Um crescente número de pessoas em todo o mundo tem optado por excluir alimentos de origem animal do cardápio. No Brasil, 46% dos brasileiros não consomem carne pelo menos uma vez na semana, segundo uma pesquisa feita em 2021 pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), antigo Ibope Inteligência, e encomendada pela SBV (Sociedade Vegetariana Brasileira).
Além disso, de acordo com o estudo, 32% dos brasileiros priorizam a opção vegana em restaurantes ou estabelecimentos, quando essa informação está destacada.
Em 2018, a SVB já havia encomendado uma pesquisa com o mesmo intuito, e os números apontavam que 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos, um crescimento de 75% em relação a 2012.
O número de veganos no país já é mais difícil de dizer, uma vez que não há pesquisas. Mas a SVB estima que seja mais do que 7 milhões de brasileiros.
O cálculo de veganos é feito com base nos números em outros países. Nos EUA, por exemplo, cerca de 50% dos vegetarianos (16 milhões de pessoas) se declararam veganos, e no Reino Unido, cerca de 33% dos vegetarianos (1,68 milhões de pessoas) se declararam veganos. Se usada a porcentagem mais conservadora (33%), temos que dos 30 milhões de brasileiros vegetarianos, cerca de 7 milhões seriam veganos.
Além dos números, a tendência pode ser notada nas gôndolas e freezers de supermercados que, agora, se diversificam em opções plant based (alimentos à base de plantas), cujo mercado faturou R$ 821 milhões em vendas no varejo em 2022, um crescimento de 42% em comparação a 2021, segundo dados da Euromonitor, empresa global de pesquisa de mercado.
Por que mais pessoas estão optando por não comer carne
O desejo de promover o bem-estar dos animais é um dos pilares da opção pelo vegetarianismo e do veganismo, segundo a nutricionista Alessandra Luglio. “Mas há agora uma vertente bastante grande de indivíduos que reconhecem o impacto ambiental da produção de alimentos de origem animal, incluindo o desmatamento associado à pecuária e às emissões de gases de efeito estufa”, observa ela, que atua como diretora do Departamento de Saúde e Nutrição da SVB.
Questões culturais, de religião, financeiras e de saúde também têm levado mais pessoas a aderirem a dietas sem carne. A artista visual Mariana Benedetto, 34, aderiu ao veganismo em 2014, numa transição do vegetarianismo que se iniciou em 2012.
“Ações como preparar uma carne ou vestir um sapato de couro me causavam desconforto e a opção por uma vida mais atenta às questões políticas, hábitos saudáveis e a busca de aperfeiçoamento espiritual me levaram por esse caminho”, conta Mariana, cujo marido e a filha, de 6 anos, também seguem o mesmo estilo de vida.
Qual a diferença entre veganismo e vegetarianismo?
Embora ambos os movimentos defendam o fim da exploração animal, as diretrizes do veganismo transcendem a esfera alimentar, englobando a exclusão de qualquer produto que possua ingredientes ou que tenha sido testado em animais.
“Muita gente fala que é um estilo de vida, mas eu prefiro dizer que é uma escolha, dentro daquilo que é possível e praticável na nossa rotina diária, a de não compactuar com nenhuma forma de abuso e crueldade com os animais”, defende Luglio.
Enquanto o vegetarianismo tem raízes históricas, estando conectado a várias filosofias e tradições ao longo dos séculos, o veganismo foi instituído como conceito em 1944, pela The Vegan Society.
A dieta seguida por vegetarianos apresenta algumas variações, incluindo:
Ovolactovegetarianismo: nesse estilo, o indivíduo evita carnes, mas ainda consome ovos, leite, seus derivados e mel.
Ovovegetarianismo: vai além, eliminando o consumo de leite e seus derivados, mas ainda permite ovos.
Lactovegetarianismo: neste caso, os ovos são excluídos junto com as carnes, mas o leite e seus derivados são mantidos na dieta.
Vegetarianismo estrito: aqui, o consumo de todos os produtos de origem animal é evitado, incluindo carne, ovos, leite, seus derivados e mel.
Benefícios para a saúde
A dietas sem carne estão ligadas a uma série de benefícios para a saúde, incluindo menor risco de obesidade, diabetes tipo 2, colesterol alterado e doenças cardíacas.
Artigo do Instituto Nacional do Câncer dos EUA defende que dietas a base de plantas também representam menor risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer, como de estômago, pulmão, boca e garganta.
Para a Associação Americana de Nutrição e Dietética, dietas veganas e vegetarianas são “saudáveis, nutricionalmente adequadas e apropriadas para todas as fases do ciclo de vida, incluindo gravidez e infância”.
Por outro lado, dietas vegetarianas e veganas mal planejadas podem resultar em baixa ingestão de alguns nutrientes, especialmente de vitamina B12, já que ela não está disponível em alimentos de origem vegetal, o que geralmente torna a suplementação necessária.
No entanto, segundo a nutricionista Caroline Beskow, a carência de B12 não é uma preocupação exclusiva dos veganos. “Frequentemente, não veganos também apresentam deficiência devido a hábitos alimentares inadequados”, diz.
A recomendação diária de ingestão de B12 é de 2,4 mcg para homens e mulheres, mas pode variar em caso de gravidez ou amamentação.
Dicas para quem deseja começar
Tenha uma geladeira bem colorida e varie a ingestão de vegetais e frutas, porque isso vai fornecer um aporte de diversos nutrientes. Busque informações, teste novas receitas, crie o hábito de cozinhar e, sempre que possível, busque um profissional qualificado que o acompanhará e ajudará nessa transição.
Também abuse de grãos integrais, leguminosas, sementes e produtos de soja. As profissionais ouvidas pelo VivaBem argumentam que alimentos que mimetizam o sabor da carne podem ser uma ferramenta interessante utilizada no momento de transição, que começa com a redução do consumo de carne.
“Não comemos só pela nutrição, mas também pelos momentos sociais e de prazer que o alimento nos proporciona. Assim, as carnes vegetais podem ser utilizadas em um churrasco, por exemplo, até que você não sinta mais vontade de comer esse alimento”, exemplifica Luglio.
A nutricionista sinaliza, entretanto, que a carne vegetal é um alimento industrializado e que por isso deve ser utilizada com parcimônia.
Fontes: Alessandra Luglio, nutricionista e diretora do Departamento de Saúde e Nutrição da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira); Caroline Beskow, nutricionista pós-graduada em nutrição em pediatria pelo IPGS (Instituto De Pesquisas Ensino E Gestão Em Saúde) e tem capacitação em atendimento de vegetarianos e veganos pela SVB; Larissa Ribeiro, nutricionista e mestranda no PPGNut (Programa de Pós-Graduação em Nutrição) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Fonte: uol