📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Crianças entre 9 e 10 anos que usam aparelhos eletrônicos por sete horas ou mais exibem um afinamento prematuro do córtex cerebral, a camada do cérebro que processa a informação que vem dos cinco sentidos
  • Duas horas de contato por já pode afetar a cognição, resultando em pontuações mais baixas nos testes de raciocínio e linguagem
  • Aplicativos e são feitos para serem viciantes, e crianças pequenas são muito mais suscetíveis ao vício do que comparado aos adultos

🩺Por Dr. Mercola

A maioria das pessoas hoje em dia vive em um mar de radiofrequências emitidas por tecnologias sem fio de todos os tipos, de roteadores a smartphones, tablets, babás eletrônicas, TVs, eletrodomésticos, medidores inteligentes, entre outros.

Segundo muitos especialistas, a exposição crônica e com frequência pode apresentar graves repercussões para a nossa saúde, sobretudo a das crianças, que sofrem exposição antes de nascer. A pesquisa também sugere que a interação com mídias sociais, jogos e aplicativos online produz diversos efeitos, tanto físicos quanto psicológicos.

O frequente uso de dispositivos eletrônicos altera a estrutura cerebral das crianças

De fato, resultados preliminares do maior estudo de longo prazo sobre o desenvolvimento do cérebro e a saúde dos jovens nos EUA, Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) Study, revela que o cérebro daqueles que mais usam smartphones, tablets e videogames parecem diferentes em comparação com aqueles que usam os dispositivos eletrônicos com menos frequência.

Ao todo, mais de 11.000 crianças serão acompanhadas durante 10 anos para avaliar como diversas experiências e ambientes da infância afetam o desenvolvimento do cérebro e a saúde psicológica. Como observado pelo pesquisadores, “Os dados fornecerão um recurso de escala e profundidade sem precedentes para estudar o desenvolvimento típico e atípico.”

Essas descobertas preliminares, baseadas em exames cerebrais de 4.500 crianças de 9 a 10 anos, revelam que crianças que utilizam dispositivos eletrônicos por 7 horas ou mais todos os dias, apresentam afinamento prematuro do córtex cerebral, a camada externa do cérebro responsável por processar informações dos 5 sentidos físicos (paladar, tato, visão, olfato e audição).

As ramificações exatas dessa anomalia ainda não são conhecidas. Segundo a Dra. Gaya Dowling, pesquisadora do National Institutes of Health, que está patrocinando o estudo de US$ 300 (R$ 1.456,56) milhões, acredita-se que o afinamento do córtex faça parte do processo de maturação do cérebro, sendo acelerado em crianças que passam tempo com frequência na tela (mais de 7 horas por dia).

Eles não podem provar que as mudanças são de fato causadas pelo tempo de tela, e os efeitos completos não serão conhecidos até daqui a alguns anos, quando os resultados emocionais e de saúde mental dessas crianças forem avaliados. Os resultados preliminares sugerem que apenas 2 horas de tela por dia são suficientes para afetar a cognição, resultando em pontuações mais baixas nos testes de raciocínio e linguagem.

Diretrizes da academia americana de pediatria para o tempo de tela

Segundo o relatório “Growing Up Digital” da Academia Americana de Pediatria (AAP), publicado em outubro de 2015:

“O estudo Zero to Eight de 2013, mostrou que 38% das crianças menores de 2 anos utilizam dispositivos móveis como smartphones. Um estudo da Pew Research de 2015, relata que 73% dos jovens de 13 a 17 anos possuem smartphones e 24% admitem utilizar seus aparelhos com frequência.”

O relatório cita dados de pesquisas que mostram que bebês com menos de 1 ano não aprendem idiomas de maneira eficaz através de vídeos, mas sim por meio de interações. Até os 2 anos de idade, as interações são muito superiores para processamento e aprendizado de linguagem em comparação com apresentações em vídeo.

Segundo o relatório, “está claro que crianças muito pequenas precisam de ‘interação contingente, intercâmbio social bidirecional, para promover o aprendizado.” Isso também é observado no relatório “60 minutos”8 (ver vídeo em destaque).

A pesquisa mostra que os bebês não transferem o que aprendem do iPad para o real, ou da interação bidimensional para a realidade tridimensional. Por exemplo, a capacidade de brincar com Legos virtuais não se transfere para a habilidade de manipular blocos de Lego na realidade.

Apesar dessas preocupações, as diretrizes da AAP de 2015 para tempo de tela para crianças relaxaram suas recomendações, observando que “os pais devem modelar o uso responsável da mídia” e que o conteúdo e a diversidade da mídia são considerações importantes, mas que os videogames podem ser “ferramentas poderosas para o aprendizado, porque eles ajudam os jovens a trabalhar em busca de recompensa” e “se envolver em experimentação.”

Diretrizes anteriores, desenvolvidas antes da popularidade de iPads e aplicativos de smartphone projetados para crianças pequenas, desencorajavam todo o tempo de tela para crianças menores de 2 anos de idade e recomendavam um limite de 2 horas de tempo de tela para crianças maiores do que 2 anos.

As diretrizes atualizadas removeram limites de tempo específicos, enfatizando a necessidade de controle dos pais. As recomendações incluem estabelecer limites para o tempo de tela em todas as idades, evitar deslocamento (ou seja, não deixar o tempo de tela dominar e tomar o lugar de interações e jogos criativos), abordar a etiqueta digital, envolver-se no uso de mídia digital juntos e estabelecer zonas e períodos livres de mídia definitivos, como durante as refeições e na hora de dormir.

A mídia digital é projetada para viciar

Embora as diretrizes da AAP possam se basear no que parece ser o senso comum de bons pais, a realidade é que muitos pais têm tanta dificuldade em moderar seu uso quanto seus filhos. O que é pior, crianças pequenas, sobretudo aquelas com menos de 2 anos, são muito mais suscetíveis ao comportamento viciante do que crianças mais velhas e adultos.

O fato de aplicativos e mídias sociais serem projetados para serem viciantes aumenta o desafio. No ano passado, Tristan Harris, ex-gerente de produto do Google, revelou como os aplicativos para smartphone e o feedback das mídias sociais são projetados para serem viciantes.

Padrões de comportamento são muitas vezes gravados em vias neurais e, quando esses comportamentos também estão ligados à secreção de hormônios e respostas fisiológicas, eles se tornam ainda mais poderosos. Na verdade, Harris descreve o processo de recompensa de utilizar um smartphone como “jogar no caça-níqueis,” ou seja, um fator viciante.

O Google descobriu uma maneira de incorporar esse sistema de recompensa aos aplicativos do seu . No vídeo abaixo, Harris descreve o processo, conhecido nos círculos de programação como “brain hacking,” pois eles incorporam conhecimentos de neuropsicologia no desenvolvimento de interfaces digitais que impulsionam a interação.

Por exemplo, as curtidas no Facebook e Instagram, as “faixas” no Snapchat ou emojis fofos em textos são projetados para aumentar seu envolvimento e fazer com que você volte cada vez mais.

Harris descreve isso como uma corrida para o fundo do tronco cerebral, onde moram o medo e a ansiedade, dois dos motivadores mais poderosos conhecidos pelos anunciantes. Tanto os anunciantes quanto os desenvolvedores de software de computador utilizam essas técnicas para escrever códigos que chamarão sua atenção.

A pesquisa discutida no segmento de 60 minutos em destaque, revela que o vício em smartphones e mídias sociais é de fato uma realidade, desencadeando a liberação de dopamina, um neuroquímico que envolve desejos, promovendo comportamento impulsivo e compulsivo.

De fato, muita pessoas, tanto crianças quanto adultos, exibem sinais de vício em seus dispositivos eletrônicos. Muitos até dormem com seus smartphones ao lado deles na cama, ou sob o travesseiro, uma tendência que pode provocar sérios danos à saúde mental e física.

Tempo de tela ligado à privação de sono

A radiação por si só é um perigo significativo, sendo conhecida por interromper o sono, mas a luz azul da tela, além dos barulhos quando as mensagens e outras notificações chegam, também interrompem o sono. Isso nem leva em consideração a influência da radiação de micro-ondas dos celulares que influenciam a melatonina, responsável por regular o ciclo sono-vigília.

Quando sua produção de melatonina sofre uma interrupção, ela pode ter efeitos de longo prazo na saúde, como mostrado em um estudo de 2013 realizado com animais que avaliou os efeitos da radiação do celular no sistema nervoso central. Exposição à radiação do celular por apenas 1 hora por dia durante 1 mês, fez com que os ratos tivessem um de atraso antes de entrar no sono profundo com movimento rápido dos olhos, uma fase necessária para o sono restaurador.

Outro estudo publicado em 2015, descobriu que as frequências de 1,8 GHz afetaram o ritmo circadiano dos ratos e reduziram a produção diária de melatonina. A superóxido dismutase e a glutationa peroxidase (que ajudam na prevenção de danos celulares) também reduziram.

A melatonina baixa é utilizada como um marcador de sono. Não é de surpreender que a privação de sono entre os adolescentes tenha aumentado 57% entre os anos de 1991 e 2015. Muitos nem sequer dormem 7 horas por dia, enquanto a ciência revela que precisam de um mínimo de 8 até 10 horas para manter uma saúde ideal.

Pesquisas mostram que pessoas que fazem uso constante de computadores e celulares são mais propensas a apresentarem insônia. Por exemplo, um estudo de 2008 revelou que as pessoas expostas à radiação de telefones celulares por 3 horas antes de dormir tinham mais problemas para adormecer e permanecer em sono profundo.

Causas de depressão e risco de suicí são maiores com o aumento do tempo de tela

Evitar o drama dessas primeiras experiências amorosas não teve um efeito positivo na saúde emocional, no entanto. Os dados da pesquisa anual Monitoring the Future, revelam que quanto mais tempo os adolescentes passam online, mais infelizes eles aparentam ser, e os que passam mais tempo do que a média em relacionamentos pessoais e atividades que não envolvem seus smartphones possuem muito mais probabilidade de relatar serem “felizes.”

Resultados como esses de fato não deveriam ser uma surpresa. Foi demonstrado que passar um tempo ao ar livre melhora muito o nível de humor das pessoas e reduz os sintomas de depressão de maneira significativa.

Não importa que tipo de atividade de tela esteja envolvida. Todas têm a mesma probabilidade de causar sofrimento psicológico. Entre os anos de 2012 e 2015, os sintomas depressivos entre os meninos aumentaram 21%. Entre as meninas, o aumento durante o mesmo período foi de 50%, sendo esse um aumento notável em apenas 3 anos.

As taxas de depressão, automutilação e suicídio entre adolescentes também aumentaram muito. As visitas ao pronto-socorro por comportamento automutilador, como o ato de se cortar, triplicaram entre as meninas de 10 a 14 anos, e os dados sugerem que passar 3 horas ou mais por dia em dispositivos eletrônicos aumenta o risco de suicídio de um adolescente em 35%.

Entre os anos de 2007 e 2015, a taxa de suicídio de meninas de 12 a 14 anos triplicou, uma tendência de gênero que pode ser atribuída ao aumento do cyberbullying, sendo esse mais comum entre meninas. A taxa de suicídio entre meninos dobrou no mesmo período.

No entanto, não é uma questão de fato correta. Uma pesquisa recente do Pew Research Center, revela que 81% dos adolescentes dizem que a mídia social os ajuda a se sentirem mais conectados com seus amigos e 69% dizem que os ajuda a interagir com um diferente grupo de pessoas. Sessenta e oito por cento também disseram que sentem que têm pessoas on-line a quem podem recorrer para conseguir suporte em tempos difíceis.

Por outro lado, 45% admitem que se sentem sobrecarregados com o drama nas redes sociais e 43% se sentem pressionados a postar apenas conteúdos que os apresentem bem.

Ainda assim, pesquisas recentes mostram que limitar o uso da mídia social pode ter um impacto definitivo e benéfico na saúde mental. O estudo em questão recrutou 143 estudantes de graduação da da Pensilvânia, que foram designados de maneira aleatória para utilizar as mídias sociais (Facebook, Instagram e/ou Snapchat) durante 3 semanas ou limitar seu uso por 30 minutos por dia.

Segundo os pesquisadores, “o grupo de uso limitado mostrou reduções significativas na solidão e na depressão ao longo de 3 semanas comparados com o grupo de controle. Ambos os grupos mostraram reduções significativas na ansiedade e no medo de perder o desempenho, sugerindo um benefício do aumento do automonitoramento.”

Como os dispositivos eletrônicos desencadeiam ansiedade, depressão e problemas de memória

Além de fatores psicológicos, uma das razões pelas quais o uso de mídia social tende a aumentar o risco de ansiedade e depressão de uma criança tem a ver com o fato de que os smartphones emitem campos electromagnéticos (CEM).

A pesquisa do professor Martin Pall, Ph.D., revela que os campos eletromagnéticos ativam os canais de cálcio controlados por voltagem (VGCCs) embutidos nas membranas celulares. Isso libera grande quantidade de íons de cálcio que, através de uma cascata de efeitos, resulta na criação de radicais livres hidroxila, sendo esses alguns dos radicais livres mais destrutivos conhecidos. Sendo assim, isso dizima o DNA mitocondrial e nuclear, suas membranas e proteínas, resultando em disfunção mitocondrial.

Seu cérebro apresenta a maior densidade de VGCCs em seu corpo, por esse motivo que a exposição excessiva a campos eletromagnéticos está ligada à depressão e disfunção neurológica, incluindo demência.

Segundo Nicholas Carr, autor do livro “The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains,” a geração do milênio está enfrentando maiores problemas de esquecimento do que os idosos. Esse é o lado negativo da plasticidade neurológica que permite que seu cérebro se adapte às mudanças em seu ambiente. Esse tipo de plasticidade é uma maneira de o cérebro se recuperar após um derrame danificar uma área de maneira permanente.

Além da espessura cortical reduzida (encontrada em outros estudos além do estudo ABCD), o uso prolongado da Internet também foi ligado à perda de substância branca e ao comprometimento do funcionamento cognitivo.

É impossível ignorar que esses dispositivos estão mudando a estrutura cerebral de seu filho, e a experiência também está aumentando a exposição à radiação de micro-ondas e grandes quantidades de luz azul à noite, afetando assim a capacidade do corpo de produzir melatonina.

Portanto, se seu filho ou adolescente estiver apresentando sinais de ansiedade, depressão ou problemas cognitivos, faça o que for necessário para limitar sua exposição à tecnologia sem fio. Ensine para eles um uso responsável. No mínimo, insista em desligar telefones e tablets durante a noite e não dormir com o telefone embaixo do travesseiro ou perto da cabeça.

Tente de fato reduzir a presença de dispositivos eletrônicos em seu quarto e, para proteger todos em sua casa e infundir o conceito de “horários de folga,” desligue seu Wi-Fi durante a noite.

Conforme observado em “60 Minutos,” estamos lidando com um experimento descontrolado em nossos filhos e, embora ainda seja muito cedo para determinar todas as ramificações, descobertas preliminares sugerem que precauções são necessárias para proteger a saúde física de nossos filhos e bem-estar mental.