A palavra portuguesa sabotagem é de origem francesa. Em francês, sabot era um tamanco de madeira usado pelos trabalhadores, no início da revolução industrial (ano 1800, ou por aí, quando os teares industriais substituíram o trabalho das fiadeiras). Os tecidos, que eram produzidos pelos fiadeiros, passaram a ser fabricados em teares, em quantidades vultosas, o que barateou muito as roupas usadas pelas pessoas; mas, naturalmente, a curto prazo, levou ao desemprego dos fiadeiros (na verdade, acabou com a profissão deles).
Reagindo contra as máquinas causadoras de desemprego, alguns trabalhadores fiadeiros jogaram seus tamancos de madeira — os sabots — dentro dos equipamentos têxteis, para quebrá-los. Era a “sabotage”.
Infelizmente o progresso tecnológico gera, a curto prazo, desemprego para os que operam a antiga tecnologia, mas aumenta muito a produção e gera empregos usando a nova tecnologia, mais produtiva.
O presidente Lula está orientando a Petrobras, uma indústria tecnologicamente de ponta no Brasil, a investir gerando empregos. Na verdade, é sempre possível gerar muitos empregos. Por exemplo, 100 pessoas poderiam ser empregadas cavando um buraco durante o dia; e outras 100 empregadas tapando o mesmo buraco à noite, deixando tudo pronto para o pessoal do dia tornar a cavá-lo. Assim, 200 empregos seriam gerados; mas, infelizmente, a produção final dessas 200 pessoas seria nula — estariam cavando e tampando o mesmo buraco. Economicamente falando, a produção nula significa geração de renda nula, e o esquema todo seria uma notável bobagem. Os 200 operários teriam de ser pagos a partir de outra fonte de renda, e seria muito mais inteligente deixá-los descansando, sem cavar ou tampar nada, e pagá-los diretamente a partir desta outra fonte de renda.
Gerar empregos é importante, mas não é o objetivo central, pois o pagamento aos empregados, que não produziram um valor correspondente, exige a geração de produção e extração da renda de algum outro setor da economia.
É importante que a Petrobras não seja sabotada; produza muito, muitas e variadas fontes de energia, tecnologicamente avançadas, em consequência gerando empregos na empresa e fora dela, entre os usuários dessa energia, pois o emprego é economicamente saudável se decorrer de uma correspondente geração de produção e renda.
*Antônio Carlos Porto Gonçalves é conselheiro superior do Instituto Liberal, graduado em engenharia industrial e metalúrgica pelo instituto militar de engenharia e doutor em economia pela Universidade de Chicago.
Fonte: revistaoeste