📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Entre os anos de 2010 e 2015, os cursos de água contaminados na Índia tiveram uma enorme crescente, e grande parte do problema pode ser atribuído à indústria farmacêutica
  • Nos últimos 2 anos, a poluição na Índia sofreu uma grande piora, apesar dos apelos à ação em 2016. Uma grande empresa de investimento está renovando o apelo à ação, pedindo à indústria farmacêutica para assumir responsabilidade pela poluição provocada pela mesma
  • Amostras de água perto de fábricas de medicamentos em Hyderabad, revelam que significativas quantidades de solventes industriais tóxicos e metais pesados estão sendo liberados nos cursos de água da cidade
  • Estudos também concluíram que os efluentes não tratados libertados pelas fábricas que fazem antibióticos, podem representar um grave risco ao criarem resistência aos antibióticos no ambiente
  • As empresas farmacêuticas que terceirizam a produção de ingredientes para a Índia são requisitadas a terem medidas proativas para acabar com a poluição decorrente de suas ações. As agências reguladoras e médicas também precisam de critérios ambientais aos padrões de boas práticas de fabricação

🩺Por Dr. Mercola

A poluição ambiental é uma grande preocupação e as fontes de poluição tóxica são diversas. Uma fonte não muito citada é a indústria farmacêutica. Em 2016, a fundação sem fins lucrativos Changing Markets publicou um relatório sobre os “Impactos da poluição farmacêutica nas comunidades e no meio ambiente na Índia,” em nome da Nordea Asset Management, uma grande empresa de investimentos na Suécia.

Segundo esse relatório, grande parte do problema de poluição da água na Índia pode ser decorrente da indústria de medicamentos genéricos. Entre 2010 e 2015, o número de hidrovias contaminadas na Índia teve um crescente aumento e, até 2015, mais da metade dos rios do país estavam poluídos. O baixo custo de fabricação da Índia trouxe diversas empresas farmacêuticas para se estabelecerem, reunindo-se na cidade de Hyderabad e ao longo da costa de Andhra Pradesh.

Segundo um inquérito econômico realizado pelo Ministério das Finanças da Índia, a indústria farmacêutica de Hyderabad é responsável por quase metade das exportações de medicamentos do país. “A externalização da produção para os mercados emergentes, onde a mão-de-obra é barata e as leis ambientais não possuem tanta influência, tornou-se agora uma segunda natureza para as grandes empresas farmacêuticas, muitas das quais estão sediadas nos EUA e na Europa,” observou o relatório.

O relatório também destacou haver uma falta de transparência dentro da indústria farmacêutica a respeito da origem dos ingredientes ativos e dos medicamentos acabados, e que embora os reguladores “que poderiam exigir maior transparência da indústria farmacêutica, até agora não foram cobradas a respeito de medidas.”

Relatório chama atenção para a crise de poluição que está ocorrendo na Índia

Num relatório de acompanhamento, a Changing Markets Foundation chama agora uma atenção renovada para a crise de poluição em Hyderabad, com foco nos metais pesados e outros resíduos tóxicos poluentes criados pela indústria de “medicamentos a granel” que se localiza na Índia.

Com base em visitas à área, entrevistas com especialistas e moradores locais, e análise de pesquisas publicadas e artigos da mídia, o relatório conclui que as empresas farmacêuticas em Hyderabad continuam a “descartar águas residuais não tratadas ou tratadas de maneira inadequada no meio ambiente, além disso, as autoridades locais e nacionais não estão de fato conseguindo controlar a situação.”

Na verdade, nos 2 anos desde a publicação do primeiro relatório, a situação em Hyderabad piorou ainda mais. Os planos para expandir a produção de medicamentos na cidade, combinados com a falta de regulamentos para o controle das emissões de resíduos tóxicos, criam “um futuro incerto” para os residentes da área, alerta o relatório.

Além da liberação de efluentes não tratados, as investigações dos meios de comunicação locais revelaram a prática ilegal de despejo de resíduos tóxicos, onde as empresas farmacêuticas descartam resíduos perigosos durante a noite, utilizando veículos não identificados. A mortalidade de muitos peixes também se destacou nas manchetes, e descobriu-se que os peixes mortos continham solventes tóxicos utilizados ​​durante o processo de fabricação de medicamentos.

Amostras de água perto de fábricas de medicamentos na área, coletadas em setembro de 2017, revelam grande quantidades de metais pesados que serão liberados nos cursos de água, como o chumbo, mercúrio, cobre, cádmio, vanádio, crómio hexavalente, níquel, zinco e arsénico, além de solventes industriais tóxicos.

“Em alguns casos, foi descoberto que esses estavam presentes em concentrações bem elevadas, ordens de grandeza superiores aos limites regulamentares máximos ou aos níveis de exposição seguros, o que aponta para um potencial substancial de risco humano e ecológico,”o relatório afirma, acrescentando, “A mera presença de algumas dessas substâncias é motivo de alarme, dada a sua extrema toxicidade.”

A produção de antibióticos apresenta graves riscos ao meio ambiente

O relatório também destaca estudos anteriores, onde mostram que as fábricas de antibióticos representam um grave risco ao alimentarem a resistência aos antibióticos no ambiente. A poluição por antibióticos é um problema não apenas na Índia, mas também na China, Paquistão, Coreia, Dinamarca, Noruega e Croácia, e promove o desenvolvimento de agentes patogénicos resistentes aos medicamentos.

Em novembro de 2016, pesquisadores da Universidade de Leipzig, Alemanha, coletaram amostras de água “do ambiente das instalações de fabricação de medicamentos, nas proximidades de duas estações de tratamento de esgoto, no rio Musi e nos habitats em Hyderabad [sul da Índia] e aldeias vizinhas.”

Foram pesquisados 28 locais de amostragem, e as amostras de água foram analisadas em busca de 25 fármacos anti-infecciosos, bem como patógenos multirresistentes e certos genes de resistência. Todas as amostras estavam contaminadas com antimicrobianos, incluindo elevadas concentrações de moxifloxacina, voriconazol e fluconazol. Os esgotos da área também continham concentrações elevadas de 8 outros antibióticos.

Algumas amostras continham antimicrobianos em níveis de até 5.500 vezes superiores ao limite da regulamentação ambiental. Além disso, mais de 95% das amostras também continha bactérias e fungos multirresistentes.

Os pesquisadores classificaram essa contaminação com produtos farmacêuticos antimicrobianos como “sem precedentes” e atribuíram o fato à “gestão insuficiente de águas residuais pelas instalações de fabricação de medicamentos, podendo estar ligada à seleção e disseminação de patógenos produtores de carbapenemases.”

Antibióticos tóxicos poluem os cursos de água e as terras agrícolas da Índia

Durante o processo de fabricação de medicamentos, quantidades significativas de antibióticos são eliminadas nas águas residuais, que em seguida chegam aos rios, à água potável e às terras agrícolas.

A estação de tratamento de água de Patancheru, localizada perto de Hyderabad, recebe 400.000 galões de águas residuais de 90 empresas farmacêuticas todos os dias. Todo esse efluente industrial é combinado com águas residuais domésticas, das quais menos de 25% são de fato tratadas com exatião.

Investigadores suecos, que estudaram e publicaram relatórios ambientais sobre Hyderabad desde 2007, relataram que alguns níveis de medicamentos encontrados nas águas residuais são mais elevados do que os encontrados no sangue dos pacientes. O pior agente contaminante da água detectado foi o antibiótico “ciprofloxacina,” que foi encontrado numa concentração elevada para dar a 44.000 pessoas um tratamento completo.

Cipro é um antibiótico fluoroquinolona, uma classe de medicamentos antibacterianos sintéticos, responsáveis por inibir a síntese de DNA bacteriano, além de terem sidos associados a danos permanentes nos nervos de alguns pacientes. Devido aos seus riscos para a saúde, as fluoroquinolonas devem ser reservadas para o tratamento de infecções bacterianas graves que não responderão a qualquer outro tratamento. A ideia de que o Cipro está a ser disseminado a esses níveis no ambiente e na água potável das pessoas é no mínimo desconcertante.

Poluição devido à antibióticos promove disseminação de genes resistentes a medicamentos

Os investigadores também confirmaram que estas águas residuais são tóxicas para diversos organismos e promovem genes resistentes aos medicamentos. Amostras de DNA colhidas das instalações de fabricação de medicamentos, revelam que quase 2% das amostras apresentam genes resistentes aos medicamentos. Além da ingestão direta, as águas residuais contaminadas também chegam aos campos agrícolas através da irrigação e do lodo (biossólidos) utilizado como fertilizante.

Os genes resistentes aos medicamentos são espalhados, partilhados e multiplicados por todo o ambiente. Um artigo de 2013 publicado em Perspectivas de Saúde Ambiental, trouxe opções para controle que possam reduzir genes resistentes a antibióticos e medicamentos no meio ambiente, como práticas de descarte seguro, tratamento de águas residuais e biossólidos, limitando o uso agrícola e aquícola de antibióticos e usando alternativas aos antibióticos. Porém, até o momento, os reguladores e a própria indústria não fizeram nada.

Fabricas de medicamentos indianos podem perder contratos de fornecimento europeus

Segundo a Changing Markets, os fabricantes de medicamentos indianos que não conseguirem mudar sua situação, poderão perder a sua vantagem competitiva no mercado. Segundo o relatório:

“As ONG europeias apelaram aos principais organismos de aquisição, incluindo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, as companhias de seguros de saúde alemãs e os hospitais franceses, para colocarem em uma espécie de lista negra os poluidores mais infratores e incorporarem critérios ambientais em todos os contratos com fornecedores farmacêuticos.

Diversas dessas organizações estão revendo a situação. Na Suécia, as regiões do país uniram-se e introduziram critérios e auditorias ambientais em seus contratos.”

Sasja Beslik, dirigente do Grupo de Finanças Sustentáveis ​​da Nordea, também alertou que “A indústria farmacêutica tem que ter medidas para combater a poluição nas fábricas indianas que fornecem medicamentos para o mercado global,” acrescentando que a Nordea está disposta a “continuar o envolvimento com a indústria farmacêutica com finalidade de apresentar soluções construtivas e concretas para esses desafios significativos que estão afetando milhões de pessoas e o ambiente.” A gerente de campanha da Changing Markets, Natasha Hurley, também enfatizou que:

“As empresas farmacêuticas multinacionais que subcontratam a produção de API [ingrediente de produto ativo] para a Índia para reduzir custos e maximizar os lucros têm a responsabilidade de tomar medidas rápidas para pôr fim à poluição em sua produção.

Devido à falta de transparência na indústria e o progresso lento que as grandes empresas farmacêuticas globais têm feito até à data, é de grande importância que os reguladores introduzam critérios ambientais que protejam contra as más práticas, tanto a nível nacional como internacional.”

A poluição devido a fabricação de medicamentos deve ser combatida

Segundo o relatório, a poluição proveniente da fabricação de medicamentos foi “exposta como um problema da cadeia de abastecimento,” e a resposta reside em alertar as empresas farmacêuticas através de sua produção e fornecimento.

Embora alguns tenham iniciado medidas contra esse problema, “a indústria e os reguladores não estão se sendo rápidas o suficiente para reduzir a ameaça,” alerta a Changing Markets, dizendo que as empresas farmacêuticas multinacionais que terceirizam a produção de ingredientes ativos para a Índia devem intensificar e “agir rápido para acabar ou reduzir muito a poluição derivada de sua cadeia de abastecimento.”

As agências reguladoras e médicas também devem apresentar mais critérios ambientais aos padrões de boas práticas de fabricação, evitando assim uma poluição descontrolada na fabricação de medicamentos. É triste o fato de que milhões de pessoas na Índia estejam sendo envenenadas pela própria indústria que produz medicamentos que seriam responsáveis por “salvar vidas.”

Não há muito o que se possa fazer mediante a essa situação. Os governos e a indústria farmacêutica precisam enfrentar esses problemas com certa urgência e esperamos que o esforço da Nordea para responsabilizar as empresas farmacêuticas tenha um efeito eficiente.

Fazendo uma limpeza doméstica

É importante ressaltar que a poluição é um problema global e que os poluentes não permanecem em nenhuma área. Toxinas e patógenos resistentes a medicamentos nos cursos de água da Índia se espalham em toda parte. Conforme observado em um relatório de 2008 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, as bactérias E. coli foram encontradas até no Ártico; sendo levadas por pássaros migratórios!

Portanto, não importa onde você vive, seria sensato considerar a pureza do alimento e da água. Lembre-se também de não aumentar o problema sozinho. Evite a todo custo descartar medicamentos que não foram utilizados jogando-os no ralo ou no vaso sanitário. Também não é ideal jogá-los no lixo, pois seu destino seria um aterro sanitário.

Os biossólidos tóxicos podem ser utilizados até mesmo na agricultura orgânica, podendo ser encontrado no composto 100% orgânico do USDA, na cobertura morta e no solo para vasos para uso em seu próprio quintal. Esses produtos não precisam divulgar a presença de biossólidos, porém, algumas empresas listam “milogranito” no rótulo, o que significa que contém biossólidos tóxicos.

Sua melhor opção é contatar o viveiro local e perguntar se eles utilizam biossólidos em seu composto. Outra alternativa é fazer o seu próprio, utilizando um composto ou lascas de madeira, por exemplo. Na hora de comprar alimentos orgânicos, a única forma de saber se foi utilizado biossólido é conversando com o agricultor.

Por fim, considere um sistema de filtragem de água de alta qualidade em sua casa, pois os medicamentos são um contaminante comum em quase todos os lugares. A razão disso é porque as estações de tratamento de água não estarem equipadas para filtrar estas substâncias.