De repente, o cientista norte-americano John Clauser tornou-se alvo de cancelamento por seus pares e pela grande imprensa. Depois de mais de 50 anos dedicados à ciência, que lhe renderam o Prêmio Nobel de Física de 2022, Clauser desagradou ao autonomeado consenso científico ao pôr em dúvida a capacidade humana de interferir na dinâmica natural do planeta.
O The Washington Post puxou a fila dos insatisfeitos. Em reportagem publicada em 16 de novembro último, por exemplo, o jornal chama Clauser de negacionista das mudanças climáticas.
“Seu recente negacionismo em relação ao aquecimento global alarmou os mais importantes cientistas estudiosos do clima, segundo os quais Clauser utiliza sua estatura para enganar o público a respeito de uma emergência planetária”, escreveu o Post, referindo-se à participação do Nobel de Física em um evento realizado no Hotel Four Seasons de Baltimore, nos Estados Unidos.
A coletiva da discórdia: por que John Clauser se tornou alvo dos ambientalistas
O encontro foi organizado pela Coalizão Depósito da Fé, que reúne mais de uma dúzia de organizações católicas contrárias ao alarmismo ambiental. Além de Clauser, estiveram presentes Marc Morano, ex-funcionário de gabinete congressional republicano, e Alex Newman, jornalista que trabalha para veículos de imprensa conservadores.
Ao subir ao palco, Clauser disse a frase que causaria irritação na comunidade científica: “Ótimas notícias! A crise climática não existe!”.
Entre um PowerPoint e outro, no qual se amparava para apresentar as ideias ao público, o cientista dialogava com os participantes do evento. “Apesar de poder irritar muita gente, minha mensagem é que o planeta não está em risco”, disse Clauser. “Chamo a mim mesmo de negacionista climático.”
Clauser afirma que a temperatura da Terra é determinada pela cobertura das nuvens, e não por emissões de dióxido de carbono oriundas da queima de combustíveis fósseis. De acordo com o cientista, as nuvens são responsáveis por um efeito de resfriamento sobre o planeta. Por isso, não há crise climática.
Apesar de estudiosos que compõem o consenso científico discordarem de suas ideias, como Andrew Dessler, da Universidade Texas A&M, e Michael Mann, da Universidade da Pensilvânia, Clauser recebeu apoio do físico austríaco Anton Zeilinger, com quem dividiu o Nobel em 2022.
Em entrevista ao Post, Zeilinger disse ter “o mais alto respeito” pelo trabalho do colega. “Quando propôs suas ideias, Albert Einstein foi considerado louco e outsider”, afirmou Zeilinger, professor emérito de física da Universidade de Viena. “Já aconteceu na ciência de a vasta maioria estar absolutamente errada. Não tenho ideia se este é o caso aqui, mas a ciência tem de estar aberta ao debate.”
O Brasil também tem seus desafetos
Descredibilizar estudiosos avessos ao consenso científico é prática comum nos Estados Unidos, mas também em outros países. No Brasil, por exemplo, um dos alvos principais é o professor-doutor em climatologia Ricardo Felício. Ele se tornou persona non grata na imprensa e nas universidades por ser uma das vozes dissonantes quando o assunto é mudança climática.
“Atribuir o aquecimento global ao homem, e principalmente ao CO₂ da atividade humana, é um reducionismo absurdo”, disse Felício. “As variações climáticas da Terra são causadas por um emaranhado muito grande de variáveis.”
- “Falar que o clima é controlado pela atividade humana é patético”, entrevista com Ricardo Felício publicada na Edição 73 da Revista Oeste
Ao comentar os ataques contra o cientista norte-americano, o meteorologista brasileiro afirmou que esse tipo de comportamento impede o livre debate de ideias. “Cancelar pessoas é a forma que os fracos dizem para os dissidentes calarem a boca”, observou. “Não conseguem trazer uma única evidência para corroborar suas hipóteses, daí a necessidade de silenciar, calar, banir.”
Felício acredita que as atividades humanas são incapazes de modificar o clima da Terra. “Estamos tratando de forças descomunais e planetárias”, ressaltou, ao explicar que os fenômenos naturais são responsáveis por controlar o ambiente. “Esse é o nosso tempo, onde a insanidade humana permite que tais absurdos sejam consolidados ao ponto de termos discussões, há 40 anos aproximadamente, de que o CO₂ emitido pelos homens, exclusivamente, cause um ‘efeito estufa’ — fenômeno que não existe na atmosfera.”
O Prêmio Nobel de Física de 2022
Em 1972, Clauser realizou experimentos pioneiros no campo do entrelaçamento quântico — processo em que duas ou mais partículas se conectam de maneira que qualquer mudança em alguma delas resulta na mudança da outra, ainda que estejam separadas por vastas distâncias.
O trabalho do cientista norte-americano confirmou um fenômeno que Einstein chamou de “ação fantasmagórica à distância”. A iniciativa da dupla pavimentou o caminho para tecnologias avançadas, como computadores quânticos, capazes de resolver problemas demasiadamente complexos para os computadores comuns.
Fonte: revistaoeste