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‘Democratas nos anos 1940: quem poderia substituir o presidente dos EUA?’

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A desistência de Joe Biden da candidatura à reeleição remete ao momento no qual, nas eleições de 1940, o também democrata e estatizante Franklin Delano Roosevelt resistia em disputar seu quarto mandato de presidente dos Estados Unidos.

Atualmente, persiste a dúvida entre os próprios democratas sobre a viabilidade da candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris.

Naquela época, muito mais do que atualmente, em caso de urgência, havia um substituto natural para o cargo. Em uma situação inusitada. Seria Harry Hopkins, amigo do presidente desde que ele governou Nova York, que se tornou o principal conselheiro durante seu governo.

Hopkins atuou como assistente social em Nova York, nos tempos de gastos excessivos do New Deal. Sua atuação como diretor da New York’s Temporary Emergency Relief Administration chamou a atenção de Roosevelt.

Ambos ficaram íntimos a ponto de Hopkins ter ido morar na Casa Branca e se tornado fonte de preocupação para Roosevelt em relação às suas questões pessoais: a morte da esposa, Barbara, a educação da filha, Diana, e a própria saúde frágil de Hopkins.

“O presidente encontra-se agora longe daqui e os telegramas urgentes são retransmitidos por mim”, escreveu Hopkins a Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, durante a Segunda Guerra. Em tom de autoridade, ele prosseguiu.

“Solicito com muito empenho que o sr. não envie a Stalin a mensagem proposta, até que o presidente se manifeste a respeito. Estou certo de que o ponto de inflexão da guerra bem poderá depender do que foi dito agora…”

A mensagem, relatada no livro Roosevelt & Hopkins, uma história da Segunda Guerra Mundial, do jornalista Robert E. Sherwood, que elaborava os discursos de Roosevel, revela o grau de influência deste simples assistente social no governo. Entre 1938 e 1940 ele atuou como secretário de Comércio.

Cansado e em busca de resolver problemas financeiros, Roosevelt passou a estudar nomes para serem seu substituto. Descartou as candidaturas de Cordel Hull (Secretário de Estado), Henry Wallace (vice-presidente), Harold Ickes (secretário do Interior), Paul McNutt (governador de Indiana), Frank Murphy (governador de Michigan) e George Early (governador da Pensilvânia).

“Depois de examinar os inconvenientes, Roosevelt expressou sua convicção de que Hopkins ganharia a eleição e seria um presidente melhor que qualquer dos outros possíveis candidatos”, contou Sherwood.

A saúde frágil de Hopkins e a sua falta de disposição em lidar diretamente com a burocracia do poder o afastaram da disputa, mais até por vontade própria. Ele preferia as decisões nos bastidores, realizar relatórios, opinar com astúcia e humor sagaz, que o levaram a ser chamado, por Churchill, de Senhor X da Questão.

O presidente, então, decidiu prosseguir. Conseguiu permanecer, ao se aproveitar do clima de medo que pairava no país, em meio à guerra.

Em função desta longa jornada de Roosevelt no cargo, em 1952 a Suprema Corte determinou que o limite máximo para um presidente seria a participação em duas eleições.

Conferências e exaustão

O último mandato de Roosevelt foi um período dramático, que culminou com a sofrida vitória dos aliados na guerra. O filho de Hopkins, Stephen Peter Hopkins, caiu em combate. Churchill, emocionado, enviou o seguinte telegrama ao amigo Hopkins.

“Stephen Peter Hopkins, 18 anos: ‘Teu filho, senhor, pagou dívida de armas: viveu só até ser um homem. Tão logo a bravura confirmada na intrépida missão que teve, como um homem morreu.’ Sheakespeare. Para Harry Hopkins, de Winston S. Churchill, 13 de fevereiro de 1944.”

Na última vez que Roosevelt e Hopkins se viram, conta Sherwood, faltou uma despedida mais calorosa. Roosevelt ficou um pouco desapontado com o fato de Hopkins, extenuado, ter deixado o navio Quincy, que levava ambos de volta aos EUA, depois da última Conferência da qual Roosevelt participou, a de Yalta, que definiria a distribuição de territórios e o status da Alemanha no pós-guerra.

Hopkins decidiu descer em Argel, para ir a Marrakesh passar uns dias de descanso. A ideia de permanecer a bordo por mais nove dias, sob cuidados permanentes, o desestimulou a seguir com o presidente, para ajudá-lo a escrever o discurso a ser lido no Congresso, sobre a Conferência, realizada entre 4 e 11 de fevereiro.

Roosevelt morreu em 12 de abril de 1945, aos 63 anos, de hemorragia intracerebral, em Warm Springs, onde, também extenuado e pressionado, fora descansar.

Hopkins morreu em 1946, aos 55 anos. Antes, o novo presidente, Harry Truman, o enviou como representante oficial a um encontro com Stalin, no Kremlin. Hopkins também foi um dos protagonistas da Conferência de Potsdam, entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945.

Na última vez que Hopkins foi a , recebeu de Truman a medalha de Serviços Relevantes. E aproveitou para passar ao presidente informações sobre as negociações com os ingleses a respeito da fabricação da bomba atômica.

Sherwood conta que Hopkins acompanhara este trabalho desde que foi criado o Conselho de Pesquisa para a Defesa Nacional. O resto, é história, que ele, a respeito de Hiroshima e Nagasaki, só ficou sabendo pelos jornais, por ter se afastado do projeto.

No momento das explosões, Harry Hopkins, uma das maiores influências de bastidores na política norte-americana, já havia saído de cena.

Fonte: revistaoeste

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