Uma equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM) em Campinas (SP), está conduzindo um programa de treinamento para profissionais que desejam trabalhar em laboratórios de biossegurança nível 3 e 4 (NB3 e NB4).
O principal objetivo é capacitar os futuros usuários do Orion, o primeiro laboratório de máxima contenção biológica do Brasil e o único do mundo conectado a um acelerador de partículas do tipo síncrotron, o Sirius. O Orion deve ficar pronto em 2026.
Os pesquisadores responsáveis por aplicar o curso se qualificaram na Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), nos EUA, que já foi responsável pela especialização de 2 mil profissionais de todo o mundo. O certificado do Orion veio no início de 2024.
O que isso quer dizer?
Laboratórios de biossegurança são instalações projetadas para trabalhar com vírus, bactérias e outros microorganismos que representam risco à saúde humana, animal ou ao meio-ambiente. Eles seguem normas rigorosas para evitar a exposição dos pesquisadores aos patógenos e a saída dessas pestinhas.
Existem quatro graus de periculosidade. No primeiro, denominado NB1, a manipulação dos patógenos pode ser realizada em bancadas ou mesas comuns, e requer apenas o uso do uniforme normal de um pesquisador: jaleco, calçados fechados, luvas e possivelmente, óculos de proteção.
As exigências de segurança vão aumentando progressivamente até alcançar o nível NB4, em que é obrigatório usar macacões de segurança inteiriços, com vedação nas botas e luvas, além de uma proteção ao redor da cabeça, parecida com um capacete de astronauta.
A roupa é equipada com mangueiras de alimentação de oxigênio e seu interior é mantido em uma pressão superior à pressão da sala. Assim, mesmo que a roupa fure, o ar sempre vai sair do traje em vez de entrar, o que mantém os vírions distantes do pesquisador.
Ao final do experimento, ainda vestido com a roupa digna da equipe de emergência da Monstros S.A., o pesquisador toma um banho químico de sete minutos, seguido de um banho pessoal já devidamente despido.
O treinamento tem etapas teóricas e práticas e ocorre em uma espécie de maquete em tamanho real, onde tudo é idêntico a um laboratório NB4 de verdade, mas não há qualquer risco biológico verdadeiro.
Na parte prática, Tatiana Ometto, especialista em biossegurança de máxima contenção biológica do CNPEM, explica que muitas vezes os cientistas chegam nervosos, assustados com a responsabilidade de trabalhar com patógenos tão barra pesada. Por isso a abordagem dos instrutores é lúdica e introduz aos poucos o funcionamento dos macacões de proteção e dos conectores de oxigênio.
Não é fácil se mexer dentro da grande vestimenta amarela. As aulas práticas começam simplesmente com o arremesso de bolinhas de tênis. Depois rolam uma pescaria miniatura, algumas partidas do jogo Operação (eles realmente brincam de médico) e o manuseio de pinças — tudo isso para aperfeiçoar as habilidades motoras no traje.
Por fim, o mais difícil: o manuseio de um líquido no interior de uma cabine de segurança. Não pode derrubar nenhuma gota. Nessa última fase, a equipe de Ometto introduz outros desafios aos trainees, como o que fazer em situações extremas, em que ocorrem vazamentos.
“Esperamos capacitar profissionais de diferentes instituições do Brasil e também de países da América Latina”, destaca a especialista, em comunicado para o CNPEM. Além disso, em entrevista à Super, ela contou que as equipes estrangeiras ficam boquiabertas com a qualidade e liderança brasileira na área.
Fonte: abril