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Taise Spolti: Biofilme bacteriano – impactos na saúde e benefícios

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Um assunto que novamente vem tomando conta das redes sociais e em congressos é o biofilme bacteriano.

Não é novidade que um dos alertas de saúde à sociedade mundial, pela OMS e Opas, seja a resistência das bactérias e superbactérias para o uso dos antibióticos.

Mas qual a relação dos biofilmes com isso e por que eles estão sendo tão discutidos?

Há uma gama muito grande de bactérias que são capazes de formar uma camada espessa de proteção ao seu redor, como forma de evitar que agentes externos nocivos sejam os causadores de sua morte, ou seja, um antibiótico ou então outras bactérias que possam competir por substratos energéticos.

O ambiente onde vivem as bactérias, em especial o intestino, é um grande bioma e é justamente essa diversidade gigante de micro-organismos que ali vivem que faz com que muito substrato, produtos, subprodutos e metabólitos importantes sejam produzidos e que modulam diversos sistemas do nosso corpo, como sistema neurológico e imunológico.

Dentro desse sistema, algumas bactérias fazem então um aglomerado de proteção, e que ali mesmo produzem os seus próprios nutrientes, excluindo-se ‘do sistema’, formando então um biofilme, que é feito basicamente de polissacarídeos extracelulares, ácidos nucleicos, lipídeos e proteínas.

A função do biofilme vai além dessa proteção contra o ambiente externo a qual ele quer resistir, tem também o objetivo de fazer troca genética entre os micro-organismos que ali habitam. Sim, bactérias formadoras de bofilme, consideradas patogênicas, são um risco elevado à saúde humana e também um desafio a organizações de saúde publica.

Devido a suas capacidades de resistirem a antibióticos e elevarem a dificuldade no tratamento, são comumente relacionadas a ‘superbactérias’ ou ‘superresistentes’.

Biofilmes são frequentemente associados a infecções crônicas e persistentes, como as que ocorrem em dispositivos médicos (cateteres, próteses), pulmões (fibrose cística) e dentes (placa dental).

A proximidade física entre as células dentro do biofilme facilita a troca de material genético, incluindo genes de resistência a antibióticos.

Uma bactéria muito conhecida é o Fusobacterium Nucleatum, a relação entre Fusobacterium e o câncer colorretal revelou vários mecanismos potenciais através dos quais essas bactérias podem contribuir para a carcinogênese.

Fusobacterium nucleatum é frequentemente encontrado em maior abundância nos tecidos tumorais de pacientes com câncer colorretal em comparação com tecidos normais adjacentes. F. nucleatum pode induzir inflamação crônica no intestino, que é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de câncer.

A inflamação crônica pode causar danos ao DNA e promover um ambiente propício ao crescimento tumoral. Além disso, a bactéria possui adesinas específicas que permitem a sua adesão às células epiteliais do intestino e a sua invasão. Esse processo pode promover alterações nas células epiteliais que facilitam a transformação maligna, e esse é apenas um dos gêneros encontrados no nosso inestino que são formadores de biofilmes e que estão comumente relacionadas a inflamação e carcinogênese.

Mas nem todos os biofilmes são considerados ruins, e é justamente essa a minha ressalva, pois ao tentar combater de forma generalizada um problema com dois lados da moeda, você pode estar contribuindo para o enfraquecimento desse bioma e causando um desequilíbrio grande entre as bactérias e micro-organismos que são responsáveis justamente pela sua saúde e sua proteção.

As bactérias comensais, ou seja, as bactérias que são benéficas e que desempenham papel fundamental na modulação da sua saúde, como já falei diversas vezes aqui na minha coluna e como eu abordo de forma clara e profissional no meu Instagram, devem ser preservadas no nosso microbioma. São elas que protegem nossa barreira intestinal, possuem relação direta em eixos potenciais na nossa saúde, como eixo-intetino-cerebro, eixo-intestino-pancreas, eixo-intestino-rins etc.

A Akkermancia muciniphila, por exemplo, é uma das principais bactérias envolvidas na degradação da mucina no intestino, contribuindo para a manutenção da integridade da barreira mucosa e a homeostase intestinal. Além dela, outros gêneros estão associados à saúde intestinal e são formadoras de biofilmes, já bem descritos na literatura, como:

Bifidobacterium spp

– Benefícios: estão associadas à melhoria da saúde digestiva, fortalecimento do sistema imunológico, produção de vitaminas e inibição do crescimento de patógenos.

– Biofilme: As espécies de Bifidobacterium podem formar biofilmes que ajudam a proteger a mucosa intestinal e competir com microrganismos patogênicos.

Faecalibacterium prausnitzii

– Benefícios: Produz butirato, um ácido graxo de cadeia curta que é essencial para a saúde das células epiteliais do intestino, e tem propriedades anti-inflamatórias.

– Biofilme: Contribui para a manutenção da homeostase intestinal através da formação de biofilmes que suportam a estrutura da microbiota.

Lactobacillus spp.

– Benefícios: Contribuem para a fermentação de carboidratos não digeríveis, produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), fortalecimento da barreira intestinal e modulação do sistema imunológico.

– Biofilme: Espécies como Lactobacillus reuteri e Lactobacillus rhamnosus são conhecidas por formar biofilmes que ajudam na colonização intestinal e impedem a invasão de patógenos

Eubacterium rectale

– Benefícios: Também produtor de butirato, este micro-organismo está associado à saúde intestinal e à prevenção de doenças inflamatórias intestinais.

– Biofilme: A formação de biofilmes por E. rectale ajuda a proteger a mucosa intestinal e a sustentar uma microbiota equilibrada.

Estes são somente alguns exemplos de bactérias comensais importantíssimas para a nossa saúde, e que devem ter igual proporção no intestino para que desempenhem então essas funções.

Tratamentos, medicamentos, agressores externos, dieta desequilibrada, alcoolismo, poluição… São tantos os fatores que interferem nessa capacidade natural que os gêneros comensais têm de desempenhar os papéis benéficos ao nosso corpo, que um desequilíbrio ou a incessante busca pela eliminação de biofilmes de forma generalizada podem gerar dano de grandes proporções.

A correta abordagem da modulação da saúde intestinal ou do tratamento para eliminação de biofilmes é investigar o microbioma intestinal com grande varredura de micro-organismos (como o microbioma por shotgun) e somente então começar a tratar, fortalecendo as bactérias comensais e atacando as bactérias patogênicas. Lembrando que elas competem entre si, sendo assim, um microbioma feito de bactérias comensais fortes e saudáveis é o suficiente para um bom equilíbrio e combate natural aos patogênicos.

Fonte: uol

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