Quem mora em Dourados, a 201 km de Campo Grande, provavelmente já ouviu falar de Dona Helena. Aos 92 anos e diagnosticada com Alzheimer, ela conquistou fãs nas redes sociais.
Quem filma Dona Helena é sua nora, Helena Pedroso, de 56 anos, que tenta levar a doença com mais leveza.
“As pessoas me xingam muito no privado, porque eu dou risada (…) Não é que a gente romantiza a doença, mas é que eu tento levar do meu jeito, com leveza, com clareza, entrando na vibe dela. Ela fala um negócio, e eu: ‘Não, é isso mesmo, eu te levo’. Então eu estou aprendendo, entende? Como se ela não tivesse Alzheimer. Eu a trato como se estivesse normal, e pode ver o tanto que ela ri. Pra ela é muito bom também, né? Porque consome todo o seu tempo, a sua energia, então se você levar à ferro e fogo, você não aguenta três dias, você fica na derrota”, declara Helena.
Os cuidados com Dona Helena ocorrem três vezes por semana e aos finais de semana. Segundo a nora, ela adora se arrumar e passear. Por isso, sempre que podem as duas perambulam por Dourados. Até já foram tomar um cafezinho na casa de fãs.
“Aqui na cidade o pessoal adora ela! Esses dias eu estava passeando com (pra não dar tempo dela ficar pensando bobagem), e tinha um homem dentro do carro. Passamos por ele, aí falou: ‘Ei! Eu conheço você’. E eu achei que era comigo. Aí ele falou assim: ‘É a Dona Helena. Eu sou lá de Campo Grande, mas conheço ela’. Contou que estava operado e não podia descer do carro. Eu achei tão engraçado. Foi muito legal. Ele tirou foto com ela. E ela adora, é super carismática. Mesmo com essa doença, ela é muito carismática. Ela conversa com todo mundo, pega no braço das pessoas no shopping, abraça e conversa como se conhecesse há 10 mil anos. Você fica chocada”, diz a nora.
“Quantos anos a senhora tem? Eu tenho 20 anos!”
O primeiro vídeo de Dona Helena que viralizou nas redes sociais mostra ela dizendo a sua idade. O vídeo tem mais de 4,6 milhões de visualizações. Helena pergunta quantos anos a sogra tem e escuta: “Eu tenho 20 anos”. Confira abaixo:
Outro momento inusitado de Dona Helena é quando ela quer ir embora de casa, pois o dia está escurecendo. O episódio é conhecido como “síndrome do pôr do sol”. Assista:
Síndrome do pôr do sol
O neurologista Lucas Moura, que atua em Campo Grande, explica que a síndrome é uma alteração neuroquímica que leva à intensificação dos sintomas do Alzheimer com início ao pôr do sol.
“O significado é realmente uma desregulação do ciclo sono-vigília. Ele é muito regulado em nós devido à exposição da luz solar. Por isso acontece mais no final do dia, e há um desequilíbrio, principalmente dos neurotransmissores de acetilcolina, mas também de dopamina e serotonina. Isso faz uma alteração do comportamento, do humor, piora da memória, a pessoa reconhece alguém pela manhã, mas à noite não. Há uma agitação”, detalha o médico.
Além da medicação para controlar os sintomas, alguns pacientes fazem tratamentos comportamentais.
“Usar óculos, usar dentadura, expor o idoso ao sol, mesmo que ele esteja acamado. É importante ter um lugar que tenha janela para ele ficar perto do sol, isso acontece, às vezes, muito em hospital (…) ais de 90% dos pacientes com Alzheimer vão apresentar a síndrome, sendo mais comum em fases moderadas a graves da doença”, destaca Lucas.
O médico ainda reforça que a síndrome pode ocorrer em outras doenças neurodegenerativas, como: Parkinson, Demência Frontotemporal, Paralisia Supranuclear Progressiva, Demência Vascular e demências de origem metabolica, por exemplo, a Wernike Korsakoff – Enfalopatia Alcoólica.
A síndrome do pôr do sol ainda pode afetar pessoas que estão com fragilidade no metabolismo, seja por falta de vitamina, ou anemia, hipotireoidismo. “Não tratado, pode aumentar a frequência desse estado”, salienta o médico.
Fonte: primeirapagina
