza dos PFAS é o que os faz serem tóxicos. Existem mais de 9.000 PFAS, e a exposição é tão grande que os PFAS foram encontrados em 97% dos americanos. O PFAS é encontrado na água, solo, ar e alimentos. Eles estão em produtos domésticos como tecidos repelentes de manchas e água, produtos de limpeza, panelas antiaderentes, tintas e de certo modo em sua água potável.

Embalagens de fast food, sacos de pipoca para micro-ondas, caixas de pizza, entre outros, são as fontes mais comuns. Também podem ser encontrados em macarrão e molhos de tomate, sutiãs esportivos, absorventes internos e fio dental, além de algumas roupas íntimas.

Os PFAS também estão presentes em terras agrícolas, onde tem sido chamado de “desastre em câmera lenta,” devido ao uso de lodo tóxico de dejetos humanos como fertilizante. As terras de cultivo agrícola nos EUA que podem estar contaminadas com PFAS estima-se que seja cerca de 20 milhões de acres, esse é o resultado.

Para evitar alimentos cultivados contaminados com PFAS, sua melhora aposta é apoiar movimentos agrícolas sustentáveis na sua área, embora, os alimentos cultivados com lamas de esgoto contaminadas não sejam rotuladas como tal. Compre alimentos que use métodos orgânicos ou biodinâmicos seguros e não tóxicos, apenas de fontes que você conhece e confia. Consumir alimentos frescos e integrais também ajudará a reduzir a exposição a esses produtos químicos nas embalagens de alimentos.

Água filtrada também é importante para evitar PFAS. O New Jersey Drinking Water Quality Institute recomenda a utilização de carvão ativado granulado “ou uma tecnologia eficiente” para remover produtos químicos como PFOA e PFOS de sua água potável. Foi demonstrado que o carvão ativado remove cerca de 90% desses produtos químicos.

A osmose reversa também pode remover alguns, mas não todos PFAS. Você pode encontrar outras dicas úteis para reduzir sua exposição a produtos químicos no “Guia para evitar PFAS” do EWG.

Tratamentos pré-tratados ou repelentes de manchas — Desative esses tratamentos em roupas, móveis e carpetes. As roupas anunciadas como “respiráveis” são tratadas com politetrafluoroetileno, um fluoropolímero sintético.

Produtos tratados com produtos químicos retardadores de chamas — Incluindo móveis, carpetes, colchões e itens para bebês. Em vez disso, escolha materiais menos inflamáveis como couro, lã e algodão.

Fast-food e alimentos para viagem — Os recipientes são tratados.

Pipoca de microondas — Os PFAS podem estar presente no revestimento interno do saco e pode migrar para o óleo da embalagem durante o aquecimento. Em vez disso, escolha fazer pipoca no fogão “à moda antiga.”

Panelas antiaderentes e outros utensílios de cozinha tratados — Opções mais saudáveis ​​incluem panelas de cerâmica e ferro fundido esmaltado, elas são duráveis, fáceis de limpar e inertes, o que significa que não liberarão qualquer produto químico nocivo em sua casa.

Produtos de higiene pessoal contendo ingredientes de PTFE, “fluoro” ou “perfluoro,” como fio dental Oral B Glide — O banco de dados EWG Skin Deep é uma excelente fonte para pesquisar opções de cuidados pessoais mais saudáveis.