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Economia

‘Mercado imobiliário no Brasil: um país de oportunidades para investidores’

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Quando Douglas Strabelli resolveu tentar a vida na Espanha, em 1994, ele não imaginava que hoje seria dono de um negócio de mais de R$ 1 bilhão no ramo da construção civil. Afinal, Strabelli tinha apenas 18 anos, e o início foi parecido com a trajetória de muitos imigrantes que se aventuram a construir uma vida nova em outro país: ele trabalhou como pedreiro em um canteiro de obras. Com muito trabalho, o paranaense nascido em Maringá se tornou chefe da empresa depois de um ano e chegou a abrir uma pequena construtora em Madri.

Em 2001, migrou para os Estados Unidos com a ideia de abrir um restaurante em Nova York. Mas logo desistiu da ideia e voltou para o mercado de construção civil. Hoje, Strabelli é dono da , incorporadora com base em Nova York e em Miami, que fatura US$ 50 milhões construindo imóveis de luxo nos Estados Unidos.

Por videoconferência, direto de Miami, Strabelli conversou com Oeste para contar o início de sua história no ramo da construção civil, os principais projetos realizados pela empresa e como a pandemia de covid-19 impactou o setor. Com mais de 360 projetos no portfólio, todos nos EUA, a empresa de Strabelli se prepara para investir no mercado imobiliário brasileiro. Um empreendimento com lotes e casas de alto padrão no Vale Alpino, em Teresópolis (RJ), será o primeiro projeto da empresa no Brasil. O empresário também falou sobre os desafios de empreender por aqui. “Existe uma preocupação com a questão econômica e com a jurídica no país”, diz Strabelli.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Em 2001, você foi para os Estados Unidos. Como você começou a investir no mercado imobiliário americano?

Meu plano inicial era abrir um restaurante em Nova York. Mas logo desisti do negócio, porque vi que não para mim. Fui trabalhar na construtora Sagewood Restoration, inicialmente de graça, para conhecer o mercado da construção civil. Passei por diversos setores da empresa até me tornar chefe, em 2002. Quando isso aconteceu, me ofereci para ser sócio, e o dono da empresa, que também era brasileiro, topou. Éramos três funcionários apenas. A partir daí sempre miramos o mercado de luxo. Vejo que existe um gargalo nesse setor nos Estados Unidos. Focamos em trazer capacitação para os funcionários da Sage. Depois de 5 anos, a empresa passou de 3 para 50 funcionários.

Quando você se tornou dono da construtora?

Em 2006, meu sócio brasileiro teve uma questão pessoal e não queria mais fazer grandes obras. Fizemos um acordo para nos separar. Fiquei com o nome da empresa e focado nessas grandes obras em Nova York, e ele seguiu no nicho dos pequenos empreendimentos.

As operações da companhia estão 100% focadas nos Estados da Flórida e de Nova York. Por que?

Começamos a fazer reformas de imóveis de luxo da comunidade brasileira localizados na 5ª Avenida e na Madison Avenida, áreas nobres de Nova York. Nosso diferencial foi entregar um nível de qualidade das obras muito superior em comparação a outros construtores. A de uma casa no Queens foi o primeiro empreendimento da empresa. Esse projeto abriu as portas para outros clientes. Também fomos responsáveis pela construção do hotel Fasano Fifth Avenue, obra avaliada em US$ 45 milhões. Já a Flórida foi uma questão de mercado. Lá não existe cobrança de imposto municipal, nem estadual. Só federal, o que ajuda as empresas. Ainda, é um Estado que apresenta muita demanda, tem um ticket médio mais baixo e a competição é menor.

Como sua construtora atravessou a pandemia de covid-19?

As obras da construtora pararam por um mês. Foi ruim para muitos Estados americanos, mas foi muito bom para a Flórida. O preço das casas em condomínio aumentou cerca de 30%. Fomos procurados por muitos incorporadores que não conseguiram terminar os projetos e acabamos tocando essas obras também. A linha de suprimentos teve um grande impacto, porque os preços subiram muito. A madeira chegou a subir 27%, o aço subiu 57%, a escassez de material era muito grande. Hoje, melhorou, mas ainda não normalizou a cadeia. Acredito que nos próximos cinco anos o preço vai equilibrar novamente.

Quais foram as mudanças provocadas no setor pela pandemia?

No início, o investidor ficou muito assustado, não sabia o que fazer com o dinheiro. Mas fechamos muitos negócios, muita gente saiu do mercado de capitais, e acabou migrando para o mercado imobiliário. Ainda, com a pandemia, as pessoas não queriam ficar confinadas em apartamentos. As casas foram muito procuradas, mas os clientes hoje buscam casas um pouco menores. A geração Z, por exemplo, quer apartamentos mais compactos, em empreendimentos que oferecem muito luxo, lazer e facilidades.

Depois de cerca de 30 anos de experiência no mercado imobiliário no exterior, você vai investir no Brasil. Quais são os principais desafios ?

O Brasil é um país de oportunidades para o mercado imobiliário. Mas existe uma preocupação com a questão econômica e com a insegurança jurídica no país. As questões relacionadas à ambiental também são complicadas. Muitas vezes, são processos longos, custosos, que dificultam a captação de investimento estrangeiro. Nos Estados Unidos, o investimento a médio prazo é de 7 anos, a longo prazo, 15 anos. No Brasil, o investimento considerado de longo prazo é de 2 anos. Muito por conta da imprevisibilidade. Como um incorporador consegue fazer um planejamento a longo prazo se a cada dois anos as regras mudam e ele precisa reajustar seu investimento? Esse é um dos maiores desafios do Brasil para quebrar a inércia e atrair investidores estrangeiros.

Quais são as perspectivas da Sagewood Corporation para a economia brasileira?

Neste momento, vejo a economia brasileira com preocupação. O mercado imobiliário tem uma vantagem porque o ciclo é mais longo, mas esse novo governo assustou, principalmente, os investidores. A redução da taxa de juros no Brasil tem ajudado nosso segmento. Acho que vai reduzir ainda mais o juros, mas bem devagar. O Banco Central está fazendo um excelente trabalho.

Qual a sua avaliação sobre o mercado de alto padrão no Brasil em relação a outros mercados?

É o mercado mais seguro para investimento. Mas não é fácil, é preciso entender o nicho de mercado. A possibilidade de escala é menor, então precisa ter estratégia para entrar nesse segmento. Uma casa de alto padrão não vai perder valor. O máximo que pode acontecer é o imóvel manter o valor que foi pago, o que já é melhor do que qualquer outra forma de investimento.

Qual será o primeiro empreendimento da Sagewood no Brasil?

A companhia vai focar no desenvolvimento e construção de projetos imobiliários no Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país, o que representa R$ 1 bilhão em Valor Geral de Vendas até 2024. O primeiro projeto da empresa no Brasil será o Quinta das Amoras, um empreendimento com lotes e casas de alto padrão no Vale Alpino, em Teresópolis (RJ). Queremos criar uma espécie de “Hamptons” novaiorquino. Teresópolis é uma cidade histórica, a mais segura do Estado, e está a menos de 90 quilômetros da capital.

O mercado imobiliário inova pouco?

O custo da construção aumentou muito, então é preciso ser mais criativo. Em termos de tecnologia, a China, hoje, tem tudo do melhor ao pior. A diferença é trazer bons materiais, com preço interessante. Isso leva tempo. Estamos sempre buscando a forma mais barata e eficiente de fazer um projeto, sem perder qualidade. Mas, sim, copia-se muito e demora muito para evoluir. Veja o caso de uma empresa de um brasileiro aqui na Flórida. Ele criou um modelo de construção de casas modulares que levou sete anos para ser aprovado, por causa da questão dos furacões. As casas projetadas por esse empresário são baratas, ficam prontas em até 90 dias, e resistem a furacões nível 5. Mas há uma barreira para aceitação do público e dos bancos, que vão financiar a obra. Quem está disposto a comprar algo novo, que ainda não teve tempo de maturação no mercado? No entanto, existe um déficit imobiliário grande nos Estados Unidos, então acredito que essas barreiras serão derrubadas. É uma questão de tempo.

Fonte: revistaoeste

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