📝RESUMO DA MATÉRIA
- Em um estudo com 50 produtos, os de borracha se mostram os mais tóxicos
- Os cientistas estavam estudando como os produtos químicos lixiviados dos produtos plásticos podem afetar os animais marinhos, antes da decomposição dos plásticos em partículas microplásticas
- Apenas 26% das características químicas foram identificadas dos produtos testados, destacando a escassez de conhecimento a respeito da toxicidade dos produtos de uso diário
- Dos produtos químicos detectados, aqueles adicionados à borracha natural e utilizados nas luvas de lavar louça foram os piores
- Os produtos domésticos possuem um grande número de produtos químicos plásticos; um pneu de borracha de carro apresentava cerca de 2.456 características químicas, e houve uma média de 386 em todos os produtos testados
🩺Por Dr. Mercola
Os plásticos no meio ambiente se decompõem em microplásticos, sendo consumidos por animais marinhos. Mas os produtos químicos lixiviados dos produtos plásticos podem ser uma ameaça ainda maior, que se inicia no contato com a água. Além disso, em um estudo com 50 produtos, os de borracha se mostraram os mais tóxicos, surpreendendo os investigadores, visto que a borracha não tratada é considerada natural.
O número de compostos químicos em produtos plásticos foi outra surpresa. Um pneu de borracha de carro apresentava cerca de 2.456 características químicas, com uma média de 386 em todos os produtos testados. Tanto a complexidade química como a abundância estavam associadas à toxicidade no ambiente, mas sobretudo os produtos de borracha (elastômeros) eram tóxicos.
A maioria dos produtos químicos plásticos não foram identificados
Pesquisadores da SINTEF Ocean, conduziram o estudo como parte do projeto MicroLEACH, que significa Microplásticos – efeitos de longo prazo de plásticos e aditivos químicos em animais marinhos. A cientista pesquisadora Lisbet Sørensen explicou:
“Nesse projeto, focamos nos impactos causados pelos aditivos químicos contidos nos plásticos em animais marinhos. Para isso, temos estudado diversas espécies marinhas. Durante o primeiro exercício de triagem, examinamos 2 grupos de microrganismos, bactérias e microalgas, também conhecidas como fitoplâncton.
Essas espécies são fáceis de trabalhar e fornecem respostas rápidas que ajudam a mapear a direção da nossa investigação.
Mais tarde, trabalhamos com os ovos e larvas do bacalhau, que é um dos nossos recursos naturais mais importantes. Estamos cientes de que os peixes, assim como os humanos, são mais vulneráveis aos efeitos da poluição quando são imaturos.”
A equipe selecionou 50 produtos para serem testados, como sacolas plásticas, luvas de borracha, pneus de automóveis, brinquedos infantis e balões. Estavam querendo descobrir como os produtos químicos lixiviados dos produtos plásticos podem afetar os animais marinhos, antes da decomposição dos plásticos em partículas microplásticas.
Produtos químicos são adicionados aos plásticos para melhorar o desempenho e propriedades. Os aditivos químicos mais utilizados são:
Outros aditivos incluem agentes deslizantes, antiestáticos, agentes anti-bloqueio e outros compostos utilizados para melhorar o desempenho dos plásticos, junto com impurezas. Todos esses são capazes de lixiviar para o meio ambiente. A equipe escreveu no Journal of Hazardous Materials:
“Além dos aditivos químicos intencionais, monômeros e oligômeros residuais, solventes e outras impurezas de polimerização e produção, também estão presentes em produtos feitos de plástico e borracha. Nenhum desses “produtos químicos associados” está ligado ao polímero, sendo dispersos na estrutura porosa do mesmo.
Ou seja, eles podem lixiviar para o ambiente circundante, dependendo das propriedades físico-químicas do polímero e do composto.”
Além disso, foram detectados tantos produtos químicos diferentes que apenas uma pequena quantidade apareceu em diversos produtos e a grande maioria não pôde ser identificada. Na verdade, apenas 26% das características químicas puderam ser identificadas de todos os produtos testados. Sørensen disse:
“Ficamos surpresos com o número de diferentes produtos químicos que identificamos nesses produtos. Apenas 30% dos compostos químicos identificados foram encontrados em 2 ou mais produtos. Havia também um grande número de produtos químicos que não conseguimos identificar com certeza porque não estavam listados nos índices de substâncias estabelecidos.
Isso nos mostrou a escassez de conhecimento sobre a composição de muitos dos produtos de uso diário que temos ao nosso redor.”
Os produtos químicos das luvas de borracha para lavar louça eram considerados os mais tóxicos
Segundo o estudo, 86% a 93% dos extratos de borracha eram mais tóxicos do que a média, comparados com 33% a 36% dos extratos de polímero. Termoplásticos são polímeros como policarbonato, polietileno e polipropileno.
“É importante lembrar que o estudo destacou que os extratos de produtos de consumo à base de elastômeros (borrachas naturais e sintéticas) eram mais tóxicos do que os extratos termoplásticos,” escreveram os pesquisadores. “Embora o foco atual seja os termoplásticos, mostramos que os elastômeros podem ser mais preocupantes do ponto de vista ambiental e da saúde humana.”
O cientista-chefe da pesquisa do SINTEF chamado Andy Booth, explicou que os produtos de borracha “tiveram o pior impacto sobre os microrganismos investigados em nosso experimento.” Ele descreveu isso como uma surpresa “até porque a borracha não tratada é vista como um produto ‘natural’. Descobrimos que entre as substâncias estudadas, estavam entre as substâncias mais tóxicas.”
Dos produtos químicos detectados, aqueles adicionados à borracha natural e utilizados nas luvas de lavar louça foram os piores. “Essas são substâncias encontradas em 4 dos 50 produtos que testamos, como luvas de lavar louça, pneus de carro, balões de borracha e luvas descartáveis,” disse Booth.
Outras experiências envolveram a exposição de embriões e larvas de bacalhau a partículas microplásticas e produtos químicos relacionados. Eles utilizaram ambos os compostos, visto que os animais marinhos estão expostos a ambos no meio ambiente. Em alguns casos, as exposições impediram a eclosão dos ovos, enquanto as larvas desenvolveram deformidades vertebrais semelhantes à escoliose.
A equipe também desenvolveu uma maneira de “retirar” microplásticos de produtos químicos, depois expôs ovos e larvas a produtos químicos e “esfregou” os microplásticos de maneira separada. Nenhum efeito tóxico ocorreu devido à exposição às partículas livres de produtos químicos.
As pessoas estão consumindo plástico?
Embora o estudo tenha se concentrado nos efeitos ambientais dos microplásticos e seus aditivos químicos, pequenos pedaços de plástico estão por toda parte e estão chegando aos humanos.
“Tanto os humanos como outros animais, estão sendo expostos a macro e microplásticos e aos aditivos químicos que eles contêm,” observa Stefania Piarulli, do projeto MicroLEACH. “Portanto, supomos que estamos expostos a aditivos químicos relacionados ao plástico através dos alimentos que ingerimos.”
Um estudo da Universidade de Newcastle, analisou a literatura “existente, porém limitada” disponível sobre a quantidade média de plástico ingerido pelos humanos. Seus cálculos foram baseados em 33 estudos sobre o consumo de plástico através de alimentos e bebidas como água potável, cerveja, marisco e sal. Por semana, os pesquisadores estimaram que a média consumida por uma pessoa é cerca de:
- 1.769 partículas de plástico da água potável
- 182 partículas de plástico de frutos do mar
- 10 partículas de plástico da cerveja
- 11 partículas de plástico do sal
Como mostram os dados, a água potável é de onde vem a maior ingestão de plástico pelos humanos, e partículas de plástico foram encontradas em águas subterrâneas, superficiais, água da torneira e de garrafas em todo o mundo. Na Europa, 72.2% de amostras, assim como 82.4% das amostras da Índia, e 94.4% de amostram de água encanada nos EUA apresentavam fibras plásticas.
A fabricação de alimentos é uma parte importante do problema
Os alimentos que você consome, como desde salmão enlatado e cereais embalados, também podem estar contaminados com plástico. A Consumer Reports fez o teste em 85 alimentos e encontrou produtos químicos plastificantes conhecidos como ftalatos em todos, exceto um. Até o chiclete é feito de plástico. A lista de ingredientes que a FDA dos EUA permite no chiclete inclui, plásticos, borrachas e ceras:
- Borracha de butadieno-estireno
- Copolímero de isobutileno-isopreno (borracha butílica)
- Cera de petróleo, cera de petróleo sintética
- Incluído em embalagens plásticas, sacolas de supermercado, canos de drenagem e coletes à prova de balas, o polietileno é um dos plásticos mais utilizados
- Acetato de polivinila, conhecido como sendo a cola escolar e para madeira, e um dos ingredientes encontrados na cola de PVA
Também é comum em alguns utensílios domésticos. Pesquisadores do SINTEF Ocean detectaram ftalato de dibutila, conhecido por causar imuno-toxicidade em peixes-zebra e danos celulares em algas, em 6 produtos, pisos feitos de vinil, roupas de trabalho retardantes de chamas, tapete antiderrapante, saco de lixo, capa de telefone e mangueira de jardim.
Embora as embalagens de alimentos tenham recebido uma considerável atenção devido seu papel na contaminação do abastecimento alimentar, elas são apenas uma parte do problema. O próprio processo de fabricação, que depende do plástico, é outra.
“Acredito que estamos expostos a muito mais produtos químicos relacionados ao processamento e cozimento de alimentos do que às embalagens plásticas. Também estamos expostos a aditivos químicos relacionados ao plástico de muitas outras maneiras,” diz Piarulli. Conforme observado pela Consumer Reports, durante o processamento, os alimentos são expostos a plásticos através de:
- Pasteurização, onde altas temperaturas podem acelerar a lixiviação
- Luvas de vinil, podem conter mais de 1/3 de plastificantes
- Tubos de plástico, utilizados para armazenamento de leite e óleos
- Correias transportadoras, que muitas vezes são feitas de plásticos
Os ftalatos também costumam estar presentes em alimentos como o leite, por exemplo, devido às máquinas utilizadas pelos laticínios convencionais, que utilizam extensos tubos feitos de plástico. Um estudo de 2013 publicado na Environment International, descobriu que o leite estava contaminado com ftalatos em “vários estágios de sua cadeia.”
Além do processo mecânico para ordenhar, o leite pode ser contaminado através da ração que pode conter ftalato sendo consumida pelo gado, bem como ao material de embalagem.
Além do leite, produtos como capas de chuva feitas de vinil, botas e cortinas de chuveiro são ricos em ftalatos em sua composição, Shanna Swan, Ph.D., epidemiologista reprodutiva e professora de medicina ambiental e saúde pública na Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai, em Nova York City, diz, e eles também estão presentes em cosméticos, cuidados pessoais e produtos domésticos, como batom, esmalte de unha, perfume, sabão em pó perfumado e purificadores de ar, porque os ajudam a reter o perfume e a cor.
Eles também aumentam a absorção, razão pela qual são adicionados em loções, bem como a pesticidas, para ajudá-los a serem absorvidos pelas plantas. “É difícil encontrar coisas que não possuem esses produtos químicos,” disse ela.
Evite plástico sempre
Evitar os produtos feitos de plásticos é crucial para reduzir a sua exposição e também a do meio ambiente. Isso vai desde os itens que você utiliza em casa até alimentos embalados em vidro. Como diz Piarulli:
“Nunca na história estivemos expostos a tanta poluição como estamos hoje em dia. É por isso que devemos procurar reduzir sempre o uso de plásticos. Sabemos que os plásticos apresentam efeitos adversos e também que há efeitos muito prováveis que ainda não descobrimos, incluindo impactos diretos nos ambientes terrestres, de água doce e marinha.
… os plásticos são … utilizados em muitos ambientes onde não são necessários, como no setor têxtil e em situações de embalagem de produtos. Talvez o mais importante seja evitar o uso de plásticos sempre que for possível e exercer a nossa influência como consumidores quando compramos novos produtos.”
Fonte: mercola