A decisão de Noruega, Irlanda e Espanha de reconhecer o Estado Palestino neste momento, sem a participação de Israel, foi vista pelo governo israelense como um passo para trás nas negociações de paz na região.
“A atual posição apresentada pela Noruega, Espanha e Irlanda é, no mínimo, contraproducente e perigosa para a estabilidade regional e para qualquer possibilidade de negociações de paz no futuro”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel, em nota enviada a .
Desses três países, a posição norueguesa foi a que mais surpreendeu o governo de Israel. Isso porque o país nórdico foi um dos protagonistas de um dos mais significativos acordos de paz já assinados pelo país judaico.
O famoso Acordo de Oslo, assinado em setembro de 1993, foi costurado por meses, de forma sigilosa, e culminou com a façanha de colocar na mesma mesa de negociações os representantes de Israel e os da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
A entidade palestina era vista pelos judeus, naquela época, como um grupo terrorista, de uma maneira similar à do Hamas neste momento.
A antes impensável assinatura, no entanto, levou tempo para ser concretizada. O processo passou por fases. Foram 12 reuniões secretas, idealizadas inicialmente pelo então ministro das Relações Exteriores da Noruega, Johan Jørgen Holst (1937-1994), pelo professor Terje Rød-Larsen, diplomata, e de suas respectivas mulheres, Marianne Heiberg e Mona Juul. A primeira-ministra do país era Gro Brundtland, ciente das tratativas.
Foram eles que convenceram a OLP a aderir ao acordo, no momento em que se definiu a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Esta funcionaria como um governo para os palestinos, até a declaração de um Estado nacional ao lado de Israel.
Assinaram o acordo, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, os israelenses Yitzhak Rabin e Shimon Peres (respectivamente o primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores de Israel) e o líder da OLP, Yasser Arafat.
Ficaram estabelecidos a retirada das Forças de Defesa de Israel (FDI) da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e o direito dos palestinos ao autogoverno nas zonas administradas pela ANP.
O governo de transição palestino teria duração de cinco anos. Depois do prazo, também seriam negociadas questões relativas ao status de Jerusalém, aos refugiados, aos assentamentos israelenses nos territórios conquistados na guerra dos Seis Dias (1967) e à segurança em fronteiras definidas por consenso.
Convergência bloqueada
Parte do acordo foi implementada. Por exemplo, desde então, passou a existir a divisão de controle da Cisjordânia, com um autogoverno palestino tendo controle total da área A. Na área B, a ANP teria o controle civil, mas o militar ficaria, nesta transição, com Israel. E na área C, ainda haveria controle total israelense.
O que atrapalhou a implementação do acordo, na prática, foram o fato de colônias israelenses continuarem a ser construídas na região, algo que, porém, não seria um obstáculo instransponível, e a radicalização de grupos palestinos que aderiram ao terror para boicotar o acordo.
Na Faixa de Gaza, no entanto, , o que permitiu em tese a total autonomia palestina. Mas, com o golpe do Hamas, depois de eleições parlamentares em 2006, o grupo terrorista assumiu o poder e se tornou uma ameaça a Israel.
Com o Acordo de Oslo, apesar de todos os percalços, foi construído um caminho de convergência que chegou a ser implementado. Mas arestas, que com boa vontade nem seriam tão impeditivas, serviram de pretexto para aqueles que não se interessavam pela paz. Acabaram ganhando força e travaram a concretização das negociações.
Nesse momento atual, de acordo com a nota do ministério israelense, os três países criaram obstáculos para abreviar o atual período de guerra e retomar o diálogo tão almejado.
E perderam, segundo Israel, o papel de conciliadores. Inclusive a Noruega, que, na visão israelense, radicalizou sua postura e desconstruiu sua anterior imagem de neutralidade.
“As medidas consideradas [por esses três países} irão mudar fundamentalmente o seu papel nos assuntos regionais”, afirmou o governo israelense. “Infelizmente, a decisão deles relativa ao reconhecimento e outras políticas e declarações tiveram um efeito inverso nos seus papéis como negociadores de paz.”
Agora, prossegue o ministério, Israel analisa qual atitude diplomática tomará em relação a esses países.
“Estamos atualmente a avaliar os passos que o Estado de Israel tomará depois da decisão unilateral da Noruega, Espanha e Irlanda de reconhecer um ‘Estado Palestino’.”
Fonte: revistaoeste