Os líderes do G7, reunidos em Borgo Egnazia, na Itália, evitaram fazer referência direta ao aborto em seu comunicado final nesta sexta-feira (14). A decisão foi resultado de uma disputa diplomática entre a Itália, liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni, e a França, comandada pelo presidente Emmanuel Macron, que pressionava pela inclusão do termo na declaração oficial do encontro.
A Itália resistiu à pressão francesa, argumentando que não havia necessidade de repetir a linguagem do ano anterior, quando os líderes se comprometeram com “o acesso universal a serviços de saúde adequados, acessíveis e de qualidade para as mulheres” na cúpula em Hiroshima, Japão. O comunicado de 2023, no entanto, omitiu a menção específica à importância do “acesso ao aborto seguro e legal e aos cuidados pós-aborto”.
Movimentos identitários criticaram a omissão de partes do texto de Hiroshima que apoiavam “a diversidade”. O projeto de declaração de 2024 destacou a preocupação com o retrocesso dos direitos das mulheres, meninas e pessoas LGBT em tempos de crise, condenando veementemente todas as violações e abusos de seus direitos humanos e liberdades fundamentais. Contudo, a seção referente ao “apoio à diversidade, incluindo orientações sexuais e identidades de gênero” também foi deixada de fora.
Giorgia Meloni, conhecida por sua posição antiaborto e por combater o lobby LGBTQ e a ideologia de gênero, defendeu a omissão. O parlamento italiano, sob sua liderança, debate atualmente um projeto de lei para criminalizar a prática de barriga de aluguel no estrangeiro. Diplomatas revelaram que a França e o Canadá tentaram reforçar a linguagem sobre o direito ao aborto, mas não conseguiram vencer a resistência italiana.
Em um jantar oferecido pelo Presidente da República, Sergio Mattarella, no Castello Svevo em Brindisi, o clima permaneceu tenso. Macron, comentando sobre o texto final do encontro, mencionou “sensibilidades diferentes”, ao que Meloni respondeu criticando o uso do G7 para campanhas eleitorais. “Penso que é profundamente errado, em tempos difíceis como estes, fazer campanha utilizando um fórum precioso como o G7”, disse ela aos jornalistas.
A tensão entre Roma e Paris refletiu-se também nas declarações de Macron, que, ao falar com um repórter italiano, destacou a diferença de visões sobre a igualdade de gênero entre os dois países. “A França tem uma visão de igualdade entre mulheres e homens, mas não é uma visão partilhada por todo o espectro político”, afirmou Macron.
Macron enfrenta um declínio em suas pesquisas eleitorais, com as eleições nacionais na França se aproximando e Marine Le Pen ganhando força como a provável próxima ocupante do Eliseu. Giorgia Meloni, por sua vez, continua firme em sua postura, rejeitando as tentativas de influenciar o comunicado do G7 e mantendo suas convicções contra o aborto e a favor de políticas conservadoras em relação às questões de gênero.
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Fonte: BSM