Perda de peso involuntária, coração acelerado, cabelos finos, olhos saltados e ansiedade. Parece cena de filme de terror! Entretanto, pode ser só uma desregulação hormonal, mais especificamente na tireoide. Estimativas mostram que 1% da população possui hipertireoidismo. Sabe-se, no entanto, que ele é mais frequente em mulheres entre 20 e 50 anos. O Dicas de Mulher conversou a endocrinologista Andressa Heimbecher sobre o assunto. Acompanhe!
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O que é hipertireoidismo?
O hipertireoidismo ocorre quando a glândula tireoide produz um ou os dois de seus hormônios, T3 e T4, em grande quantidade, desorganizando o funcionamento de todo o corpo. Ele é o oposto do hipotireoidismo, quadro mais famoso e o primeiro a ser considerado quando uma pessoa acha que está engordando sem motivos.
Qual o papel da tireoide?
“Eu costumo falar que a tireoide é a glândula reguladora do nosso metabolismo”, define Andressa, médica colaboradora do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC- FMUSP) e doutora em endocrinologia pela mesma instituição.
Os hormônios produzidos pela glândula, T3 e T4, são responsáveis por regular órgãos importantes, como o coração, o cérebro, o fígado, os rins, entre outros. “Então, eles ajudam a regular a frequência cardíaca, temperatura corporal, índices de gordura e estabilizam os neurônios para termos regulação de pensamento”, explica a endocrinologista.
Justamente por isso, problemas na tireoide impactam o corpo com sintomas muitos diversos e trazem um grande prejuízo à saúde. “É como se eles fossem um aditivo para o motor do carro funcionar melhor”, considera a médica.
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Hipertireoidismo e a saúde feminina
O hipertireoidismo, assim como os outros problemas na tireoide, é mais comum em mulheres, provavelmente devido às questões hormonais relacionadas ao estrogênio. Por isso, após os 40 anos, é recomendado examinar o órgão periodicamente com exames de imagem. Além disso, existem chances do hipertireoidismo afetar a gravidez ou a fertilidade feminina, como aponta a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Outro ponto levantado por estudos é que, muitas vezes, os problemas de tireoide são causados por doenças autoimunes, “que melhoram durante a gravidez, devido ao alto estado de hormônios femininos (estrogênio e progesterona), e se exacerbam no período pós-parto”, cita um estudo publicado na revista científica Medical Clinics of North America.
Causas do hipertireoidismo
Existem diversas situações que podem fazer a tireoide trabalhar mais do que o normal. Abaixo, Andressa Heimbecher listou as principais causas do hipertireoidismo:
- Doença de Graves: um quadro autoimune no qual o organismo fabrica o anticorpo TRAB, que se liga às células tireoideanas e as faz produzir mais hormônios T3 e/ou T4.
- Bócio Multinodular Tóxico: formam-se diversos nódulos na tireoide, que também produzem hormônios T3 e T4, consequentemente, intoxicando o organismo.
- Doença de Plummer: ocorre quando apenas um nódulo se forma na tireoide e age como no bócio multinodular, produzindo hormônios tireoidianos.
- Inflamações na tireoide: algumas tireoidites podem causar um rápido quadro de hipertireoidismo, principalmente a tireoidite de Quervain e a pós-parto, além das tireoidites pós-infecções virais, como ocorreu em pacientes após a covid-19. Depois que a tireoide inflamada libera uma alta taxa de hormônios, ela fica uma fase sem funcionar.
- Medicamentos: remédios ricos em iodo, como a amiodarona, podem causar hipertireoidismo. Isso também ocorre com o medicamento interferon-alfa. Outro remédio famoso por trazer o quadro é o Logol, rico em iodo, que provocou um surto de hipertireoidismo há alguns anos.
Por serem diversos, os quadros influenciam nas manifestações de hipertireoidismo e no tratamento.
Diagnóstico do hipertireoidismo
O hipertireoidismo é um quadro muito estudado na medicina. Andressa explica que clínicos gerais e ginecologistas podem muito bem identificá-lo. Entretanto, o especialista no tratamento desse problema é o endocrinologista. Normalmente, o diagnóstico alia os sintomas a alguns exames laboratoriais. Abaixo, veja quais são.
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Sintomas de hipertireoidismo
Os principais sintomas de hipertireoidismo são:
- Sintomas oculares, como fotofobia e olhos saltados (principalmente na doença de Graves);
- Aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial;
- Arritmias cardíacas;
- Aumento do suor e da sensação de calor;
- Nervosismo e ansiedade;
- Tremores nas mãos;
- Diminuição do apetite e leve perda de peso;
- Insônia, fadiga e fraqueza;
- Aumento no nível de atividades diárias;
- Intestino solto;
- Alterações na menstruação;
- Afinamento e queda de cabelo.
Exames complementares
Para fechar o diagnóstico, geralmente, o especialista pede alguns exames. São eles:
- Dosagens de hormônios no sangue: normalmente de TSH (hormônio liberado pela hipófise para estimular a tireoide) e de T4 livre para entender se a tireoide está produzindo hormônios a mais.
- Hormônios complementares: o médico pode pedir outros exames, como T3 total, anti-TPO, anti-tireoglobulina e TRAB, para entender a causa.
- Ultrassom de tireoide: para verificar se existem nódulos ou se houve alteração em seu tamanho.
- Cintilografia: para observar se, com a presença dos nódulos, eles estão acelerando a tireoide ou não.
Outro ponto muito propagado pelo discurso popular é que o hipertireoidismo emagrece. De fato, é normal a paciente perder peso, entretanto, não é um emagrecimento saudável. “Afinal, você perde muita massa magra e sobrecarrega o coração”, explica Andressa.
Tratamento do hipertireoidismo
O tratamento do hipertireoidismo varia muito conforme a causa. “Normalmente, a gente começa com a medicação, caso ela não funcione, encaminhamos a paciente para a radioiodoterapia ou para a cirurgia de retirada da tireoide”, explica Andressa. Abaixo, conheça as alternativas:
Medicamentos
São usadas duas medicações, metimazol (tapazol) e propiltiouracil, que atuam no controle da quantidade de hormônios produzida pela tireoide, bem como na ação do anticorpo TRAB, o causador da Doença de Graves. Normalmente, os remédios ajudam a doença a entrar em remissão.
Radioiodoterapia
Quando a medicação não mostra efeito, pode-se tentar a radioiodoterapia. O paciente vai ao hospital e recebe uma dose baixa via oral de iodo radioativo. “Como a tireoide é o órgão que concentra as maiores quantidades de iodo do corpo, essa substância destrói as células que estão fabricando T3 e T4 em excesso”. A dosagem é baixa, pois, em grande quantidade, pode desencadear o hipotireoidismo – um quadro mais fácil de controlar com a reposição hormonal.
Retirada da tireoide
A tireoidectomia é a cirurgia em que o órgão é completamente retirado, normalmente quando os outros tratamentos não funcionaram, ou se a paciente tem um número muito grande de nódulos no bócio multinodular tóxico. Após a retirada total, é preciso fazer reposição hormonal para o organismo continuar funcionando adequadamente.
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Além do hipertireoidismo, há vários outros fatores relacionados à saúde da mulher que exigem cuidados preventivos e um acompanhamento médico atento. Leia a matéria e mantenha seus exames sempre em dia.
Fonte: dicasdemulher