Imagine que, durante uma trilha de domingo, você tropeça em uma pedra. A pedra parecia igual a todas as outras, mas ao ser esmagada, revela uma cor exótica, e acaba se revelando um achado científico sem precedentes. Foi exatamente isso que aconteceu com a sonda Curiosity Mars, da Nasa, em 30 de maio de 2024.
Em mais um dia de trabalho em Marte, a sonda de quase uma tonelada tropeçou e rompeu uma rocha feita completamente de cristais amarelos de enxofre. Essa descoberta inesperada foi transmitida a uma equipe de cientistas atônitos no sul da Califórnia, que nunca esperavam por esse achado.
“Encontrar um campo de pedras feitas de enxofre puro é como encontrar um oásis no deserto.”, disse Ashwin Vasavada, o cientista do projeto Curiosity do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em nota. “Ele não deveria estar lá, então agora temos que explicá-lo. Descobrir coisas estranhas e inesperadas é o que torna a exploração planetária tão empolgante”, completa.
O enxofre fornece pistas sobre as interações passadas de Marte com a água. É com esse tipo de informação que os pesquisadores tentam desvendar se o ambiente do planeta poderia suportar vida, e a presença de água é o primeiro passo.
Os cientistas já haviam encontrado sais formados por enxofre – sulfatos – na superfície de Marte diversas vezes. Os sulfatos são sais que se formam quando o enxofre, geralmente em forma de composto, se mistura com outros minerais na água. Quando a água evapora, os minerais se misturam e secam, deixando os sulfatos para trás.
Já o enxofre puro, como o que foi encontrado recentemente, só se forma em um conjunto de condições muito específicas. Na Terra, só é formado em processos vulcânicos ou em nascentes profundas. Os cientistas ainda não conseguem encaixar essa peça na história que têm de Marte.
É importante entender que o enxofre é um elemento essencial para toda a vida. Geralmente, ele é absorvido na forma de sulfatos e usado para produzir dois aminoácidos essenciais que os organismos vivos precisam para produzir proteínas.
Embora o elemento, por si só, não confirme a existência de vida, sua presença ao lado de outros elementos que sustentam a vida, como carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e fósforo, reforça a hipótese de vida passada em Marte.
Desde 2014, o Curiosity tem subido o Monte Sharp, um pico central dentro do canal Gediz Vallis, explorando suas camadas e descobrindo vários aspectos da história de Marte. Cada camada do Monte Sharp fornece informações sobre o passado do planeta, incluindo períodos de presença de água e de seca.
Visto do espaço anos antes do lançamento do Curiosity, o canal Gediz Vallis é um dos principais motivos pelos quais a equipe científica queria visitar essa parte de Marte. Os cientistas acreditam que o canal foi esculpido por fluxos de água líquida e detritos que deixaram uma crista de pedregulhos e sedimentos que se estendem por 3 quilômetros na encosta da montanha abaixo do canal.
Embora as pistas recentes ajudem a compor a história do planeta vermelho, ainda há muito a ser desvendado. A única certeza é que continuamos tropeçando em restos que os organismos vivos considerariam úteis – como o enxofre amarelo brilhante.
Fonte: abril