Após um estudo mostrar que o alphacoronavirus – um gênero do Coronavidae, causador da covid-19 – foi detectado em morcegos de Cuiabá e outras três cidades mato-grossenses, o professor de Biologia e Zoologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Alan Fredy Eriksson, explicou que a situação não precisa ser de pânico entre a população e que para impedir a disseminação do vírus, o habitat desses animais precisa ser respeitado.
Abaixo, o Primeira Página te explica as maneiras de lidar com os morcegos e os reais perigos que eles podem causar aos seres humanos:
Gênero da covid em morcegos 🔎
A detecção do vírus nos morcegos foi possível após um estudo de campo em 2021, no qual foram coletados morcegos em habitats florestais, áreas antropizadas, baías, áreas periurbanas e urbanas (edifícios abandonados) dos biomas Pantanal e Cerrado, nas cidades de Cuiabá, Nobres, Poconé e Santo Antônio de Leverger, a 35 km da capital.
Elaborado por pesquisadores da UFMT e Universidade de São Paulo (USP), o estudo foi publicado no dia 11 deste mês.
Anteriormente, o alfacoronavírus já havia sido encontrado em áreas florestais da Mata Atlântica em São Paulo e Bahia. Mas, o novo estudo revelou, pela primeira vez, a presença do vírus nesses mamíferos do centro-oeste mato-grossense.
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O Coronavírus é capaz de infectar diversos hospedeiros, desde animais a humanos. Os morcegos (ordem Chiroptera) são um dos hospedeiros naturais do vírus, segundo os pesquisadores, e representam 40% do número total de espécies de mamíferos no Pantanal.
Sem motivo para pânico! ⚠️
Diante das informações, o Primeira Página conversou com Alan Fredy Eriksson, professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso, que esclareceu, inicialmente, que os morcegos têm um papel fundamental no meio ambiente, sendo vital para espécies vegetais como Figueira, Jotobá e Pequi, por exemplo.
Além disso, esses mamíferos ainda contribuem significativamente para o controle de populações de insetos, como mosquitos transmissores de doenças e pragas agrícolas.
O especialista também afirmou que o encontro do vírus nos morcegos não quer dizer, necessariamente, que eles causem doenças em animais. Mas, caso haja transmissão para humanos, o caso torna-se preocupante, como ocorreu na pandemia de covid-19 no mundo.
Então, como funciona a transmissão do vírus? 🦇
Como explica Alan Fredy, já foram identificadas quase 5 mil linhagens de coronavírus em várias espécies de morcegos, das quais pouquíssimas são causadoras de doenças.
Geralmente, o processo de infecção envolve um hospedeiro intermediário, como animais domésticos, porcos e cavalos. O vírus, então, entra na nova espécie e se multiplica pelas células, causando mutações capazes de infectar seres humanos.
Porém, por mais estranho que possa parecer, matar os morcegos não é o caminho correto para evitar infecções de coronavírus, como alerta o professor.
“É fundamental evitar ações como o extermínio indiscriminado de morcegos, que provoca movimentação dos indivíduos e aumenta as chances de contato com outras espécies. Práticas como o desmatamento e o uso de fogo também contribuem para deslocamentos forçados, potencializando o risco de transmissão de vírus. Proteger os morcegos e seu habitat é, portanto, uma medida essencial para prevenir problemas de saúde pública” afirma Alan.
Na avaliação do especialista, a relação de morcegos com o coronavírus já é conhecida e os dados são limitados a poucas espécies em localidades específicas.
A novidade trazida pelo estudo citado acima pode ser explicada, segundo Alan, pela falta de estudos anteriores que abordassem tais tipos de dados e é possível que esse vírus já estivesse presente há milhares de anos nos morcegos de biomas mato-grossenses.
“Não há motivo para pânico… O levantamento não fornece informações sobre o potencial desses vírus de causarem doenças, o que exige monitoramento contínuo e o sequenciamento completo de seus genomas”, diz o professor da UFMT.
Como evitar contatos com morcegos? ❌
Nos ambientes urbanos, a principal forma de evitar a presença desses animais, conforme o biólogo e professor, é evitar construções que possam servir de abrigos, como forros de casas com partes abertas ou quebradas.
Ao encontrar um morcego morto ou ferido, a recomendação é entrar em contato com o Centro de Controle de Zoonoses da sua cidade, que está preparado para lidar com a situação.
Caso o animal esteja vivo, é indicado cobri-lo cuidadosamente com um balde até a chegada da equipe especializada.
Por fim, é importante lembrar de nunca tocar diretamente em um morcego, já que isso pode causar acidentes e aumentar o risco de transmissão da raiva.
Entenda o estudo 📑
Para detectar o vírus, os cientistas realizaram exames de cotonete orais e retais, modo semelhante aos exames em humanos durante a pandemia de covid-19.
Ao todo, foram coletadas amostras de 419 morcegos, analisadas por meio de um PCR – Reação em Cadeia da Polimerase ou à Proteína C Reativa – alinhado com gêneros do vírus.
Foram detectados, então, infecções por Alphacoronavirus e Orthocoranavirae no organismo dos animais.
A cidade com maior número de morcegos positivos (84,3%) foi Santo Antônio do Leverger, também o que apresentou mais capturas.
Do total de animais capturados, 202 foram identificados em campo e liberados após as coletas de amostras. Outros 217 foram eutanasiados para identificação e depositados na coleção de mamíferos da UFMT, onde ficam armazenados em álcool 70%, como consta no documento.
Tanto a captura quanto a coleta de materiais biológicos foram autorizadas pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da UFMT e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Ministério do Meio Ambiente (SisBio/ICMbio).
Fonte: primeirapagina