A lepra – hoje em dia chamada de hanseníase pela medicina – é uma das doenças infecciosas mais antigas da história, com registros datados de vários séculos a.C. Como ocorreu a sua disseminação inicial para humanos ainda é um mistério, porém. Mas um estudo recente indica que, durante a Idade Média, os esquilos podem ter sido um dos culpados por novas infecções.
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, e nos casos mais graves, pode levar à desfiguração e amputação de membros da pessoa. Apesar de haver tratamentos, a doença ainda continua fazendo novas vítimas, com o Brasil sendo o segundo país no mundo com mais casos, somente atrás da Índia.
No Brasil, acredita-se que o principal responsável pela transmissão em humanos seja o tatu-galinha. Porém, vale notar que foram os próprios humanos que trouxeram a bactéria da Europa transmitiram para os tatuzinhos, há pelo menos 500 anos.
Na Europa, um dos vetores que transmitia a doença para humanos pode ter sido o esquilo vermelho (Sciurus vulgaris). Algumas descobertas anteriores já haviam mostrado a presença de cepas da bactéria em pessoas da Inglaterra, Dinamarca e Suécia durante o período medieval. Essa cepa é bastante parecida com a que está presente em espécies do esquilo vermelho do sul da Inglaterra de hoje.
As teorias mais aceitas falam que essa transmissão ocorreu por causa da paixão que as pessoas na Idade Média tinham por pelo de esquilo. O comércio do pelo do animal entre a Inglaterra e a Escandinávia durante o período pode ter sido um dos fatores a ter aumentado a disseminação da doença entre a população.
Para confirmar tais estudos, uma equipe de pesquisadores de várias universidades decidiu realizar uma análise genética. Eles coletaram amostras das cepas em três pessoas que viveram na região de Winchester, na Inglaterra, entre 900 e 600 anos atrás.
A equipe comparou essa cepa com a cepa retirada de um osso de esquilo, que tinha entre 1000 e 900 anos. Deu match. “Esta é a primeira vez que encontramos um hospedeiro animal de hanseníase no registro arqueológico, o que é realmente emocionante”, conta ao jornal inglês The Guardian Sarah Inskip, pesquisadora da Universidade de Leicester e coautora do estudo.
A pesquisa, publicada no Current Biology, mostrou através da análise de DNA das amostras extraídas que as cepas entre as pessoas e entre o esquilo eram bastante parecidas. De acordo com os pesquisadores, essa é uma indicação de que realmente houve uma transmissão de doença entre os esquilos e os humanos da época.
“Na verdade, as cepas encontradas nos esquilos arqueológicos e nos humanos arqueológicos de Winchester estão mais intimamente relacionadas do que a cepa encontrada nos esquilos medievais [e] a cepa encontrada nos esquilos modernos”, explica Inskip.
Contudo, apesar da sugestão, os pesquisadores reforçam que os resultados não confirmam ou esclarecem como de fato foi feita a transmissão. Além do comércio de pele, os esquilos também eram mantidos como animais de estimação.
Mas como de fato ocorreu a transmissão ainda continua um mistério. Isso por que, pode ter acontecido algo semelhante com o que ocorreu aqui no Brasil. Os humanos podem ter transmitido primeiro o vírus para os esquilos, e depois eles terem retransmitido para os humanos novamente.
Fonte: abril