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Política

Polêmica do Livro O Avesso da Pele: Descubra o Debate por Trás da Obra

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Vencedor do Prêmio Jabuti, na categoria “Romance Literário”, em 2021, o livro O Avesso da Pele, de Tenório, foi indicado para compor o Programa Nacional do Livro Didático (), em setembro de 2022. Com isso, escolas públicas de todo país podem solicitá-lo, para entregar aos alunos do ensino médio. 

A portaria que oficializou a decisão de incorporar o material foi assinada por Gilson Passos de Oliveira, à época vinculado à Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. 

Governadores de três Estados brasileiros mandaram recolher o livro das escolas públicas nesse começo de 2024. O motivo? O texto traz consigo conteúdo pornográfico.

Além disso, o livro mostra linguagem imprópria, como palavrões. O texto também trata sobre o consumo de drogas e descreve os personagens como pessoas que buscam “diversão num baseado ou em cocaína”.

Ao longo de suas 200 páginas, O Avesso da Pele conta a história de Pedro, um homem negro que enfrenta diariamente os problemas do racismo. Henrique, seu pai, foi morto em uma abordagem policial, “enquanto voltava para casa feliz, depois de um dia de trabalho na escola onde lecionava”.

Trecho do livro 3
O governador do Mato Grosso do Sul, (PSDB), também mandou recolher o material das escolas do Estado sul-matogrossense | Foto: Divulgação/Companhia das Letras

Já nas primeiras páginas, o leitor se depara com a personagem Juliana. Em determinado momento da história, suas primas, curiosas, querem saber como é namorar um homem negro. As personagens usam palavrões para descrever as partes íntimas de um homem.

Segue o trecho:

“Enquanto isso, a Juliana, por sua vez, era bombardeada pelas primas e amigas que nunca tiveram um namorado negro: e então, como ele é?”, perguntavam. “Tem pegada, mesmo, como dizem dos ? E o pa* dele? É grande? É verdade que eles são insaciáveis? Qual o cheiro dele? Juliana ficava incomodada mesmo querendo parecer natural.”

Em outro momento da história, Pedro relata como perdeu a virgindade. Ele conta que isso aconteceu quando tinha 17 anos. A menina, Tamires, tinha 15. Ela “era negra, de cabelo curto, e seus olhos eram grandes”.

Segue um trecho da história:

“O fato é que, no dia em que perdi minha virgindade, foi um tanto esquisito, porque nunca tinha usado camisinha”, relata o narrador da história. “Na verdade eu já havia usado apenas para me masturbar quando não queria sujar a mão. Então eu e a Tamires nos deitamos na minha cama, aproveitando que minha mãe estava no trabalho. [] Começamos a nos beijar e a passar a mão um no corpo do outro. [] Tentei abrir o pacotinho [a camisinha] com a mão, mas a embalagem não facilitou. [] Depois de vencermos essa etapa, passei para a tarefa seguinte: me dedicar a manter o pa* duro tempo suficiente para desenrolar aquela borracha. [] Quando finalmente encaixei a camisinha, começamos a nos beijar, e logo em seguida a penetrei.” 

O conteúdo do livro fez com que o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), . A medida foi comunicada por meio de um ofício, na última quinta-feira, 7. 

Ratinho Júnior
Em Nota, A Secretaria Estadual De Educação (Sed) Do Paraná Afirmou Que A Retirada Aconteceu Por Causa Da Linguagem Utilizada No Livro, Considerada Imprópria | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

De acordo com a Secretaria de Estado de Educação do Paraná, a decisão segue estatutos legais da lei brasileira, de salvaguarda à criança e ao adolescente, no que diz respeito à exposição aos referidos conteúdos. 

“Em determinados trechos, algumas expressões, jargões e descrição de cenas de sexo explícito utilizados podem ser considerados inadequados para exposição a menores de 18 anos”, afirmou a secretaria, por meio de nota.

O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), também mandou recolher o material das escolas do Estado. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (SED) afirmou que a retirada ocorreu por causa da linguagem utilizada no livro, considerada imprópria. 

“Por determinação do governador Eduardo Riedel, e depois da avaliação da SED da obra O Avesso da Pele, distribuída pelo Ministério da Educação, haverá recolhimento imediato dos exemplares, enviados para 75 das 349 unidades escolares da Rede Estadual de Ensino (REE) de MS”, diz a nota.

O governo de Goiás também determinou o recolhimento dos livros. A Secretaria Estadual de Educação informou, em nota, que “fará a leitura e a análise, com vistas a definir se o livro poderá ou não ser distribuído”. 

“O é assegurar que a obra possa efetivamente contribuir com o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes”, diz um trecho do comunicado. 

Janaína Venzon é diretora da Escola Ernesto Alves de Oliveira, localizada em Santa Cruz do Sul (RS).

Em suas redes sociais, a diretora afirma que é “lamentável” que o governo federal, por meio do MEC, possa adquirir a obra. Janaína classificou os vocabulários do livro como de “baixo nível”. 

Em entrevista ao GloboNews, na última segunda-feira, 4, o autor do livro, Jeferson Tenório, lamentou a decisão da exclusão de seu livro das escolas. Ele tratou as decisões como “censura”. 

Tenório afirmou que isso lhe “causa espanto”, porque, segundo ele, “temos tão poucos leitores no Brasil e deveríamos estar preocupados em formar leitores, e não censurar livros”. 

Em suas redes sociais, Tenório disse que o discurso sobre o seu livro usa “distorções e fake news”. “Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes a ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, escreveu. 

Tenório ainda recebeu apoio de cerca de 250 artistas. De acordo com reportagem do portal g1, Antônio Fagundes, Drauzio Varela e Djamila Ribeiro assinaram um texto intitulado “Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório”. 

A nota, assinada pelos artistas, diz que as manifestações contra o conteúdo pornográfico do livro “ferem de morte a democracia”. De acordo com eles, o livro foi observado “por comissões especializadas e preparadas para levar qualidade ao ensino”. 

A Brasileira de Letras (ABL) repudiou aquilo que chamou de “censura do livro O Avesso da Pele”. O ABL argumenta que “não há razão para que, em pleno século 21, livros sejam negados a alunos sob a desculpa de inadequação de linguagem”. 

: revistaoeste

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