A comunicação é um dos instrumentos mais poderosos para proporcionar saúde mental e apoiar pessoas em momentos de dificuldade emocional. Neste mês, em que a campanha Setembro Amarelo chamou a atenção para a prevenção do suicídio, é preciso destacar que a capacidade de compartilhar dores e emoções é um dos primeiros passos para aliviar o peso de sentimentos negativos.
O alívio através da fala
Quando falamos de nossas emoções e angústias, há uma tendência natural de alívio. Isso ocorre porque, além de sermos ouvidos, conseguimos ouvir a nós mesmos, organizando nossos pensamentos e sentimentos.
A psicóloga Lucy Almeida explica uma das razões para essa sensação de alívio: “Quando colocamos para fora nossos sentimentos e as nossas emoções, é uma maneira que a gente tem de se ouvir, de se permitir a entender o contexto que estamos vivenciando.”
É um processo de autocompreensão que só ocorre plenamente quando verbalizamos o que está nos incomodando. Ao colocarmos tudo em palavras, somos forçados a refletir e a buscar uma lógica interna para o que sentimos. Esse movimento proporciona alívio imediato, além de nos permitir ver as situações com mais clareza.
A importância da escuta ativa
Comunicação não é só falar, mas principalmente ouvir. E uma pessoa que necessita de apoio emocional deve ser ouvida de maneira atenta e acolhedora. Escutar parece fácil, mas nem sempre desenvolvemos essa habilidade como deveríamos (reveja aqui as dicas para uma escuta ativa de qualidade).
Quando somos recebidos com empatia, sem julgamentos ou interrupções, a conexão e o vínculo com o ouvinte se fortalece. Esse laço, por mais breve que seja, cria uma sensação de pertencimento e aceitação que pode fazer toda a diferença em momentos de crise emocional. O diálogo entre duas pessoas não é apenas um intercâmbio de palavras, mas uma troca de afeto e compreensão que pode aliviar a dor e o desespero.
O risco do silêncio
Por outro lado, quando mantemos nossos sentimentos presos dentro de nós, a angústia tende a se intensificar. A mente se torna um campo minado de pensamentos repetitivos, o que pode prejudicar a qualidade do sono, aumentar a ansiedade e nos levar a um estado de profunda desesperança. Esse isolamento emocional é um dos maiores fatores de risco para o agravamento de transtornos mentais e pode culminar em atitudes desesperadas. Por isso, é fundamental não deixar que o medo ou a vergonha nos impeçam de procurar ajuda.
Serviços de apoio emocional
Serviços como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e o Grupo Amor Vida são exemplos de como a comunicação pode ser utilizada de maneira efetiva para apoiar quem está em sofrimento. Esses serviços baseiam seus atendimentos na escuta ativa, oferecendo um espaço seguro para que as pessoas falem sobre seus sentimentos sem expor sua identidade e sem serem julgadas.
A missão desses grupos é clara: dar voz a quem, por diversas razões, se sente sem espaço para falar. Às vezes, uma simples conversa pode ser o suficiente para desviar alguém de um caminho trágico. “A dor compartilhada dói menos” é uma das frases motivadoras do Grupo Amor Vida.
No site do CVV, um texto lembra que, nesta era de comunicação acelerada e relacionamentos muitas vezes líquidos, a compaixão parece uma força poderosa capaz de criar pontes. Uma troca de palavras, um tempo de qualidade passado junto ou mesmo o toque físico podem causar uma onda de bem-estar e afetar diretamente nossa saúde física e emocional.
A comunicação como prevenção
A prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental passam diretamente pela capacidade de nos expressarmos e de criarmos ambientes em que as pessoas se sintam à vontade para falar sobre o que sentem.
A comunicação eficaz é uma ponte entre o sofrimento e o alívio, e isso pode salvar vidas. Além de compartilhar sentimentos, é importante que todos nós estejamos atentos ao nosso entorno, prontos para ouvir e apoiar quem precisa.
Em última análise, falar não é apenas uma forma de liberar o que está nos incomodando, mas também de buscar ajuda e encontrar apoio. A comunicação, quando bem utilizada, tem o poder de transformar vidas, e pode ser um dos mais importantes instrumentos na luta contra o suicídio.
Onde procurar ajuda
- Para conversar com um voluntário do CVV a qualquer hora do dia, ligue 188 ou acesse o chat online: https://cvv.org.br/chat/
- Para conversar com um voluntário do Grupo Amor Vida, ligue 0800 750 5554 ou mande um email para: precisodeajuda@grupoamorvida.ong
Fonte: primeirapagina
