📝RESUMO DA MATÉRIA
- Segundo uma pesquisa, a disfunção mitocondrial nas células T leva ao declínio do sistema imunológico, afetando a capacidade do organismo no combate a infecções e de câncer
- Segundo o estudo, a glicólise é não é eficiente na produção de energia, e as espécies reativas de oxigênio (ROS) produzidas no processo danificam as células T
- É sugerido que a reversão do dano mitocondrial pode ser benéfica para a resposta imunológica e no tratamento contra o câncer
- O excesso de ácido linoleico e o estrogênio são os principais responsáveis pela disfunção mitocondrial
- As estratégias que podem melhorar a sua função mitocondrial incluem reduzir a ingestão de ácido linoleico, reduzir o estresse e fazer uso de um suplemento de niacinamida
🩺Por Dr. Mercola
O enfraquecimento do sistema imunitário tem há muito tempo sido relacionado ao envelhecimento e às más escolhas de estilo de vida, porém, segundo um estudo de 2023 na nature Communications, o principal motivo para esse declínio do sistema imunológico são as mitocôndrias disfuncionais, as potências de suas células, sobretudo as mitocôndrias das células T (uma célula imunológica).
Quando as mitocôndrias não funcionam da maneira adequada, as células T não recebem a energia necessária para cumprir suas funções, resultando assim, em um declínio na função do sistema imunitário. Isso dificulta ações contra infecções agudas e doenças crônicas. Segundo a Medical Xpress:
“… As infecções crônicas e a defesa contra tumores conduzem ao fenômeno de exaustão das células T no sistema imunitário: nesse processo, os linfócitos T vão perdendo sua função, prejudicando assim suas respostas contra as infecções e o câncer…
Segundo essa pesquisa, o processo de exaustão é muito influenciado pela… mitocôndria. A falha na respiração mitocondrial provoca diversas reações que afetam a genética e o metabolismo das células T, podendo causar sua exaustão funcional.”
Esse declínio pode ser resolvido através de tratamentos voltados à função mitocondrial.
A exaustão das células T pode ser causada por uma má função mitocondrial
Simplificando, quando seu organismo combate uma infecção, as células T CD8+ (células imunitárias) transformam-se em linfócitos T citotóxicos (CTLs) para eliminar as células infectadas. Essa transformação exige mudanças na expressão genética, na estrutura celular e no uso da energia.
Porém, em infecções de longa duração ou câncer, as células T podem ficar desgastadas ou “debilitadas,” acabando por perder sua eficácia. Esse esgotamento está ligado a problemas de energia nas células, sobretudo nas mitocôndrias. Está sendo investigado como a resolução desses problemas de energia podem rejuvenescer as células T debilitadas, o que pode resultar nos tratamentos contra o câncer. O pesquisador bioenergético Georgi Dinkov trás comentários sobre essas descobertas:
“Até agora, o declínio da função imunitária tinha sido explicado com o conceito simplista de ‘desgaste,’ e quando a imunodeficiência ocorre em pessoas mais jovens, é atribuída à vulnerabilidade genética ou a hábitos de estilo de vida, como beber e fumar por exemplo.
A medicina até hoje parece não saber de fato o motivo pelo qual a função imunitária falha no envelhecimento e nas doenças, e se algo pode ser feito como forma de prevenção.
O estudo … diz que a principal causa do declínio imunológico é algo bem simples, o declínio da função mitocondrial (OXPHOS). Quando as células T (células imunológicas produzidas pelo timo) apresentam mitocôndrias disfuncionais, elas ficam dependentes apenas da glicólise para a produção de energia.
A produção glicolítica de energia é não é suficiente para assegurar a diferenciação e atividade adequada das células T e, de fato, pode provocar danos nas células T ou mesmo à morte devido à alta quantidade de espécies reativas de oxigênio (ROS) que são produzidas quando a glicólise se torna o principal meio para se produzir energia.
Segundo o estudo, tal disfunção mitocondrial é uma condição necessária e suficiente para ocorrer o declínio imunológico (também conhecido como “exaustão” das células T) e que o declínio foi reversível quando a função mitocondrial foi restaurada.”
Metabolismo da Glicose 101
O que significa “produção glicolítica de energia” e por que ela é tão prejudicial? Todos os carboidratos da dieta são digeridos e transformados em glicose. Por sua vez, a glicose pode ser metabolizada (queimada) como forma de combustível por 2 vias diferentes, como ilustrado abaixo. pode ser metabolizada de duas maneiras diferentes, conforme ilustrado no gráfico abaixo.
A glicose é primeiro metabolizada em piruvato. Então, o piruvato pode entrar na via da glicólise no citoplasma da célula e produzir lactato, ou é convertível em acetil-CoA e transportado para a cadeia de transporte de elétrons mitocondrial.
As células cancerígenas são conhecidas por utilizarem a via da glicólise, via por onde a glicose passa quando o metabolismo da mesma é prejudicado nas mitocôndrias. Esse é o caminho que seu organismo utiliza sempre que atinge o limite de produção de ATP nas mitocôndrias (que é a forma mais eficiente e menos prejudicial de produzir energia).
Os perigos da glicólise
Se a via da glicólise for a principal forma de queimá-la, então você estará em um estado constante de ativação dos hormônios do estresse e de promoção da resistência à insulina e de diabetes, criando cargas de lactato como resíduo, em vez de dióxido de carbono (CO2) saudável e água metabólica.
O lactato aumenta o estresse redutivo, provocando um fluxo reverso de elétrons nas mitocôndrias e aumentando as espécies reativas de oxigênio (ROS) para 3% a 4%, que é de 30 a 40 vezes maior do que quando a glicose é queimada nas mitocôndrias. Essa produção elevada de espécies reativas de oxigênio é responsável por danos e pela morte das células T.
Além disso, a glicólise gera apenas 2 ATP para cada molécula de glicose, representando 95% menos energia do que seria gerado se a mesma fosse queimada nas mitocôndrias.
Os detalhes são muito importantes
Você já deve ter escutado que o açúcar pode causar câncer, porque as células cancerosas preferem utiliza a glicólise. Porém, é um erro pensar que toda a glicose utiliza a via da glicólise. Conforme ilustrado acima, a glicose também pode ser metabolizada na cadeia de transporte de elétrons da mitocôndria, sendo essa a forma mais eficaz para produzir energia.
Portanto, se tratando da questão do “açúcar provoca câncer,” é importante distinguir as fontes dos carboidratos. Embora seja correto tratar todos os carboidratos como açúcar, há uma grande diferença na origem dos carboidratos, frutas inteiras maduras X amidos, por exemplo, e frutas inteiras X açúcar processado refinado (ex: açúcar de mesa e xarope de milho rico em frutose).
A ingestão de açúcar refinado assim como diversos amidos, são uma causa comum de produção de endotoxinas no intestino, responsável por prejudicar a função mitocondrial, resultando no metabolismo do câncer, enquanto a frutose presente em alimentos integrais em geral não resulta na produção de endotoxinas.
Essa é uma das principais diferenças entre o açúcar refinado e a frutose presente nas frutas maduras, o que explica o motivo pelo qual os açúcares refinados podem contribuir para o desenvolvimento do câncer, enquanto a frutose natural não. Não é de fato o açúcar em si que está contribuindo para o câncer. Está de fato envolvido na disfunção mitocondrial, e a oxidação dos ácidos graxos (o metabolismo das gorduras em vez da glicose) é uma das causas.
Você quer queimar glicose em suas mitocôndrias
Acreditei durante muito tempo que as gorduras queimavam de forma “mais limpa” do que os carboidratos, porém, desde então notei que era o contrário. Quando a glicose é metabolizada nas mitocôndrias, na verdade, queima de forma muito mais limpa do que a gordura.
Sendo assim, é crucial saber a quantidade de macronutrientes, porque se a glicose ingerida for transportada para a glicólise, você contribuindo para o desenvolvimento do câncer. Ao mesmo tempo, a gordura que você consome acaba sendo armazenada em vez de ser utilizada como forma de combustível.
Ou seja, o ideal é queimar glicose nas mitocôndrias e a maneira de garantir isso é através da ingestão de gordura na dieta abaixo de 35% do total de calorias. A razão disso é porque a glicose é transportada para a glicólise quando a ingestão de gordura é elevada.
Caso seja uma pessoa resistente à insulina, significa que é metabolicamente inflexível, esse limite pode estar cerca de 20% ou até 10%. Se é resistente à insulina, deverá reduzir muito a ingestão de gordura até que esse problema de resistência seja resolvido. Então você pode aumentá-lo para 30%.
Células T disfuncionais e células cancerígenas fazem uso de glicólise
O motivo das células cancerosas utilizarem a via da glicólise é por apresentarem mitocôndrias disfuncionais. As mitocôndrias estão tão danificadas que não conseguem realizar a queima de glicólise. Sendo assim, as células cancerígenas precisam de um sistema de reserva, a glicólise, para sobreviverem. O Efeito Warburg se trata disso.
Quando as mitocôndrias dentro das células T se tornam disfuncionais, as células T ficam dependentes da glicólise para a produção de energia, sendo esse o motivo do enfraquecimento e da falha do sistema imunológico.
Como apontado no estudo, a exaustão das células T é uma característica do câncer, o que faz sentido quando se considera que tudo está relacionado à disfunção mitocondrial. O câncer tem início quando as mitocôndrias das células sofrem danos e, ao longo do tempo, as mitocôndrias das células T também começam a apresentar falhas.
Visto que a disfunção mitocondrial é o grande responsável, o meio mais eficaz é através de terapias metabólicas que possam resolver a dificuldade das células de oxidar (queimar) o açúcar presente nas mitocôndrias. Após reparar as mitocôndrias para voltarem a produzir energia de maneira normal, é provável que o câncer sofra uma regressão e a função imunológica seja restaurada, já que não necessitará da glicólise.
O que provoca a disfunção mitocondrial?
São 4 os principais contribuintes para a disfunção mitocondrial:
- Ingestão excessiva de ácido linoléico (LA)
- Dominância do estrogênio
- Exposição a campos eletromagnéticos
- Endotoxina — Açúcares refinados e diversos tipos de amidos apresentam uma maior probabilidade de causar disbiose intestinal, levando à produção de endotoxina. Essa endotoxina é um dos fatores responsáveis por danificar a função mitocondrial, resultando no Efeito Warburg (metabolismo do câncer), onde a glicose é queimada através da glicólise
Todos são importantes, porém, eu acredito que os principais contribuintes para disfunção mitocondrial são o excesso de ácido linoleico e a predominância de estrogênio. Isso ocorre porque o ácido linoleico e o estrogênio têm um efeito negativo similar em seu corpo. Os dois:
- Aumentam os radicais livres responsáveis pelo estresse oxidativo e por prejudicar a capacidade das mitocôndrias de produzir energia.
- Aumentam a ingestão de cálcio dentro da célula, de óxido nítrico e superóxido, que também aumentam o peroxinitrito responsável pelo estresse oxidativo.
- Causam um aumento na água intracelular, provocando a retenção de água.
- Reduza sua taxa metabólica e suprima a glândula tireóide.
Quase todas as pessoas apresentam 10 vezes mais ácido linoleico nos seus tecidos do que os seus antepassados há 100 anos atrás. Essa gordura poli-insaturada é suscetível a danos oxidativos, produzindo radicais livres como aldeídos reativos, que danificam suas mitocôndrias.
Esses metabólitos tóxicos do ácido linoleico são responsáveis por um excesso de estresse redutor como resultado da acumulação de elétrons no ETC e do bloqueio do movimento de avanço dos elétrons para os complexos IV e V para criar ATP. Como o ácido linoleico está presente na membrana mitocondrial interna, ele causa danos e libera protões que, em geral, se acumulam no espaço mitocondrial interno.
Esse gradiente de prótons é responsável por acionar o nano motor no complexo V para criar ATP. Ambos os processos agem em conjunto para desligar e destruir as mitocôndrias de maneira prematura. Além disso, a ingestão de amidos pode alimentar bactérias produtoras de endotoxinas no intestino, que pode trazer danos para mitocôndria.
Soluções
Por fim, as principais soluções para melhorar ou restaurar sua função mitocondrial, são:
- Reduzir a ingestão de ácido linoleico, evitando alimentos processados, óleos de sementes, frango, porco, sementes e nozes.
- Certifique-se de ingerir carboidratos saudáveis, como frutas maduras, mel cru e xarope de bordo.
- Reduzir a produção de lactato e aumentar o dióxido de carbono, pois apresentam efeitos opostos.
- Reduza o estresse, pois o estresse crônico libera cortisol, que é um potente supressor da função mitocondrial e da biogênese. A progesterona pode ser muito útil, pois é eficaz para bloquear cortisol. Você pode aprender mais em ““What You Need to Know About Estrogen and Serotonin.”
- Utiliza niacinamida, como suplemento, já que suas mitocôndrias não realizam a produção de energia sem ela.uzem energia sem isso. Recomendo utilizar 50 mg de niacinamida 3 vezes ao dia.
Fonte: mercola