De acordo com a FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), a fraude alimentar ocorre quando um fornecedor de alimentos engana intencionalmente o seu cliente sobre a qualidade e o conteúdo dos alimentos que está comprando.
Essa estratégia tem motivação financeira, para o lucro da empresa, e pode ocorrer de algumas formas:
- Adição ou substituição de um componente;
- Rótulo incorreto (origem do produto e data de validade alteradas, por exemplo);
- Comercialização de produtos originais fora da cadeia regulatória;
- Produtos que simulam o original;
- Falsificação de produtos.
Ranking dos mais fraudados
Em março, especialistas em certificação de cadeias produtivas das empresas americanas FoodChain ID, Henry Chin and Associates e Moore FoodTech e do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) do Brasil divulgaram um estudo que examinou mais de 15 mil registros públicos, coletados entre 1980 e 2022. A análise dos dados revelou os dez alimentos mais sujeitos a fraudes no planeta:
- Leite de vaca
- Azeite extravirgem
- Mel
- Carne bovina
- Chili Powder (um mix de condimentos, como pimentas, páprica, cominho, sal)
- Azeite
- Cúrcuma em pó
- Leite em pó
- Vodka
- Ghee (manteiga clarificada)
O estudo completo abrange um total de 21 alimentos. Além dos já mencionados, a lista inclui suco de laranja, leite de cabra, vinho, carne de frango, carne moída, uísque, licor (sem especificação), mel de acácia, azeite de oliva virgem, açafrão e óleo de gergelim.
Os países com o maior número de fraudes detectadas foram Índia, China, Estados Unidos, Itália e Reino Unido. O Brasil ocupa uma posição intermediária nesse ranking, junto com outros países da Europa, Ásia e África.
Os mais fraudados no Brasil
Segundo o estudo realizado pelo Mapa, alguns dos produtos mais frequentemente adulterados no Brasil em 2023 foram:
- Vinho
- Café
- Azeite
- Suco concentrado
- Suco natural
- Vinagre e fermentados acéticos
- Água de coco
- Feijão
- Refrescos e preparados
Em 2023, os fiscais brasileiros apreenderam 131 mil litros de azeite suspeitos de fraude, conforme dados do Mapa. Além disso, foram apreendidos 66 mil litros de água de coco, 57 mil litros de vinho e 45 mil quilos de café.
Quanto aos produtos de origem animal, o Mapa informou que o Dipoa (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal) analisou indicadores específicos de fraude no ano passado.
O índice de conformidade do leite pasteurizado foi de 94,04%, indicando que aproximadamente 6% das amostras analisadas estavam fora dos padrões estabelecidos, possivelmente adulteradas com soro de leite, açúcares, sais, conservantes e outras substâncias proibidas. Para o leite UHT, o índice de conformidade foi de 90,15%, enquanto para o leite em pó foi de 93,41%.
No caso de frango congelado, foi detectada a adição de água, resultando em um índice de conformidade de 83,46%. Entre os pescados, a avaliação da quantidade de água adicionada para o congelamento revelou um índice de conformidade de 91,3%, conforme apontado pelo Mapa.
Riscos à saúde
Além de enganar o consumidor, a FAO alerta que as fraudes alimentares podem representar uma ameaça direta à saúde.
O caso da melamina no leite, por exemplo, levou ao adoecimento de mais de 300 mil pessoas na China em 2008, além da morte de seis bebês.
Já um caso de azeite adulterado na Espanha resultou em uma síndrome que desencadeou aproximadamente 300 mortes e desenvolvimento de doença crônica.
Indiretamente, as adulterações fazem com que a qualidade nutricional dos alimentos não seja a prometida na embalagem, tirando do consumidor os benefícios pelos quais ele pagou.
O estudo atual revela que 46% dos casos de adulteração de alimentos apresentam algum risco potencial à saúde dos consumidores. Isso significa que quase metade dos produtos adulterados pode causar danos à saúde de quem os consome.
Como reconhecer fraudes?
Frequentemente, as adulterações ilegais durante a fabricação são tão sofisticadas que é quase impossível detectar qualquer alteração no aspecto do produto final. Por isso, é essencial confiar nos cientistas e nas instituições responsáveis pela fiscalização —no Brasil, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Porém, diariamente surgem novas fraudes ou maneiras de driblar os métodos analíticos que existem para identificar esses problemas. Embora a ciência continue a progredir e ofereça novas possibilidades, há algumas dicas simples que todos os consumidores podem seguir para evitar certas fraudes:
Desconfie de preços extremamente baixos em comparação ao mercado;
Verifique os selos de inspeção ou fiscalização nos rótulos dos alimentos, como o SIF (Selo de Inspeção Federal) ou as versões estaduais e municipais;
Se você notar alguma alteração significativa no sabor, textura, aroma ou outros aspectos de um alimento que costuma comprar, entre em contato com o serviço de atendimento ao cliente da empresa ou registre uma denúncia no Mapa ou na Anvisa.
*Com informações de reportagem publicada em 26/12/2023
Fonte: uol