Todo ser humano vivo passou pela experiência infantil ou se encontra hoje nessa fase. A infância é um período da vida pleno de curiosidades, descobertas e novas aprendizagens a cada dia; a identidade forma-se e consolida-se ali. Apresenta-se com um comportamento mágico nos primeiros anos, que se torna lógico ainda na fase infantil. Passa a ser lógico, mas não deixa de ser lúdico, nem abandona de todo as fantasias.
Os sonhos, os mundos imaginários são importantes, até mesmo essenciais para o desenvolvimento emocional, afetivo e cognitivo que a criança vai levar à vida adulta. Amigos imaginários, personificação de animais, vegetais e até mesmo de objetos inanimados expandem a criatividade e a inteligência emocional do infante, permitindo uma interação social mais saudável.
O mundo mudou no decorrer do tempo, a vida mudou, a infância também sofreu mudanças. Antes a conexão da criança era sobretudo com outras crianças na vizinhança e na escola. A rua, a natureza, os quintais, as praças e os parques eram explorados, faziam parte da diversão infantil. Havia brinquedos e brincadeiras fora de casa, ao ar livre. A criança realizava muito com o pouco que tinha à mão, utilizava a criatividade nas diversões, desempenhava um papel consentâneo com a cultura da época.
Havia mais liberdade, até porque a segurança era maior, mas ao lado da liberdade havia mais responsabilidade. Algumas ajudavam os pais em casa, cuidavam dos irmãos mais novos e outras precisavam trabalhar fora para ajudar no sustento da família. Apesar disso, algumas conseguiam estudar e brincar apesar do trabalho. Outras, porém, por causa do trabalho, não conseguiam ir à escola e aproveitavam muito menos a infância com brincadeiras.
Hoje as leis mudaram, temos o estatuto da Criança e do Adolescente que prioriza a educação e proíbe corretamente o trabalho infantil. O ECA, porém, não se ateve à necessidade do viver lúdico com conexão social e estímulo a maior criatividade da criança. O desenvolvimento tecnológico atual monopoliza a atenção infantil, diminui a criatividade e o contato direto entre as crianças.
Tudo vem pronto, infelizmente. Hoje vale a máxima de Lavoisier, discretamente modificada: “na natureza quase nada se cria, nada se perde, quase tudo se encontra feito”. O mundo digital faz parte do cotidiano infantil, tanto em seus aspectos positivos como auxiliar na educação e na comunicação; quanto negativos, não permitindo a relação presencial entre as crianças, estreitando o repertório de vida do infante e modificando as experiências infantis de hoje em relação às do passado.
Os pequeninos são expostos precocemente a conteúdos virtuais inadequados, com prejuízo ao desenvolvimento do comportamento e da afetividade, que vão manifestar-se no futuro da criança, ou seja, em sua fase adulta.
Hoje, nossos infantes estudam parte do dia e no outro período trocam o trabalho do passado por inúmeras atividades extracurriculares do presente. São aulas de língua estrangeira, atividades esportivas, geralmente mais de uma ao dia. Nos intervalos, dedicam-se aos seus smartphones e tablets.
À primeira vista, parece mais fácil do que antigamente, mas as pressões são maiores, o mundo já começa a ser competitivo desde essa idade da vida. Sobressai-se melhor quem faz mais esporte, quem estuda mais línguas estrangeiras, quem vai bem na escola, porque lá na frente a competição para um lugar na universidade é muito disputado. Tudo isso tem como consequência uma rotina estressante para nossas crianças.
A ansiedade e a depressão têm sido diagnosticadas cada vez mais precocemente; é mais cedo também que os jovens, muitos ainda quando crianças, têm tido experiências com drogas lícitas e ilícitas. Daí a necessidade de uma relação familiar saudável, pois não podemos esquecer que os pais são espelhos dos filhos. Diálogo e apoio emocional são essenciais para o desenvolvimento psíquico da criança. Pais e professores devem incentivar o comportamento lúdico do infante com e sem tecnologia. Habilidades sociais conquistadas auxiliam o desenvolvimento emocional infantil.
Precisamos ter em mente que, independente da época, ser criança é viver a imaginação sem limites, é exercer a curiosidade e a fantasia para brincar e explorar o mundo ao redor de si e isso precisa ser permitido a ela, porque só assim preservaremos sua saúde mental e a prepararemos para enfrentar os desafios da adolescência e da vida adulta.
Fonte: primeirapagina