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Economia

‘Banco Central acerta em cheio com política de juros e impulsiona economia brasileira’

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CEO da Vai Tourinho, empresa especializada em inteligência financeira, o economista Pablo Spyer disse que o Banco Central (BC) fez um golaço com a política de juros no Brasil. Em entrevista concedida a Oeste, ele declarou que a instituição fez a lição de casa. “Não à toa, o brasileiro Roberto Campos Neto foi eleito o melhor banqueiro central durante a pandemia do coronavírus”, comentou.

Pablo Spyer também falou sobre a Bolsa de Valores do Brasil (B3). O especialista em investimentos abordou o momento de incertezas vivido pelo país, com as políticas fiscal e econômica do novo governo, e explicou o impacto dos juros na vida dos brasileiros. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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Nos primeiros três meses do ano, caiu o volume de dinheiro movimentado com ações na B3. O que explica essa queda?

O mercado de ações brasileiro enfrenta, neste início de ano, um ambiente menos propício a investimentos. Temos a taxa de juros básica ainda alta, tanto em termos nominais (em 13,75% ao ano) quanto reais — cerca de 9 pontos porcentuais acima da inflação. Isso leva o investidor a preferir o ganho seguro da renda fixa ao risco das ações. O ambiente também é ruim no exterior, já que os bancos centrais dos países desenvolvidos estão subindo os juros para combater a inflação. Esses movimentos criam incertezas e o receio de recessão, principalmente nos Estados Unidos. Isso pode afetar a economia brasileira e as empresas que estão na bolsa. Há também maior incerteza aqui, com o novo governo definindo sua política econômica, especialmente na parte fiscal, e sua relação com as empresas estatais, com maior intervenção. Houve também o caso da Americanas. A empresa causou um grande prejuízo para muitos investidores, e ela era considerada importante no mercado.

Para o mercado financeiro, os riscos aumentaram com o novo governo?

Há várias incertezas, e a bolsa não gosta disso. Existem dúvidas sobre a forma como o novo governo vai manter o equilíbrio das contas públicas e da dívida federal — incerteza que diminuiu um pouco com a divulgação do novo arcabouço fiscal. O novo governo também acena com maior intervenção em estatais importantes para o mercado de ações, como a Petrobras. Isso pode fazer a empresa deixar de seguir os preços internacionais, lucrando menos e distribuindo menos dividendos. E há as críticas do governo à independência do BC e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, à política monetária e ao regime de metas de inflação, com sugestões de mudanças das metas. As críticas e as propostas de mudança  da meta acabaram levando o mercado a apostar que os juros básicos vão demorar mais para cair, o que é ruim para a bolsa.

O Ibovespa é o principal índice da Bolsa de Valores do Brasil. Atualmente, está girando em cerca de 100 mil pontos. O que é esse indicador?

O Índice Bovespa é uma cesta de ações que reúne as principais empresas da Bolsa brasileira. A seleção é feita com base no valor de mercado e no volume de negociações delas. Essa cesta é atualizada a cada quatro meses pela B3. Quanto maior a empresa e mais negociada, maior seu peso e sua influência no índice. Hoje, o papel de maior peso no Ibovespa é a Vale, mas a Petrobras e os bancos também são muito importantes. Existem vários índices de ações, voltados para outros tipos de segmentos, como o índice do setor de energia ou de empresas de menor porte.

Como o dólar influencia o mercado?

O dólar impacta bastante o mercado de ações. Se a moeda norte-americana sobe, isso significa que o nosso real vale menos. Nesse caso, as nossas exportadoras — que ganham em dólar — terão uma receita maior. Por esse motivo, muitas vezes, as ações de exportadoras também valorizam quando a moeda norte-americana aumenta de preço. Ao mesmo tempo, o dólar mais alto significa mais pressão sobre a inflação. E a inflação maior tende a puxar os juros e, por tabela, as ações de empresas que são mais sensíveis a essa variação, como as do setor imobiliário e do varejo, que dependem do crédito.

O que faz o dólar subir ou cair?

As altas e baixas do dólar são resultado de muitos fatores. Ele é o ativo financeiro com mais variáveis externas do mundo, como as expectativas de crescimento econômico do Brasil e do mundo. O que acontece com as maiores economias do planeta, como EUA e China, têm influência nessa conta. O desempenho dos chineses, nossos maiores parceiros comerciais, é muito importante. É para lá que vão nossas exportações — minério, petróleo, carne, soja, etc. Tem ainda a decisão de juros no Brasil — se a tendência é de alta, o dólar costuma cair, visto que muitos investidores trazem dinheiro para investir em renda fixa aqui, em busca de um retorno mais alto. A decisão sobre a taxa de juros nos EUA também é importante. Se os juros norte-americanos sobem, o capital tende a migrar para lá. Aí, o dólar sobe. Mas se os europeus sobem os juros, aí o dólar cai. E ainda tem a variável política. Governos com responsabilidade fiscal, adeptos de privatizações, tendem a atrair mais capital estrangeiro e o dólar cai. A geopolítica (em caso de guerra) ou eventos únicos, como uma pandemia ou uma crise bancária, também são relevantes. Isso porque esses fatos tendem a deixar os investidores com um pé atrás, com menos vontade de arriscar o dinheiro. Daí, mandam recursos para os EUA e o dólar sobe.

Os juros no Brasil são altos?

O BC fez um golaço, já que a inflação em muitos países está completamente descontrolada e pondo suas economias em risco. Como a lição de casa foi feita e a inflação arrefeceu graças à ótima gestão da política monetária, sim, há espaço para a queda nos juros. Antes não havia. Não à toa, o brasileiro Roberto Campos Neto foi eleito o melhor banqueiro central, durante a pandemia do coronavírus. A alíquota básica no Brasil, a taxa Selic, está em 13,75% ao ano, desde setembro de 2022. O nosso BC foi o que reagiu mais rápido. Com isso, a nossa inflação esfriou. Em 12 meses, ela está em 4,65%, já abaixo do teto da meta, que é de 4,75%. Isso pode permitir que os nossos juros caiam. Mas é um assunto delicado. A autoridade monetária tem a missão de deixar a inflação dentro da meta. O receio é sair cortando a taxa e a inflação se descontrolar. Por isso, há quem seja contra a redução. Existe o receio de que as incertezas fiscais, a alta do petróleo e os juros subindo nos EUA causem o aumento dos preços aqui.

Por qual motivo os juros estabelecidos pelo BC são tão diferentes dos pagos no crediário de um produto, como uma geladeira?

A taxa de juros básica da economia é uma referência. É a média de juros que o governo brasileiro paga por empréstimos tomados dos bancos. Ela é usada para definir as alíquotas de empréstimos para as famílias e para as empresas. Os bancos cobram mais das famílias e das empresas porque precisam embutir outros custos que têm para emprestar, como a administração da estrutura bancária (funcionários, agências, segurança), o risco de não pagamento (inadimplência), os impostos e, claro, as margens lucros. Como resultado, a taxa básica está em 13,75%, e os juros do crediário estão em 140% ao ano, atualmente.

Fonte: revistaoeste

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