Via @portalmigalhas | Foi carregando suas criações penduradas em um bambolê e vestindo um short de crochê colorido, um top de biquíni semelhante e uma camiseta sem mangas que Solange Ferrarini recebeu a equipe de Migalhas para um bate-papo ao pé de uma árvore que ela mesma plantou há mais de duas décadas, em Trancoso, cidade litorânea no Estado da Bahia.
Solange mudou-se para o distrito praiano em 1994. Ela alugou um quartinho em uma pousada para tentar ganhar dinheiro com o artesanato. Adepta do nudismo, ela se incomodava de passar por uma igreja com os seios à mostra no final do dia e, por esse motivo, desenvolveu um top de crochê, para lhe proporcionar mais liberdade. O modelo evoluiu para um biquíni, com triângulos de brim, pontos de crochê e elásticos coloridos.
A peça, que em um primeiro momento foi feita apenas para si, caiu no gosto do público e Solange passou a vendê-la pelas praias de Trancoso. Até hoje, todos os biquínis são feitos à mão, custam R$ 600 o conjunto e são vendidos apenas na casa da artesã ou em duas lojas físicas da cidade.
Assista:
Tudo ia bem para Ferrarini até que, em 2013, uma turca naturalizada americana chamada Ipek Irgit, de férias no Brasil, comprou um de seus biquínis, criou um protótipo na China e lançou nos EUA uma peça muito parecida, com o mesmo design. A marca da estrangeira ganhou o nome de Kiini.
Biquínis foram lançados pela turca Ipek em 2013. Site da Kiini vende modelos.(Imagem: Reprodução)
Anos mais tarde, Solange descobriu que sua criação tinha virado uma queridinha no mundo da moda. Determinada a fazer valer seus direitos autorais, com a ajuda de uma estrangeira, ela entrou na Justiça americana, em Nova York. O caso ganhou repercussão internacional e chegou a ser noticiado pelo Fantástico, da Globo, e pelo jornal The New York Times.
Reportagem sobre o biquíni de Solange Ferrarini no The New York Times.(Imagem: Reprodução)
Porém, para sua grande frustração, ela conta ao Migalhas que o processo acabou arquivado. “A Justiça diz que eu deveria fazer a denúncia até 2016, mas só fiz em 2019. Isso aconteceu porque os advogados me pediam dinheiro antecipado e eu não tinha”, revelou.
Biquíni da esquerda: Solange Ferrarini. Biquíni da direita: Irgit.(Imagem: Reprodução)
Cabisbaixa, ela se diz muito triste e decepcionada com toda a situação. “Nenhuma das pessoas que copiou o meu biquíni entrou em contato comigo nem para agradecer”, lamentou.