No primeiro semestre de 2024, a bolsa de valores brasileira (B3) registrou a maior fuga de capital estrangeiro desde 2020. Até abril, o déficit chegou a cerca de R$ 23 bilhões – e o cenário não melhorou nos meses seguintes. No acumulado entre janeiro e junho, o saldo de investimentos internacionais ficou negativo em mais de R$ 42 bilhões.
Um dos principais motivos para a fuga de investimentos no Brasil foi o cenário de juros nos Estados Unidos. “A elevação das taxas dos títulos do tesouro americano, considerados investimentos seguros, atraiu os investidores que buscaram maior segurança e retornos mais atraentes. A perspectiva de juros altos por mais tempo nos eua também contribuiu para a saída de capital da B3”, explica Ricardo Urso, sócio-fundador do Grupo Urso, especialista em consultoria empresarial e investimentos.
A performance robusta das bolsas americanas, especialmente das empresas de tecnologia, é outro fator que diminuiu o apetite por investimentos em mercados emergentes como o Brasil. Prova disso é que as ações de big techs como Microsoft, Google e Nvidia têm atraído mais investidores devido às perspectivas de crescimento impulsionadas pela inteligência artificial.
Outro aspecto importante a ser considerado foi a condução da política econômica pelo governo brasileiro. A interferência em empresas estatais e privadas gerou instabilidade e prejudicou a confiança dos investidores. “Petrobras, Vale e Eletrobras, por exemplo, tiveram um aumento de intervenções políticas, resultando em certa incerteza sobre o ambiente de negócios no país”, acrescenta Ricardo.
Startups em crise?
A economia global tem enfrentado uma série de desafios, incluindo inflação, aumento das taxas de juros e incertezas geopolíticas. Esses fatores têm levado investidores a serem mais cautelosos, muitas vezes preferindo aplicar recursos em empresas tradicionais, que já atingiram um estágio de desenvolvimento mais avançado, em vez de apostar nas startups que, embora caracterizem-se por crescimento rápido e escalável, apresentam mais risco.
Ricardo Urso confirma que as empresas tradicionais levam vantagem nesse momento em que o mercado de investimentos estrangeiros está em baixa. “As negociações referentes ao modelo de precificação pertencem às grandes empresas e continuam com as mesmas métricas – normalmente EBTIDA x múltiplo de mercado, que varia conforme o segmento. Já as startups buscam valuation sobre projetos futuros”, explica. “Não é o fim dos investimentos em startups. As empresas atuantes em segmentos inovadores, especialmente inteligência artificial, ativos digitais e projetos disruptivos com grande escalabilidade terão muita visibilidade nos próximos meses”, pondera.
Segmentos promissores
Relatórios de instituições financeiras como o Banco Central do Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e consultorias referência como PwC, Deloitte e KPMG oferecem insights sobre a economia e o mercado. Com uma análise detalhada, é possível identificar oportunidades para o futuro próximo. Com ajuda do sócio-fundador do Grupo Urso, listamos cinco segmentos que podem se mostrar promissores no segundo semestre de 2024:
- Tecnologia: empresas tradicionais e startups de tecnologia têm recebido atenção significativa devido ao potencial de inovação e crescimento rápido.
- Agronegócio: o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas, atraindo investimentos na área de agritech e agroindústria.
- Energia renovável: com vasta quantidade e diversidade de recursos naturais no Brasil, o setor de energia solar, eólica e biocombustíveis é bastante atrativo.
- Infraestrutura: projetos de infraestrutura, como transportes, saneamento e logística, são essenciais para o desenvolvimento do país e atraem capital estrangeiro.
- Mineração: a abundância de recursos minerais como ferro, bauxita e nióbio continua atraindo o olhar dos investidores internacionais.
Fonte: gazzconecta