Sophia @princesinhamt
Food

”Alergia a carne após picada de carrapato: Mulher desmaia por reação severa”

2024 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Carne vermelha, leite, queijos, manteiga, iogurte e até gelatina. Elfriede Walzberg, 57, tem de eliminar esses e outros alimentos da dieta devido a uma alergia grave e potencialmente fatal: a síndrome de alfa-gal. Antes do diagnóstico, a analista junguiana e professora de dança circular teve reações alérgicas que incluíam coceiras e lesões na pele, diarreia, inchaço, falta de ar e desmaio. A VivaBem, ela conta como descobriu a condição.

“A primeira vez que tive reação alérgica foi bem forte, há cerca de 20 anos. Fui a um churrasco e de sobremesa comi sorvete, duas coisas que para quem tem essa alergia são alergênicas. É uma alergia incomum, que vai dar efeito seis horas depois. Então comi, voltei e tive a reação em casa.

Fui parar no hospital com coceira e manchas pelo corpo. Quando cheguei lá, me mandaram para o soro e minha respiração já não estava muito legal.

Depois de uma hora ou mais, saí de lá, e a moça da recepção falou que nunca tinha visto um paciente chegar queimado e sair bem. Ela pensou que eu estava com queimadura, de tanta urticária.

A urticária toma conta: começa pelo abdome, dá edema nas mucosas, afeta região genital, anal e começa a vir para cima, sinto tudo inchando. A sensação era de que eu não ia mais conseguir respirar.

Sem suspeita

Voltei a comer carne e às vezes vinha um pouco de alergia, mas eu não tinha a mínima ideia. Quando eu suspeitava de algo, tirava da dieta —e tirei um monte de coisa. Uma das grandes suspeitas era a pimenta, mas em nenhum momento cogitei que pudesse ser carne.

Eu vinha apresentando sempre uns sintomas ali e aqui, mas grave mesmo foram duas ou três vezes. Vem como um choque tardio, bem complicado, e quando você explica para as pessoas, elas acham que a alergia vai ser de imediato.

Uma vez fiquei bem ruim, vieram sintomas gastrointestinais fortes e cheguei a desmaiar, estava sozinha no quarto. Na época, a gente estava programando uma viagem em família e pensei que tinha que procurar uma solução.

Mas demorou um tempo para investigar. Eu comentava com os médicos, mas eles não ajudam muito, não tinham interesse. Passei um tempo no Mato Grosso e lá comia muita carne, foi quando começou a aumentar muito a frequência das alergias.

Vitor, meu marido, perguntou na empresa onde trabalhava se indicavam alergologistas. Fui e quando comecei a descrever para a médica, ela disse que provavelmente sabia o que era, mas pediu o exame para confirmar.

O alívio do diagnóstico

É muito importante ter o diagnóstico, porque ninguém acredita que você tem, parece fantasia. Quando mostro para as pessoas, começam a levar a sério.

Com o diagnóstico, comecei a restringir só o que não podia: faz sete anos que parei o consumo de carne e depois de dois anos parei com queijo e leite.

Posso comer aves, peixes, ovos e introduzi mais grãos. O chocolate, que amo, virou um problema para mim, porque mesmo o meio amargo tem leite, e não posso.

Se entro em contato com qualquer um deles, dá mal-estar, cólica forte na barriga, então estou sempre com meu antialérgico, caso comece a crise.

Até agora, não tive que ir para a emergência de novo. Consigo evitar da melhor forma possível e, quando não dá, sei o que é e tenho remédio.

Vida com cautela

A alergia cria situações incômodas na vida, para a gente e para os outros. Até hoje tenho dificuldade quando vou almoçar fora ou viajar. Em casa, meu marido come a minha alimentação e pede fora quando quer algo diferente. Leite, ele tem os dele e eu tenho os meus vegetais.

Quando vou para casa de amigos, fico constrangida, porque as pessoas sempre falam: ‘O que vou fazer para você?’ Eu levo algo para mim, mas eles acabam dando um jeito de tirar leite, usar óleo em vez de manteiga ou comprar produtos veganos.

Mas a maior dificuldade é em restaurantes. No self-service, que seria a melhor opção para mim, as colheres migram de um lugar para outro, tenho que perguntar se o feijão está com bacon. As pessoas têm que ter um pouco de paciência e eu também. Às vezes fico chateada, às vezes irritada.

Em maio, tive contato com alimento que tinha carne ou leite, comecei com fortes cólicas e diarreia. Tomei o antialérgico e depois de um tempo começou a diminuir o sintoma forte, mas tenho que tomar mais um ou dois dias além. Quando desanda a parte intestinal, leva um bom tempo para voltar ao normal.

Quando a gente viaja, não tenho controle de tudo que estou ingerindo, dá medo. Mas a partir do diagnóstico, você vai montando a vida com mais segurança, porque sei o que tenho, o que preciso cortar e o que tomar se tiver reação.

Também gosto de fazer trilha, estou sempre no meio do mato, e agora tento minimizar, porque a alergia que tenho é decorrente da picada do carrapato.”

O que é síndrome alfa-gal?

Trata-se de uma reação alérgica a galactose-?-1,3-galactose (alfa-gal), um carboidrato (açúcar) que se expressa em proteínas de mamíferos não primatas. Ela pode ser encontrada em carne bovina, suína e de cordeiro, por exemplo, carnes de órgãos (intestinos, corações, fígado) e no leite desses animais, bem como nos derivados, como manteiga, queijo e iogurte.

Outros alimentos podem representar risco: cubos de caldo de sopa, atum enlatado (porque pode ser contaminado por golfinhos ou baleias) e gordura de porco. Consumir gelatina é arriscado porque normalmente é derivada do colágeno da pele ou dos cascos de grandes mamíferos.

Por que ela ocorre?

A causa da síndrome é a picada do carrapato-estrela. Segundo Barbara Gonçalves da Silva, alergista especialista pela Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), a picada do carrapato Amblyomma cajennense induz a produção de anticorpos IgE (imunoglobulina E) específicos para alfa-gal em algumas pessoas.

Os seres humanos perderam a capacidade de produzir alfa-gal ao longo da sua evolução. Consequentemente, o alfa-gal passou a ter efeito imunogênico, ou seja, o organismo reconhece a molécula como estranha e provoca uma resposta imune no corpo. Barbara Gonçalves da Silva, alergista especialista pela Asbai e consultora médica em alergia no Laboratório Fleury

A alergia pode se manifestar de duas formas em pessoas já sensibilizados à picada de carrapatos:

imediata (primeiros 20 minutos), após o uso de medicamentos que contenham alfa-gal;

tardia (de duas a seis horas), após a ingestão de carnes vermelhas.

Quais são os sintomas?

  • Inchaço nos lábios, rosto, garganta, língua e outras partes do corpo;
  • Coceira e lesões generalizadas na pele, que descama;
  • Chiado no peito ou falta de ar;
  • Coriza e espirros;
  • Dor no estômago, diarreia, vômito e náusea.

Além desses sintomas, as reações mais graves se manifestam com:

  • Estreitamento das vias aéreas e inchaço da língua ou garganta, que dificulta a respiração;
  • Tontura e desmaio;
  • Pele pálida ou vermelhidão;
  • Pressão baixa;
  • Pulso fraco e rápido.

Silva fala também da anafilaxia de início tardio. É uma reação grave que pode levar à morte se não reconhecida e tratada adequadamente de forma rápida.

Habitualmente, a anafilaxia ocorre cerca de minutos até duas horas após a exposição a um alérgeno. No caso da alergia a alfa-gal, a reação tardia dificulta o diagnóstico, pois nem sempre é feita a correlação dos sintomas tardios com a ingestão de carne. Barbara Gonçalves da Silva, alergista

Nem todas as pessoas têm reações. Mesmo com anticorpos IgE para alfa-gal, alguns podem não ter reações em todas as vezes que come carne de mamíferos. Outros podem tolerar a carne novamente depois de evitar mais picadas de carrapatos durante um a dois anos.

Como o diagnóstico é feito?

É preciso analisar a história da pessoa e fazer testes alérgicos. A avaliação inclui testes cutâneos para alfa-gal, testes de provocação oral (em casos muito específicos) e mensuração de anticorpos IgE para alfa-gal. Silva alerta que os resultados devem ser avaliados com muito cuidado para evitar restrição alimentar desnecessária.

“Os níveis de IgE específica para alfa-gal não estão relacionados com a gravidade da síndrome e não existe um valor a partir do qual se defina que a pessoa tem a síndrome”, diz a médica. “Esse teste não distingue pessoas com a síndrome de pessoas assintomáticas com sensibilização a alfa-gal.”

Maria Cantalogo, especialista da Thermo Fisher Scientific, fala da importância de se fazer um teste específico de igE para alfa-gal, diferente de um exame que testaria para alergia à carne de modo geral. “A gente tem o alérgeno completo que é a carne. Com o advento da alergia molecular, criamos alérgenos moleculares, componentes específicos com informações específicas e próprias daquela proteína”, explica.

Uma pessoa com alergia à carne, sem síndrome alfa-gal, eventualmente tomaria os mesmos cuidados de quem tem a condição, mas saber o detalhe do alérgeno faz diferença na recomendação de evitar o contato com carrapatos.

Quais são os cuidados para quem tem a síndrome?

Quando há hipersensibilidade, não se deve comer carne vermelha e é preciso evitar as picadas de carrapatos.

Para quem tem histórico de anafilaxia, é importante andar com uma caneta de adrenalina.

“Não se recomenda a retirada do leite e produtos lácteos da dieta de adultos e crianças com alergia alfa-gal, exceto nos casos de persistência dos sintomas”, diz Silva.

Fonte: uol

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.