Na França, um transplante inédito de laringe foi realizado com sucesso e uma paciente de 49 anos, que respirava por meio de uma traqueotomia há 20 anos sem poder falar, conseguiu recuperar sua voz.
Identificada apenas pelo primeiro nome, Karine enfrentou anos de silêncio após uma complicação na intubação devido a uma parada cardíaca em 1996.
Alguns dias depois do transplante, ela conseguiu pronunciar algumas palavras. Karine também começou a fazer sessões de reabilitação das cordas vocais, da deglutição e da respiração com um fonoaudiólogo.
“Minhas filhas nunca me ouviram falar”
Esse foi um dos motivos que fizeram Karine se voluntariar para fazer o transplante, há dez anos.
Ela escreveu que queria voltar a ter uma vida normal.
A paciente ainda revelou ter “coragem” e “paciência” para enfrentar a dor e o esforço necessário para reaprender a articular as palavras.
Operação inovadora
Esse transplante de laringe foi uma operação pioneira na França, mas já havia sido feito em 1998 em Cleveland, nos Estados Unidos, pela primeira vez na história.
Um homem tinha perdido as cordas vocais em um acidente de moto e o cirurgião Philippe Céruse, médico que comandou a operação de Karine, se interessou pelo caso, mas a ideia acabou não indo adiante na época.
Em 2010 ele foi convidado por um colega colombiano que havia reproduzido esse transplante muito delicado, para ver como fazia a retirada da laringe.
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Uma década de treinamento
Segundo o Céruse, retirar uma laringe é “um dos aspectos mais complexos”.
Ele explica que esse órgão “é estruturado por nervos muito pequenos e vascularizado por artérias e veias que se cruzam muito pequenas”.
Por uma década, o francês treinou com uma equipe especializada e recebeu as autorizações necessárias para encontrar pacientes elegíveis para a cirurgia.
Ainda não tinha dado certo…
“Karine” foi identificada como elegível para a cirurgia em 2019, porém a pandemia interrompeu o processo.
Durante todo esse tempo, apenas dois transplantes de laringe foram realizados e registrados na literatura médica, um na Califórnia em 2010 e outro na Polônia em 2015.
Não é muito. Como a falta da faringe não representa risco de vida, essas operações não são consideradas prioridade.
Finalmente aconteceu!
Em 2022, a equipe francesa voltou ao trabalho.
Em 1º de setembro foi feita a cirurgia, liderada pelos professores Céruse e Badet. Ela durou 27 horas.
Doze cirurgiões e cerca de 50 funcionários do Hospital Universitário de Lyon participaram dessa operação pioneira na França.
Transplante de útero e pênis
O sucesso do transplante será confirmado após um ano, mas o professor Céruse acredita que mais transplantes de laringe ocorrerão em breve em Lyon.
Badet, envolvido nessa “aventura do transplante”, prevê que, após braços, antebraços e laringes, os próximos desafios podem envolver transplantes de útero e pênis também.
Com informações do RFI e AFP
Fonte: sonoticiaboa