Sophia @princesinhamt
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Empresários brasileiros encontram solo fértil para negócios no Texas

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O Texas já foi um país independente e, se voltasse a ser, ocuparia hoje a 8ª posição como líder mundial. É uma potência econômica. Tudo por lá é grande e amplia-se na velocidade dos negócios. Neste cenário, que atraí cada vez mais a atenção global, a relação entre texanos e brasileiros segue vibrante à margem dos arranhões diplomáticos causados pelo presidente petista Luiz Ignácio Lula da Silva.

Há um ano, em 28 de fevereiro, o texano Ted Cruz, do Partido Republicano, chegou a pressionar o presidente dos Estado Unidos, o democrata Joe Biden, para que sancionasse o Brasil depois que navios iranianos atracaram no Porto do Rio com autorização da Marinha brasileira.

Senador Ted Cruz
Seis Meses Depois De Criticar O Governo Brasileiro, O Conservador Texano Voltou A Falar Em Sanções E Chamou Lula De ‘Chavista Antiamericano’ | Foto: Reprodução/@Tedcruz

Vínculo resiliente sob o fogo cruzado

De acordo com o Bureau of Labor Statistics, o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, as empresas brasileiras investiram mais de US$ 1,150 bilhão (aproximadamente R$ 5.700 bilhões) nos últimos anos e criaram mais de 1.124 empregos no Texas.

Em 2021, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o Brasil foi o sexto maior parceiro comercial do Estado e o quinto maior destino de exportação dos texanos, com movimento de US$ 14,5 bilhões (aproximadamente R$ 72,27 bilhões). Os dados parecem dar o alicerce seguro para o vínculo resiliente sob o recente fogo cruzado.

Um acaso bem-sucedido

Uma das primeiras empresas brasileiras a se estabelecer na região foi a Tramontina. Há 37 anos, a fabricante de produtos de cozinha e ferramentas mantém no Estado um centro de distribuição com 225 funcionários de mais de 30 nacionalidades, sendo 11 deles brasileiros.

Tramontina Texas
A Tramontina Texas Está Localizada Em Sugar Land, Na Região Metropolitana De Houston, A Aproximadamente 40 Km Do Porto De Houston. | Foto: Divulgação/Tramontina”

Ao contrário da grande maioria, a Tramontina não escolheu o Texas motivada pelos impostos mais baixos, a qualidade de vida ou qualquer outro ingrediente que tanto atrai empreendedores norte-americanos e estrangeiros.

A história dos gaúchos deu-se por um bem-sucedido acaso do destino. O CEO da empresa no Texas, Marcelo Borges, contou a que um dos acionistas tinha um conhecido no Estado, o que facilitou a entrada no país, sem qualquer outro critério além desse simples fato.

À margem de Brasília

Administrando um volume de negócios de US$ 280 milhões (aproximadamente R$ 1.3 bilhão), Borges explicou que a maioria das empresas brasileiras nos EUA não é impactada por decisões internas no Brasil. Os empreendimentos prosperam à margem do que acontece em Brasília.

“Dependemos da economia norte-americana e da política norte-americana; a relação com o governo brasileiro, é zero”, afirma. “Desde que estamos aqui, há quase quatro décadas, já entraram e saíram vários presidentes no Brasil e nada do que acontecia lá teve impacto em nossos negócios nos EUA.”

Borges, que recebe voluntariamente grupos brasileiros interessados em levar seus negócios para o Texas, descreveu a como funciona a logística de sua produção.

O centro de distribuição da Tramontina desenvolve as peças para o varejo norte-americano. Em seguida, elas são enviadas para o Brasil e outros fornecedores na Ásia, onde são produzidas e, posteriormente, embarcadas novamente para os EUA via Porto de Houston, um dos maiores do país.

“Estamos localizados a 40 minutos do Porto de Houston; estrategicamente, é bastante vantajoso”, conta. “É muito fácil fazer negócios no Texas e nos EUA; há uma liberdade grande e mão de obra de todos os níveis. Com um bom assessor fiscal para orientar, as coisas são muito claras. Não precisa de sócio local.”

Porto de Houston
Com Extensão De 80 Km Até O Golfo Do México, O Porto De Houton É Um Dos Maiores Do País, Quase Tudo Que Entra E Quase Tudo Que Sai Dos Eua Possar Pelo Terminal | Foto: Reprodução/@Odfjell_Se

Escolha da cidade, chave do sucesso

O empresário mineiro Thomas Fink montou o Grupo TechnoFink no Texas em 2015 e mudou-se com a família para lá no ano seguinte. No entanto, sua relação com o Estado começou antes.

Em 2007, ele desenvolveu um produto anticorrosivo à base vegetal para a Petrobras. Apesar de ter sido aprovado pela companhia, Fink enfrentou dificuldades para comercializar sua tecnologia. Após dois anos de tentativas frustradas, conheceu um sócio no Texas interessado em internacionalizar a descoberta.

“Comecei a fabricar o produto e as máquinas no Brasil, e vendíamos por meio do escritório no Texas”, contou. “De 2007 a 2013, saí do zero para vendas em 32 países. No segundo ano, já estava produzindo tudo aqui.”

Com um segmento 50% direcionado para o negócio de óleo e gás, Fink escolheu estabelecer-se em Houston.

Houton, Texas
Houston É A Terceira Maior Cidade Dos Eua, Além Do Mercado De Energia, Abriga O Texas Medical Center, O Maior Centro Médico Do Mundo, E A Sede Da Nasa | Foto: Reprodução/@Conexão.america

Segundo explicou a, a “fórmula para ter sucesso” no Estado – maior que França e a Alemanha – passa pela escolha da cidade.

“Se o nicho do negócio é financeiro, bancário ou agrícola, a área ideal é Dallas”, orienta Fink. “Se o mercado é plantas químicas, petróleo e gás, ou hospital, é Houston. Mas se for tecnologia, deve-se escolher a capital Austin, onde estão as melhores universidades do setor, além de empresas como Tesla, Google e Dell.”

Planos de negócios

Fink lembra que desenhou seu plano de negócios por cinco anos antes de imigrar.

“Eu não estava acostumado a planejar porque no Brasil a gente não consegue fazer isso”, desabafou.

“Vivemos um dia após o outro”. continuou Fink. “O empresário que planeja no Brasil perde tempo demais. Aqui nos EUA, você pode fazer projeção de 5 anos porque sabe que tudo vai continuar do jeito que está – ou até melhor -, enquanto em nosso país você não sabe como serão os impostos ou quais vantagens alguém vai querer levar”.

O empresário afirma que, em apenas 12 meses, já tinha alcançado a meta de projeção para os três primeiros anos. “Aqui é o lugar certo”, garante. “O Texas te dá um pedigree para a internacionalização, te dá reputação, ao contrário de Miami, por exemplo. Estando no Texas, não é preciso provar que a sua empresa é boa; ela já vem com este predicado.”

O mineiro ressalta que o Estado facilita os negócios e beneficia o empreendedor. “As leis, as proteções de patentes e os contratos são muito seguros”, afirma.

“Aqui, por exemplo, tem o Small Business Administration (SBA) – um órgão que empresta até U$ 5 milhões (aproximadamente R$ 25 milhões) para qualquer negócio que esteja crescendo”, conta. “E a dificuldade em obtê-lo é zero.”

Ajuda durante a pandemia

Empresário Thomas Fink
‘O Único Arrependimento Foi Não Ter Vindo Antes’, Afirma O Empresário Thomas Fink | Foto: Divulgação/Thomas Fink

Assim como vários empresários texanos, durante a pandemia, Fink assegura ter contado com a ajuda local para manter-se.

“O governo estadual pagou o meu aluguel, o meu contador e os meus funcionários para que eu não mandasse ninguém embora”, lembra. “Pude fazer um empréstimo no banco sem precisar pagar de volta, contanto que provasse ter sido usado com funcionários e não em contas pessoais. O Texas queria as empresas vivas.”

Outro ponto destacado pelo empresário é a postura dos empregados em relação aos patrões. Segundo Fink, a mentalidade positiva e “ausência de inveja” contribui para um efeito contagioso de êxito.

“Aqui é onde o governo tem interesse em que você cresça o seu negócio”, disse. “E os seus funcionários ficam felizes em ver a empresa prosperar. Desta forma, o sucesso vai sendo contaminado.”

O brilho forte na constelação

Com DNA conservador, o Texas é o brilho forte dentro da constelação norte-americana. Títulos e recordes são adquiridos em larga escala.

Das 500 maiores empresas do país, listadas pela revista Fortune 500 no ano , 55 sedes estão no Estado – sendo 24 delas em Houston, 24 em Dallas e sete em outras localidades.

Foi o segundo ano consecutivo que o Estado liderou esse ranking, totalizando US$ 2,6 trilhões (cerca de R$ 12 trilhões) em receita e US$ 226,5 bilhões (cerca de R$ 1,11 trilhão) em lucro. Entre essas 55 sedes, está a petrolífera Exxon Mobile.

Made in Texas já é uma marca global poderosa; somos a sede da sede”, garante o governador republicano Greg Abbott. “Aqui é onde os negócios encontram a liberdade para florescer e as pessoas encontram a oportunidade para prosperar”.

Os títulos

Entre os diversos títulos conquistados no último ano pelos cowboys (em uma referência clichê), destacam-se: “O melhor Estado para se fazer negócios”, escolhido em votação pelos principais CEOs dos EUA; e o Governor´s Cup (Copa de Governadores, em tradução livre), que aponta o melhor governador do país, conquistado pelo Texas há 11 anos consecutivos.

Greg Abbot, governador do Texas
O Conservador Greg Abbott, Do Partido Republicano, Rodeado Por Sua Equipe, Segura A Taça Da Copa De Governadores 2023. | Foto: Reprodução/Linkedin De Greg Abbott

Nas últimas 5 décadas, os texanos tiveram oito governadores, sendo sete deles conservadores, incluindo o ex-presidente dos EUA George W. Bush. 

pontual

Assim como em alguns lugares no Brasil, no Texas, as metrópoles mostram-se alinhadas com a esquerda: Dallas, Houston, San Antonio e Austin historicamente votam em prefeitos democratas.

Porém, o texano parece estar atento à proteção de seus valores  inegociáveis e demonstra que as preferências políticas pontuais não abalam a essência conservadora de sua gente.

Com a migração das empresas de tecnologia fugindo dos altos do Vale do Silício, na Califórnia, e estabelecendo-se em Austin, não é raro ver texanos usando camisetas com dizeres contra o progressismo dos novos moradores: “Don´t California my Texas” (Não faça do meu Texas a Califórnia, em tradução livre para o português), estampam.

Texas
Além Das Camisetas, A Frase ‘Don’t California My Texas’ Também Pode Ser Vista Em Faixas, Como Foi Exibida Em 2022 Em Um Viaduto Na Cidade De Dallas | Foto: Reprodução/@We.the.people.apparel E @Thepicketfencecanton

Tribunais Empresariais Especializados

Líder nos EUA em aumento de população pelo 17º ano consecutivo e em geração de empregos em 2023, o governo texano mantém seu desejo de liderar o PIB nacional, ultrapassando a Califórnia. Especialistas acreditam que isso poderá ocorrer até 2040, ou mesmo antes.

Consolidando-se como solo fértil para os negócios, em setembro entrarão em vigor os Tribunais Empresariais Especializados, conforme assinada por Abbott em 2023. A nova corte será composta por juízes competentes em litígios comerciais complexos, nos quais o valor da controvérsia exceda US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 50 milhões).

Como empreender no Texas?

O CEO da Tramontina destacou a que a burocracia nos EUA é consideravelmente menor em relação ao Brasil, por isso, não deve ser uma preocupação para o empresário que deseja imigrar seus negócios.

“A tributação para empresas aqui é muito simples”, conta Borges. “É um ambiente de negócios favorável.”

Os conterrâneos são categóricos quanto à preparação prévia antes de levar a empresa para o Texas ou internacionalizar os negócios via o Estado da Estrela Solitária.

“O importante é realizar seus estudos para determinar qual infraestrutura será necessária”, orienta o CEO da Tramontina. “É fundamental ter consciência de que o mercado é altamente competitivo em termos de preço, com a concorrência global e poucas barreiras de entrada. Portanto, é preciso tomar cuidado para garantir a rentabilidade e conseguir manter-se.”

Houston, Texas
O Consulado-Geral Do Brasil Em Houston Também Atende Cinco Outros Estados: Arkansas, Luisiana, Mississippi, Novo México E Oklahoma | Foto: Reprodução/Redes Sociais

O dono do Grupo TechnoFink endossa a fala de Borges.

“Não é lugar para você vir e arriscar”, explica Fink. “É crucial investir em viagens precedentes para entender os seus concorrentes e o nicho de mercado. Participar de seminários é fundamental. Este levantamento é a parte mais importante para alcançar o sucesso. Os norte-americanos estão sempre procurando por um diferencial, algo que facilite suas vidas no dia-a-dia.”

Fink acrescenta que, ao seguir essas recomendações, as chances de o empresário se juntar ao grupo dos que já estão lá e fortalecer o sentimento de sucesso são altas.

“Não ter vindo antes é o único arrependimento de todos os empresários brasileiros que estão aqui no Texas”, garante Fink.  

Fonte: revistaoeste

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