A forma mais eficiente de transformar um negócio é pela borda, não pelo centro. Esta é a visão de Silvio Meira, cientista, professor, conselheiro de empresas e empreendedor que é referência no pensar e na aplicação de tecnologia no Brasil. Meira é cofundador do Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação nacionais, localizado em Recife (PE).
A fala do especialista se deu durante um painel no Fórum E-commerce Brasil 2024, que aconteceu no início do mês de agosto em São Paulo. Segundo Meira, a borda do negócio concentra as melhores oportunidades de renovação, porque a sobrevivência da empresa não depende dela, mas sim do que é produzido em seu núcleo. E mexer em time que está ganhando não é uma boa ideia.
“No fim do mês, tem que pagar boleto, e o marketing de hoje paga os boletos de quem faz hoje. Como você vai falar em mudar este sistema? Isso cria oposição e a chance de fracassar é de 100%. A órbita dos negócios tem oportunidades críticas que não são tratadas nem pela empresa nem pela competição”, disse.
Como exemplo de guinada na operação, ele citou a Magazine Luiza. Varejista tradicional com mais de 60 anos, a empresa foi buscar fora da loja física a transformação de seu negócio. Em 2011, criou o Luizalabs, área de tecnologia e inovação focada na digitalização do varejo.
Meira conta que, durante seis anos, o departamento não entregou resultados concretos. Pelo contrário. “O indicador era tentar, errar e criar novas possibilidades para o futuro da Magalu”. Ele, que é conselheiro da Magalu, conta que 100% do faturamento da companhia atualmente passa por esta área, e o negócio foi multiplicado por 10.
Na China, outro exemplo de transformação bem-sucedida. A Pinduoduo ultrapassou o Alibaba no final de 2023 em volume de vendas e se tornou o maior e-commerce do gigante asiático. A estratégia foi justamente “atacar as bordas”. Em vez de seguir o caminho de otimizar a eficiência operacional, a empresa criou uma nova experiência baseada em compras em grupo com o oferecimento de descontos agressivos. Trata-se de uma comunidade engajada por meio de jogos e recompensas divertidas e retroalimentada conforme suas necessidades, conquistando especialmente os consumidores mais jovens.
O papel da inteligência humana
Transformações de grande porte nas empresas demandam o uso avançado de tecnologia, mas, segundo Meira, o diferencial está na inteligência humana. “Não vai aparecer mágica vinda da inteligência artificial. Se você pegar um chatbot e pedir 10 ideias brilhantes com os seus dados, ele vai te dar. Mas, quem vai fazer as ideias vingarem são os humanos”, afirmou.
Para Silvio Meira, o desenvolvimento de inteligência aplicada ao negócio passa pela criação de estratégias únicas vindas de pessoas capacitadas. “Para quem não tem conhecimento, essas tecnologias não servem de nada. Existem milhões de empresas usando IA. Se você for procurar o que os outros estão fazendo sem saber o que você deveria fazer, onde, como, com quem e para quem não adianta. Inovação local como imitação tardia não gera diferenciais competitivos sustentáveis”, concluiu.
Fonte: gazzconecta
