Uma freira mística e lésbica. Essa é a protagonista de Benedetta, filme do provocador cineasta de Instinto Selvagem (1992), Paul Verhoeven. Como era de se esperar, o longa-metragem, baseado em fatos reais, provocou protestos de grupos cristãos conservadores.
Benedetta é baseado em uma história real, embora Verhoeven tenha ficcionalizado alguns elementos do filme em favor da narrativa do filme. Benedetta Carlini era uma mulher nascida em 1591 que cresceu em uma família italiana de classe média. Em tenra idade, ela entrou no Convento da Mãe de Deus em Pescia (Itália) para se tornar uma freira.
Aos 30 anos, foi nomeada abadessa e começou a ter visões de homens que queriam matá-la. Seus companheiros temeram que ela estivesse possuída pelo demônio e sua história chegou a Roma. Naquela época, o papado queria silenciar os místicos que mostravam sinais de uma espiritualidade que não correspondia aos costumes religiosos estabelecidos.
Quando os altos escalões da Igreja Católica visitaram o convento de Benedetta, descobriram que ela mantinha uma relação lésbica com outra das freiras: Bartolomea. Este último testemunhou, afirmando que elas tiveram relações sexuais quando Benedetta estava possuída pelo espírito de um demônio chamado Splenditello. Por isso, Benedetta foi presa, afastada do cargo de abadessa e colocada sob custódia até sua morte em 1661. Bartolomea morreu um ano antes dela.
UMA ESTATUETA DA VIRGEM MARIA TRANSFORMADA EM DILDO
Para o filme, Verhoeven se baseou no livro escrito pela historiadora Judith C. Brown intitulado “Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy”. No entanto, deu alguns toques pessoais à produção. No longa-metragem, por exemplo, uma figura de madeira da Virgem Maria é transformada em um vibrador, usado pelo casal protagonista.
Isso, somado a outros encontros sexuais entre Benedetta e Bartolomea — interpretada no filme por Daphne Patakia —, provocou a ira dos grupos mais católicos. Por exemplo, a agência de notícias com sede em Lima (Peru) ACI Prensa iniciou uma coleta de assinaturas para “interromper a transmissão” do filme de Verhoeven, o qual qualificou como “blasfêmia”.
Na Rússia, segundo a agência TASS, o filme foi proibido pelo ministério da Cultura por seu “conteúdo provocativo” e, embora sua estreia estivesse marcada para 7 de outubro, foi negada a licença de distribuição.
Benedetta também foi exibido no Festival de Cinema de Nova York e um grupo de católicos protestou contra. Seus cartazes diziam mensagens como: “Pare com a blasfêmia agora!”, “Por que os insultos intermináveis a Jesus?”, “Protestamos veementemente contra o filme blasfemo Benedetta, que insulta a santidade das freiras católicas”, “Difamação não é liberdade de expressão “, “Pare de ofender a Deus” e “Sou católico, pare de atacar minha fé”.
Em resposta aos protestos, Verhoeven, comentou: “Você não pode mudar a história. Você não pode mudar as coisas que aconteceram. E eu me baseei em coisas que aconteceram”, disse ele à Variety. “Então, acho que a palavra ‘blasfêmia’ neste caso é estúpida.”
Fonte: adorocinema