Uma produtora gerida por filiados aoorganizou a celebração do Dia do Trabalho em São Paulo. O evento foi criticado publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, a Veredas Gestão Cultural, com sede no Rio de Janeiro e capital social de R$ 15 mil, captou R$ 3 milhões da Petrobras para promover shows na data, inclusive para o ato planejado por centrais sindicais na Neo Química Arena.
A empresa recebeu incentivo via Lei Rouanet para realizar um grande show na capital paulista, “com sambistas de renome internacional”, e espetáculos regionais em outras 19 cidades do Estado. Entre os artistas propostos estavam Paulinho da Viola, Diogo Nogueira, Maria Rita, Quintal do Pagodinho e Lauana Prado, além da participação especial da escola de Samba Mocidade Alegre.
No entanto, os artistas que se apresentaram foram Paula Lima, Dexter, Afro-X, Pagode dos Meninos e a Bateria Show da Gaviões da Fiel. Em discurso, Lula expressou insatisfação com o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT-SE), e afirmou que o ato estava “mal convocado”.
“Vocês sabem que ontem eu conversei com ele [Macêdo] sobre esse ato e disse para ele: ‘Ô Márcio, o ato está mal convocado’”, disse Lula. “O ato está mal convocado, nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar.”
A Veredas é administrada por Cláudio Jorge da Silva Soares e Angela da Silva Leonicio, ambos filiados ao PT, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Soares concorreu a vereador no Rio de Janeiro em 2004 e trabalhou nos gabinetes de Benedita da Silva e Wadih Damous, enquanto Angela atuou em campanhas para os mesmos políticos.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), responsável pela organização do evento, afirmou que as centrais sindicais participaram como convidadas.
A CUT e demais centrais sindicais não contrataram a Veredas Gestão Cultural para realização de ato no 1º de maio de 2024, informou a assessoria da CUT à Folha.
“A empresa possuía um projeto sobre trabalho e cultura, que nos foi apresentado, assim como a outras entidades, para participar como convidados do Festival realizado no 1º de Maio de 2024 na cidade de São Paulo”, acrescentou a nota. “A CUT e as demais centrais aceitaram o convite.”
Ainda segundo a assessoria, os dirigentes da CUT não conheciam os donos da Veredas.
Questionada pela reportagem sobre a ausência dos artistas prometidos para o evento, a CUT afirmou não ter participado da seleção da Veredas nem da captação de recursos.
“A captação de recursos e a organização do Festival Cultura e Direitos foram de responsabilidade da empresa Veredas”, disse. “O ato político ocorrido antes do início do festival, que reuniu mais de 15 mil lideranças dos movimentos sindical e popular, foi um sucesso, com profundo debate sobre a realidade brasileira.”
A Petrobras explicou que o patrocínio visou a “reforçar sua imagem como apoiadora da cultura brasileira” e que “não tem ingerência sobre a captação de recursos por parte do patrocinado”.
“O patrocínio foi realizado por meio do Programa Petrobras Cultural, dentro do eixo temático Festivais e festas Populares, e foi efetivado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, destinando o valor de R$ 3 milhões”, disse a estatal. “Esse foi o primeiro contrato firmado com a Veredas Gestão Cultural.”
Procurado pela Folha, Cláudio Soares afirmou que “o Festival Cultura e Direitos é um projeto que abrange diversas atividades, não apenas o 1º de Maio em São Paulo, mas também em outros municípios”.
Sobre a ausência de artistas mencionados na proposta apresentada ao Ministério da Cultura, ele afirmou à reportagem que essas contratações estão sempre vinculadas à disponibilidade de agenda, assim como o perfil do público local.
“Mas acredito que conseguimos levar artistas que representam bem a pluralidade da música brasileira”, acrescentou.
Soares disse que partiu dele a proposta de parceria com as centrais sindicais. “A iniciativa foi minha”, afirmou. “Pois é absolutamente impossível fazer um evento destinado aos trabalhadores sem a presença dos mesmos.”
Questionado se a filiação ao PT ajuda nessa conexão, o empresário afirmou que às vezes até atrapalha. “Tenho mais facilidade em me relacionar com os governos de outros partidos do que com o PT”, disse. “O PT é uma opção ideológica, não um trampolim profissional.”
“Mais do que empresário, sou um militante da cultura e de suas potencialidades como instrumento de transformação social”, concluiu.
Fonte: revistaoeste