Para a tristeza de toda uma geração de amantes de dinossauros como eu, a premissa de preservar DNA desses répteis em âmbar fossilizado é, infelizmente, pura ficção. Mas nem tudo são notícias ruins: essa ideia de preservar material genético serviu como inspiração para que os cientistas criassem um novo local de armazenamento de DNA.
Publicado na edição de junho do Journal of the American Chemical Society, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), desenvolveram um método para armazenar o DNA em uma espécie de polímero. De acordo com os pesquisadores, a nova tecnologia se mostrou uma técnica mais rápida e barata para o armazenamento de informações em DNA.
O nosso material genético pode ser pequeno, mas é uma das maneiras mais eficazes para armazenar informações em todo o mundo. Em cada célula nossa, por exemplo, temos uma fita inteira de DNA, que se desenrolada, tem cerca de dois metros de extensão.
E isso porque nem toda a região do nosso DNA possui informações importantes. A maior parte, na verdade, os cientistas não sabem ainda para que serve. Após o fim do projeto Genoma Humano, em que todo o nosso material genético foi sequenciado, os pesquisadores descobriram que todas as informações necessárias para formar o corpo de um ser humano estão concentradas em somente 14% de todo o DNA.
Mas para se ter noção da capacidade de armazenamento do DNA, pegue por exemplo, todos os filmes já produzidos na história humana, e depois, os codifique na forma de uma fita de DNA. O tamanho final seria algo próximo a um de um cubo de açúcar ou um dado de seis lados pequeno. E ainda sobraria espaço.
Mas, claro, isso tudo seria bom demais para ser verdade. Apesar da sua capacidade de armazenar grandes quantidades de informações, o DNA é algo bastante frágil. Seu manuseio precisa ser feito com a maior precisão e delicadeza possível.
Os métodos de armazenamento atuais, por exemplo, requerem baixas temperaturas de congelamento, produtos químicos perigosos, como o ácido fluorídrico, e outros equipamentos especializados.
O novo método, no entanto, pode revolucionar a forma como essas informações são armazenadas e protegidas. Com o criativo acrônimo de T-REX (Thermoset-REinforced Xeropreservation, ou Xeropreservação Reforçada por Termofixação), o método consiste em armazenar o DNA em temperatura ambiente a uma grande rede de polímeros vítreos. Esse polímero é semelhante ao plástico de poliestireno, e foi escolhido pelos cientistas justamente pela sua resistência à natureza. O plástico dura muito tempo já que demora anos para ser degradado.
O grande diferencial aqui é que os pesquisadores conseguiram desenvolver uma espécie de tranca e chave no polímero. Com uma molécula chamada tionolactona, era possível armazenar a informação no T-REx e recuperá-la depois sempre que necessário.
Como o material é semelhante ao âmbar visto no filme de Jurassic Park, os pesquisadores decidiram testar a resistência do polímero T-REX de forma curiosa. Eles pegaram a música tema de Jurassic Park codificada e todo o livro de instruções genéticas de um ser humano, e as codificaram e encapsularam no polímero. Em seguida, eles o expuseram a temperaturas de 55° Celsius, 65° C e 75° C, a pelo menos 70%de umidade ao longo de sete dias.
Depois desse período, a equipe usou reagentes benignos para extrair o DNA armazenado, junto com técnicas de leitura de DNA para recuperar a informação. Não só toda a informação foi restaurada, como tudo foi feito em questão de algumas horas (ao contrário dos vários dias necessários para fazer o mesmo com materiais à base de sílica).
Como o T-REX se mostrou um método mais eficiente e com melhor custo benefício para o armazenamento de DNA, os pesquisadores agora buscam formas de simplificar o método. Eles esperam que um dia ele possa ser usado para o transporte de moléculas biológicas ou até mesmo no campo para a coleta e preservação de dados genéticos de outras espécies.
Fonte: abril