A dieta da saúde planetária, que propõe mudanças à alimentação humana que também possuam baixo impacto ao meio ambiente, pode prevenir perda de memória e o declínio da cognição (que inclui processos de percepção, atenção, raciocínio e linguagem, entre outros) em longo prazo, concluiu o estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) da USP, publicado em junho na revista Nature.
Mas envelhecer com saúde custa caro.
Pesquisadores liderados pela professora Claudia Kimie Suemoto, da Faculdade de Medicina da USP, acompanharam a saúde de 11.737 participantes ao longo de oito anos, sendo que o grupo tinha idade média de 51 anos quando os trabalhos começaram, com um maior número de mulheres (53,9%), pessoas brancas (52,8%) e de nível universitário ou maior (56%).
Os resultados revelaram que, aqueles que aderiram mais à dieta apresentaram, quase uma década depois, perda mais lenta de memória. No entanto, os participantes de alta renda tiveram melhores resultados do que aqueles de baixa renda. E a explicação pode estar nos alimentos que classes sociais diferentes privilegiam ao realizar uma refeição.
Os participantes mais ricos do estudo relataram comer mais nozes, carne vermelha, aves, vegetais, tubérculos e açúcar. Já os de baixa renda preferiram feijões, peixe, frutas, laticínios, óleos e gordura animal.
De maneira geral, a pesquisa apontou que o consumo de vegetais de folhas verdes escuras, aves e menor consumo de óleo estão ligados a um declínio mais lento da cognição global, ou seja, demências que chegam mais tarde.
Para a pesquisadora, a falta de associação entre a adesão à dieta e declínio cognitivo nos participantes de renda mais baixa podem significar que muitos estão enfrentando dificuldades de acesso aos alimentos que compõem a dieta planetária. Por isso, ela pede por mais políticas públicas que permitam que aqueles com orçamentos menores possam comprar o que for mais saudável.
“A gente sempre falava nas aulas para os alunos de medicina que, para prevenir doenças cognitivas, as pessoas deviam comer castanha, salmão, abusar do azeite de oliva, que são evidências que a gente tinha previamente da dieta mediterrânea fazendo bem para a cognição. No entanto, esses alimentos são todos muito caros. Como aplicar essa dieta em pacientes mais pobres? A taxa de adesão a essa dieta é basicamente só em pacientes ricos”, queixou Claudia em entrevista à Radio USP.
Como é a dieta da saúde planetária?
A dieta da saúde planetária é uma proposta da comissão EAT-Lancet para uma dieta universal de referência que também atinja os ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), uma agenda de metas da ONU para um mundo com menos pobreza, desafios ambientais e climáticos, crescimento econômico, igualdade de direitos, saúde, educação, Justiça, entre outros.
“A gente sabe que dieta saudável é rica em frutas, vegetais e alimentos integrais. A dieta planetária traz mais um elemento: além de ser boa para cada um de nós é boa para o planeta. Por exemplo, a carne, se consumida em excesso, faz mal para o planeta. A criação exploratória do gado leva a vários impactos ambientais”, explicou ainda Claudia à rádio.
Em um artigo de 2019, a comissão delineou as orientações gerais do que aqueles que adotam a dieta comem:
Aumento no consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, legumes e castanhas
Além de diminuição em pelo menos 50% (nos países desenvolvidos) do consumo de carne vermelha, açúcar e grãos refinados
E cada grupo de alimentos adotados deve ter sua produção operando de maneira segura dentro dos seis sistemas do planeta.
Fonte: uol