Entre a alegria e o sofrimento existe uma contradição que nos coloca na mesma condição neste universo: a morte.
Ela sendo acidental, violenta, passional, natural ou biológica, a morte nos alcança em diversas fases da vida, e entender essa dinâmica é também questionar a dinâmica do viver, e suas dualidades, dentre elas o bem e o mal.
A psicologia freudiana em sua obra clássica, denominada “O Mal-Estar Na Civilização” nos revela esse desprendimento obrigatório que ameaça a sociedade; os instintos agressivos do homem que pode em muitos casos causar a morte por prazer.
Nós brasileiros vivenciamos a barbárie de um crime que chocou o Estado de Mato Grosso nos últimos dias.
Um homem chamado Gilberto Rodrigues confessou confessou ter matado uma mãe e 3 filhas na cidade de Sorriso, a 420 km de Cuiabá. A forma detalhada em que o suspeito relatou o crime, conforme o inquérito, chocou a todos aqueles que acompanharam o caso.
O delegado responsável pela investigação Bruno França, chamou o suspeito de assassino serial killer identificando-o como um tipo difícil de entender racionalmente.
Dentro do imaginário coletivo das leituras de Freud e da psicanálise há diversas interpretações para comportamentos como o de Gilberto Rodrigues. Mas para além disso, o que acontece com quem fica e precisa atravessar um luto resultado de uma tragédia?
Segundo a psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental Raquel Rosseto, o luto é uma resposta natural presente em todas as culturas e superá-lo vai envolver diversos processos de mudança na vida.
“Quando se trata de tragédias, as mudanças são ainda mais significativas”, salienta Rosseto, isso porque para aqueles que ficaram há um processo de adaptação, na rotina, no funcionamento das emoções e na vida, e isso envolve inclusive regulação das emoções que vão ser frequentes no luto.
Foi isso que vivenciou Maissara Okde com a perda do pai e do irmão em 2021 por consequência da covid-19. Para a estudante de 25 anos, o pior do luto é ter que se adaptar a nova rotina com alguém que não está mais lá. “O que era sonho em conjunto, não é mais sonho. É um misto de emoções difícil de passar”, salienta.
Okde pondera ainda que o luto é “uma luta diária para conseguir seguir em frente”:
“Encontro forças na minha mãe, na minha sobrinha que perdeu o pai, nos cachorros que eles tinham. Enfim, naquilo que eu tenho agora, porque a real é que no fundo não temos vontade de fazer nada e precisamos encontrar motivos para seguir.”
O luto em toda a sua complexidade, ainda nos subtrai muito, diferente da crueldade humana que nos assusta em toda a sua universalidade.
Lidar com perdas não é uma tarefa fácil, quando essa tragédia é compartilhada por muitos, como no caso de Sorriso, a família não consegue se blindar quanto ao público. E isso, segundo a psicóloga Raquel Rosseto, pode ser bastante penoso para quem está diretamente envolvido e precisa lidar com a comoção pública de algo privado que foi exposto.
Nos relatos históricos e na literatura percebemos que o luto é uma resposta natural do corpo.
Já a crueldade humana…
Fonte: primeirapagina