Vemos um, o outro é completamente intangível. O cérebro e a mente têm diferenças, mas ambos partem desse incrível edifício formado por mais de 69 bilhões de neurônios. Enquanto os cientistas apontam que sabemos quase mais sobre o universo do que sobre esse órgão fascinante, estamos obtendo cada vez mais novas respostas para seus mistérios.
Um ponto importante que sabemos da psicologia é que o que pensamos muda o cérebro. As terapias psicológicas podem reduzir a hiperatividade da amígdala e até aumentar a conexão neural. Embora por muito tempo se tenha assumido que o cérebro governava todo comportamento e pensamento, a verdade é que o mental tem mais poder do que pensamos.
Conhecer as diferenças entre uma entidade e outra será tão revelador quanto interessante. Confira mais detalhes abaixo.
O cérebro é mais largo que o céu; coloque-os juntos e um conterá facilmente o outro, e você também. O cérebro é mais profundo que o mar; contendo-os, azul com azul, e um ao outro vai absorvendo, como uma esponja (…)
Cérebro e mente são iguais?
Aristóteles foi talvez a primeira figura a iniciar essa tentativa de compreender os fenômenos da mente, separando-os do biológico. Em sua obra Da Alma, 350 a. C, ele escreveu um notável tratado que, embora abordasse a alma como tema central, delineou as bases da própria biopsicologia. A mente, disse ele, é tudo o que é pensável.
Agora, o que é óbvio é que a mente requer que o cérebro exista. Isso faz com que o primeiro pareça uma epifania do segundo, levando a um certo reducionismo.
Supõe-se que todos os fenômenos psicológicos se restringem ao neurológico, quando nem sempre é assim. Compreender as diferenças entre o cérebro e a mente nos permite ter uma visão mais ampla de quem somos e como agimos.
Dessa forma, trabalhos como os publicados na revista Perspectives on Psychological Science alegam algo interessante. É verdade que a psicologia e a neurociência devem trabalhar juntas. Mas nem tudo se explica pelo biológico ou neurológico.
Cognições, emoções, memórias, autoestima ou crenças são mais complexas do que pensamos. Detalhamos as distinções abaixo.
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1. Biológico vs. fenomenológico
A mente é um fenômeno do cérebro, uma entidade abstrata que integra a consciência e um número infinito de processos cognitivos. O cérebro, por sua vez, faz parte do sistema nervoso central (SNC) e constitui a área mais volumosa do cérebro. É um órgão complexo que se destaca como resultado de milhares de anos de evolução.
Assim, enquanto o cérebro é constituído por áreas tangíveis e observáveis como tecidos, células ou redes neurais, o que acontece na mente não pode ser visto. Todos os seus processos, subjetividades e mecânicas de funcionamento são abordados pela psicologia, enquanto a neurociência trata do cérebro.
Até hoje ninguém sabe o que é a mente e como o cérebro a cria.
2. Hardware vs. software
Podemos ver o cérebro como a estrutura, os componentes (hardware) e a mente como o software que roda nele. Assim, é importante entender que, embora estejam intimamente ligados, o cérebro e a mente possuem diferenças em suas funções. Entendamos, a seguir, esses processos que cada um realiza.
Cérebro
- Memória.
- Linguagem.
- Emoções.
- Respiração.
- Autocontrole.
- Personalidade.
- Ritmo cardíaco.
- Ciclos de sono.
- Atividade motora.
- Equilíbrio e coordenação.
- Processamento de informações sensoriais.
- É responsável pelas funções homeostáticas.
- Regula funções de diferentes órgãos.
- Regula as funções endócrinas e hormonais.
- Cria as bases para os processos cognitivos e emocionais.
Mente
- Regula as emoções.
- Molda nossa identidade.
- Dá sentido ao que vemos e ao que nos acontece.
- Realiza todos os processos cognitivos (pensamentos).
- Funciona em três níveis: consciente, subconsciente e inconsciente.
- Processa e molda crenças, autoestima, emoções, julgamentos e memória.
- A consciência faz parte da mente porque graças a ela damos sentido à pessoa que somos, ao que nos rodeia e a cada experiência.
Embora ainda não saibamos exatamente as funções da mente, trabalhos como os publicados na revista Frontiers in Human Neuroscience indicam que estamos entrando em uma era de grandes avanços, na qual a ciência da neurofenomenologia revelará mais dados.
3. Localização vs. distribuição
Atualmente, a ciência ainda não consegue responder como o cérebro cria a mente ou a consciência. Esse é um dos maiores mistérios a resolver. Entendemos, sim, cada região, função e processo do cérebro. Sabemos que está alojado na cavidade craniana, que se distribui em dois hemisférios cerebrais interligados pelo corpo caloso e também contém o cerebelo.
Contudo, a mente não está em um lugar físico e concreto, mas se manifesta graças às redes neurológicas e ao mundo da experiência e está ligada ao nosso corpo.
4. O cérebro e a mente, o biológico e o psicológico
O cérebro é um órgão biológico, resultado da nossa evolução, que segue os princípios da neurobiologia, fisiologia, anatomia e neurobiologia. Ele é governado por processos biológicos, enquanto a mente é governada por processos psicológicos.
Enquanto a neurociência aborda a compreensão do cérebro e seus processos, a psicologia passou décadas tentando entender como a mente funciona. Por outro lado, deve-se notar que a psicologia cognitiva é a abordagem mais completa para responder a todos os fenômenos que ocorrem no universo mental.
Pesquisas como a publicada no Journal of Rational-emotive & Cognitive-behavior Therapy revisam todo esse trabalho e sua perspectiva histórica a esse respeito.
Alterações cerebrais como uma menor produção de serotonina ou uma amígdala mais hiperativa afetam o funcionamento da mente.
5. Doenças do cérebro vs. distúrbios da mente
O cérebro pode desenvolver doenças, distúrbios e sofrer traumas, todos facilmente diagnosticáveis. O mesmo não é verdade para a mente. Qualquer alteração nela não pode ser rotulada como “doença”, pois não é observável com radiografia, ressonância magnética ou anamnese médica comum. Nestes casos falamos de transtornos psicológicos.
Existem elementos comuns a serem destacados. Qualquer doença, problema cerebral ou alteração nos neurotransmissores afeta a saúde mental. Um exemplo disso é ter um déficit de serotonina, o que afetaria nosso humor. No entanto, isso pode ser revertido se cuidarmos do nosso foco mental e fizermos terapia porque a mente também modifica o cérebro.
6. O cérebro controla a fisiologia; a mente, o que você pensa e sente
O cérebro e a mente são duas dimensões maravilhosamente interconectadas. O primeiro configura um edifício e nós seríamos a mente, aquela entidade que lhe dá vida, a decora e a habita. Assim, enquanto o cérebro estrutura todo processo fisiológico, a mente é a expressão intangível de todo pensamento, emoção, experiência processada, crença construída ou medo superado.
É muito provável que as melhores decisões não sejam o resultado de um reflexo do cérebro, mas o resultado de uma emoção.
7. Reducionista vs. holística
É interessante saber que o estudo do cérebro tende a ser reducionista. A neurociência se concentra em estudar os menores processos, para entender os mecanismos que orquestram cada função. É uma tarefa analítica, experimental e muito objetiva.
A mente, por sua vez, é holística, fenomenológica e integra processos de todos os tipos para tentar entendê-la. Podemos vê-la de uma perspectiva cognitiva, emocional, filosófica e até espiritual. Porque enquanto o cérebro é uma coleção de tecidos e células nervosas, a mente é como o cosmos: algo vasto e infinito, cheio de possibilidades.
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Embora tenham diferenças, o cérebro e a mente são dimensões interligadas
Para concluir, resta-nos apenas apontar um pequeno aspecto. Apesar de listarmos as diferenças mais notáveis entre o cérebro e a mente, ambas as dimensões estão interligadas e, para sua compreensão, é impossível separar uma da outra.
Por isso, é importante que a neurociência e a psicologia trabalhem juntas. Evitemos reducionismos e ampliemos o olhar.
Fonte: amenteemaravilhosa