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Descubra: risco de câncer com uso prolongado de Ozempic

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A alta popularidade nos últimos tempos tem levantado diversos questionamentos sobre o uso da semaglutida, comercializada como Ozempic. Indicada desde 2005 para tratamento do diabetes, e mais recentemente para a obesidade, discutem-se os riscos em longo prazo e a descoberta de resultados para outras doenças.

Em relação aos efeitos colaterais, os mais comuns ão do trato gastrointestinal, como náuseas, constipação e diarreia. Segundo Ana Flávia Torquato, endocrinologista que atua na linha de cuidados em obesidade do Complexo Universitário da UFC (Universidade Federal do Ceará), embora não seja possível garantir que nenhum efeito colateral indesejado possa ser constatado nos próximos 20 anos, os dados indicam que a medicação tem excelente perfil de segurança. “A semaglutida possui estudos com milhares de pacientes de alto risco, mostrando redução do risco de morte cardiovascular, tanto em pessoas com diabetes como em pessoas apenas com obesidade.”

Para Paula Pires, endocrinologista e especialista em obesidade, prevenção e tratamento de doenças metabólicas, a substância é considerada segura do ponto de vista mental, cardíaco e metabólico. “Os benefícios superam os riscos, que são pequenos, visto o grande impacto para a saúde que a obesidade e o diabetes tipo 2 proporcionam”, diz.

Em relação ao risco de desenvolvimento de tumores de tireoide, como relatado em estudos com roedores e alertado em bula e pela (agência regulatória de alimentos e remédios dos Estados Unidos), Torquato explica que o Ozempic é contraindicado em um subtipo raro de câncer de tireoide, chamado carcinoma medular, pois, em ratos, a semaglutida leva ao crescimento desses tumores. No entanto, ela afirma que é possível detectar a mutação genética que aumenta o risco de câncer e não há estudos que mostrem o efeito em humanos.

Alguns estudos observacionais encontraram um aumento de incidência de tipos mais comuns de câncer de tireoide em pessoas que usaram semaglutida, enquanto outros não chegaram a esse resultado. Portanto, não existe estudo clínico que comprove uma relação causal entre semaglutida e câncer de tireoide em humanos. Ana Flávia Torquato, endocrinologista

Para se ter ideia, uma análise de caso-controle sobre o uso de agonistas do receptor GLP-1 (caso da semaglutida) e o risco de câncer de tireoide, realizada com uso do banco de dados do sistema nacional de seguro de saúde francês, o SNDS, identificou risco aumentado de todos os tipos de câncer de tireoide e câncer medular de tireoide com o uso desses medicamentos, em particular após um a três anos de tratamento.

No estudo, publicado no periódico Diabetes Care em fevereiro de 2023, foram incluídos indivíduos com diabetes tipo 2 tratados com medicamentos antidiabéticos entre 2006 e 2018 e todos os cânceres de tireoide foram identificados por meio de diagnósticos de alta hospitalar e procedimentos médicos entre 2014 e 2018.

Indicação para outros distúrbios?

Além do diabetes e da obesidade, novos estudos ligam a substância a benefícios em longo prazo sobre outras condições, como doenças cardíacas, hepáticas, Parkinson e até ansiedade.

Conforme as especialistas consultadas, é difícil, no momento, saber se todos os resultados da semaglutida são decorrentes da perda de gordura corpórea e controle de glicemia, ou se existem efeitos que ocorrem de maneira independente, devido à sua ação direta nos órgãos.

Na opinião de Lívia Lugarinho, diretora do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a partir do momento que há o controle do diabetes e da obesidade, pode-se ter melhorias de outras enfermidades que são agravadas pelo sobrepeso, como a gordura no fígado, síndrome dos ovários policísticos e doenças ortopédicas.

Não quer dizer que a medicação seja aprovada para esse fim, mas espera-se benefícios com o controle do peso. A semaglutina foi a primeira substância, das medicações para tratamento de obesidade, que mostrou uma redução de 20% de morte por doença cardiovascular, e isso foi revolucionário. Se isso foi apenas pelo controle da gordura ou glicemia, ou por algum outro fator a mais, ainda não se sabe, mas eu, pessoalmente, acredito que não seja só pelo controle de diabetes e obesidade. Lívia Lugarinho, diretora do departamento de obesidade da SBEM

Sabe-se que o emagrecimento, especialmente a partir de 10% a 15%, melhora ou até reverte uma série de problemas de saúde. “Entretanto, como existem receptores de GLP-1 espalhados em diversas células do corpo humano, existe a possibilidade de uma ação direta do fármaco. Assim, essa pergunta ainda precisa esperar por vários outros estudos adicionais para ser respondida de forma apropriada”, pontua Torquato.

O que ocorre ao suspender a medicação?

Torquato detalha o estudo clínico em pessoas com obesidade e publicado no periódico JAMA em abril de 2021. No início da pesquisa, todos os pacientes começaram a tomar semaglutida subcutânea até completar 20 semanas, quando então foram divididos em dois grupos: um que continuou o uso da semaglutida e outro que passou a tomar placebo.

“Todos os pacientes perderam, em média, 10,6% de peso ao final da semana 20. Depois de um ano, o grupo de pacientes que manteve o uso da medicação perdeu adicionais 7,9%, enquanto o grupo que passou a tomar placebo reganhou em torno de 6,9%”, comenta a médica.

Tanto a obesidade quanto o diabetes são doenças crônicas e precisam ser tratadas continuamente. A regulação do peso corporal é um processo fisiológico complexo, conforme explica Torquato, que envolve ajustes hormonais que vão, eventualmente, levar ao reganho de peso na maioria das pessoas submetidas a uma dieta hipocalórica.

“O que a medicação faz é aumentar os impulsos cerebrais de saciedade e, assim, reduzir a ingestão calórica durante o seu uso. Porém, o efeito cessa após a suspensão.”

Nenhum medicamento para emagrecer levará a uma redução progressiva de peso, de acordo com Pires. Por isso, é comum as pessoas, ao entrarem no platô da perda de peso, pensarem que ele parou de funcionar ou que o corpo se acostumou.

Não podemos nos esquecer de que, para cada 1 kg de peso perdido, a fome aumenta cerca de 100 kcal e o metabolismo cai cerca de 30 kcal. Portanto, é natural sentir mais fome, além de notar um metabolismo mais lento. E isso também não significa que o remédio deixou de fazer efeito. Pelo contrário, sem ele, a fome certamente seria muito maior. Paula Pires, endocrinologista

A prova disso, segundo ela, é a recuperação de peso que sempre acontece nessa situação, quando os pacientes acreditam que o remédio deixou de apresentar resultados e o suspendem sem orientação médica. “Nenhum medicamento deixa de fazer efeito. Ou o corpo se acostuma, ou não tem êxito desde o início, ou seja, não conseguiu promover perda de pelo menos 5% a 10% do peso, ou atingirá a máxima eficácia em seis a 12 meses, estabilizando depois”, diz Pires.

A recomendação dela é que, caso a estabilização tenha ocorrido em um peso acima do que gostaria, deve-se conversar com o médico sobre a possibilidade de aumento de dose ou de associações de medicações. “Mas nunca suspendê-lo por conta própria, acreditando não funcionar mais.”

Fontes: Ana Flávia Torquato, endocrinologista, atua na linha de cuidados em obesidade do Complexo Universitário da UFC (Universidade Federal do Ceará); Lívia Lugarinho, diretora do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Paula Pires, endocrinologista e especialista em obesidade, prevenção e tratamento de doenças metabólicas.

Fonte: uol

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