A palavra “burnout” significa, literalmente, falha por superaquecimento. Não à toa, a imagem mais associada a esse problema é a do fósforo com a cabeça queimada. Atualmente, o Brasil é considerado o segundo país com mais casos de cansaço mental, físico e emocional desencadeados pela sobrecarga de trabalho. O Dicas de Mulher conversou com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), que explicou as causas e consequências da síndrome de burnout.
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O que é a síndrome de burnout?
A síndrome de burnout é o esgotamento causado pelo trabalho. “Acontece uma exaustão, bem como um distanciamento do trabalho e um esforço cada vez maior para dar conta das responsabilidades profissionais. Então, basicamente, é isto: a pessoa não está dando conta do trabalho e ela vai se esforçando cada vez mais”, define Danielle.
De acordo com a especialista, qualquer pessoa pode desenvolver esse quadro. “Sabemos que ele é mais frequente em profissões muito estressantes, como médicos, policiais e professores”. Um exemplo de gatilho de burnout: alguém precisa muito de dinheiro, sustenta a casa, consequentemente, não pode sair de seu trabalho, entretanto está infeliz. Tudo isso desencadeia uma sobrecarga mental, emocional e física.
Causas da síndrome de burnout
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout é uma condição ocupacional, ou seja, está ligada ao trabalho. Danielle reforça que, em geral, o quadro é desencadeado devido a um ambiente desfavorável, seja por ter circunstâncias extenuantes (como horário noturno, acúmulo de grandes responsabilidades, excesso de funções e cargas de horas extra) ou/e por características da pessoa (autocrítica, autocobrança, dificuldade em dizer não ou impor limites).
Vale reforçar que a pessoa não é culpada. Existem diversos aspectos culturais que alimentam o burnout, por exemplo, o desemprego e a cobrança por performance nas empresas. “Há uma exigência muito grande por resultados cada vez maiores, mais rápidos e melhores. Obviamente, chega uma hora que as pessoas não dão conta de atingir todos os objetivos”, afirma a especialista.
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Mulheres estão mais propensas a desenvolverem a síndrome de burnout. “Além do trabalho, elas acumulam funções da casa, responsabilidade com filhos etc.” O desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal (pendendo, é claro, para a priorização do primeiro) traz os problemas à tona. Em muitos casos, a pessoa passa a viver para os objetivos profissionais, deixando de lado seus hobbies e bem-estar.
O fósforo vai queimar: sintomas da síndrome de burnout
Normalmente, o burnout não surge do nada, ele envia sinais. Por exemplo, “a pessoa está trabalhando, porém apresenta um rendimento cada vez menor ou pior. Então, ela vai se esforçando muito para tentar alcançar, sem êxito, o que ela considera um bom resultado”. Um círculo vicioso, não é mesmo? Entretanto, os sinais, na maioria das vezes, são ignorados ou encarados como falhas. Assim, surgem sintomas emocionais e físicos:
Sintomas emocionais
- Irritabilidade aumentada
- Ansiedade
- Dificuldade de concentração
- Pensamentos negativos e intrusivos
- Sensação forte e constante de incompetência
- Alterações de humor
- Isolamento
Sintomas físicos
- Dores nas costas e outros músculos
- Dores de estômago
- Deficiência do sono
- Dores de cabeça
- Cansaço excessivo
- Alterações de apetite
- Aumento da pressão arterial
- Mudanças no ritmo intestinal.
Aos poucos, a síndrome de burnout sai do ambiente de trabalho e começa a impactar a vida da pessoa em todas as esferas. Por isso, ao notar a persistência dos sintomas acima, procure ajuda de um psiquiatra e um psicólogo.
Diagnóstico da síndrome de burnout
Ao buscar um psiquiatra, ele tentará entender o que está acontecendo. “A gente faz o diagnóstico de uma maneira clínica, não precisa fazer nenhum exame. Em geral, quem traz a pessoa com síndrome de burnout é um familiar ou um amigo”, contextualiza Danielle.
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É comum o paciente apresentar depressão e ansiedade. Para determinar se é a síndrome de burnout, o especialista analisará o histórico profissional da pessoa. “Ao fechar o diagnóstico, o mais importante é ter essa relação com o ambiente empregatício”.
Tratamento da síndrome de burnout
Uma vez que o problema é identificado, o primeiro passo é interromper o ciclo de burnout, o que invariavelmente vem com o afastamento do ambiente que está sendo nocivo ao paciente. É importante aproveitar isso para construir outras relações significativas: “começar a pensar em situações familiares, em relacionamentos, voltar a ter hobbies, entre outras atividades diversificadas”.
A psicoterapia é importante para a pessoa encontrar um equilíbrio. “A gente precisa lembrar que cada um tem o seu jeito de funcionar, né?” Já o tratamento medicamentoso é necessário em casos de ansiedade, depressão ou sintomas relacionados, “então, tudo depende do quadro apresentado”.
Prevenção da síndrome de burnout
O burnout depende muito do ambiente profissional, principalmente se a cultura organizacional é voltada à alta performance. No entanto, a postura da pessoa pode amenizar ou aumentar os impactos dessa síndrome. O primeiro passo é estar atenta aos sinais e procurar ajuda o mais rápido possível. No dia a dia, cuide da sua saúde mental. Confira as dicas abaixo!
Não viva para seu trabalho
É muito importante olhar para seu trabalho e encará-lo como uma parte de sua vida, entretanto não viva apenas para as questões familiares. “Quando você tem hobbies, sua família, um círculo social, você acaba investindo em outras situações além do trabalho”, pondera Danielle.
Aprenda (e ensine!) o que são prioridades
Estabelecer limites no trabalho significa, muitas vezes, aprender a dizer os “nãos” corporativos. Caso algum superior chegue demandando mais do que você consegue executar, questione as prioridades, mostre o que está ao seu alcance no momento e argumente: ‘agora não vai dar’ ou ‘preciso, então, postergar outra coisa’. Essas são boas formas de colocar limites.
Estabeleça uma rede de apoio
Tenha pessoas ao seu redor para te ajudar a enxergar a realidade. Muitas vezes sua família, amigos, colegas de confiança no trabalho ou parceria conseguem perceber que os seus limites estão sendo ultrapassados. Além disso, com a troca de diálogos, podem surgir perspectivas diferentes.
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Atividades físicas
A atividade física ajuda a liberar hormônios importantes para o bem-estar, como a serotonina e a dopamina, que atuam na redução do estresse. Além disso, muitas vezes, a atividade física pode se tornar um excelente hobby e uma forma de autocuidado.
Hábitos saudáveis
Alimentação equilibrada e tempo de sono são fundamentais para o bom funcionamento do organismo. No mais, vale lembrar que a sua saúde precisa ser prioridade. Separe um tempo para escolher sua refeição com calma, durma a quantidade de horas suficiente para estar descansada e priorize hábitos saudáveis. O trabalho não pode ser o protagonista da sua vida, você faz a sua história.
Não se culpe e conheça seus direitos
Com o aumento desenfreado de casos de burnout, a questão não é individual, mas, sim, social. É preciso olhar de perto para as culturas empresariais: valores, demandas, relação entre funcionários e chefias, clima organizacional etc. Não adianta a empresa oferecer auxílio psicológico se não há um trabalho de conscientização das chefias, incluindo a diretoria e presidência. Por isso, não se culpe se você tiver um burnout e use isso para apontar ao seu RH os problemas dentro de sua companhia. Nem sempre isso trará soluções, mas pode ajudar!
Com a síndrome de burnout, vem o esgotamento emocional, a sensação de fracasso, o medo de não atingir as expectativas da empresa, a competição entre colegas de trabalho, entre outras questões. Lembre-se que você não é um número, é uma pessoa que merece qualidade de vida.
Fonte: dicasdemulher