📝RESUMO DA MATÉRIA
- As sementes de erva-doce (ou funcho), com sabor de alcaçuz, é um ingrediente muito importante na culinária ayurvédica indiana mukhwas, onde é muito consumido para refrescar o hálito e ajudar na digestão, após uma refeição
- As sementes de erva-doce são consideradas um remédio natural contra problemas digestivos, como azia, inchaço, gases e até doenças crônicas como, por exemplo, a doença inflamatória intestinal ou DII
- A erva-doce também apresenta efeitos antiespasmódicos e carminativos, ou seja, que aliviam a flatulência, podendo também ser útil para outros tipos de problemas como a síndrome do intestino irritável ou SCI
- A erva-doce também ajuda no alívio de cólicas infantis e seus compostos benéficos podem estar presentes no leite materno, portanto, as mães que estão em processo de amamentação e consomem sementes de erva-doce podem trazer benefícios naturais contra as cólicas em seus bebês
- As sementes de erva-doce, também chamadas de saunf, são na verdade os frutos secos e aromáticos da planta
🩺Por Dr. Mercola
O consumo de sementes de erva-doce após uma refeição é muito comum em diversas partes do mundo, como o sudeste da Ásia, por exemplo. As sementes de erva-doce (ou funcho), com sabor de alcaçuz, é um ingrediente muito importante na culinária ayurvédica indiana mukhwas, onde é muito consumido para refrescar o hálito e ajudar na digestão, após uma refeição.
Considerada “uma das mais antigas ervas medicinais,” a erva-doce (Foeniculum vulgare) apresenta propriedades anti-inflamatórias e antipatogênicas, estando também entre as fontes vegetais mais ricas em potássio, fósforo, cálcio e fibras no mundo.
Como parte da família Apiaceae, a erva-doce está relacionada a outros tipos de ervas como o cominho, endro e anis. As sementes de erva-doce, também chamadas de saunf, são, na verdade, os frutos secos e aromáticos da planta, destacados por suas propriedades analgésicas, redutoras da febre e antioxidantes.
Porém, ela é mais conhecida devido seu uso como remédio natural contra problemas de digestão, contra problemas digestivos, como azia, inchaço, gases e até doenças crônicas como, por exemplo, a doença inflamatória intestinal ou DII.
Sementes de erva-doce para doença inflamatória intestinal
É estimado que 3 milhões (ou 1.3%) dos adultos podem sofrer de DII, onde inclui a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Um estudo do CDC, revelou que entre os anos de 2001 a 2018, a prevalência de DII nos 25,1 milhões de beneficiários do Medicare com 67 anos ou mais, apresentou um grande aumento entre todos os grupos raciais/étnicos.
No Irã, o funcho é utilizado como tratamento complementar e alternativo para DII, que pode envolver inflamação crônica do intestino delgado e/ou intestino grosso. Nos intestinos, há uma barreira entre as células epiteliais que os protege contra antígenos estranhos, onde na DII, essa barreira está danificada.
“As citocinas na DII provocam danos a barreira intestinal que resultam em problemas clínicos e patológicos, incluindo friabilidade da mucosa, redução da resistência tecidual e aumento da permeabilidade intestinal,” explicaram os pesquisadores no PLoS One. Eles conduziram um estudo onde é mostrado que o extrato da semente de erva-doce pode melhorar a função de barreira no trato gastrointestinal, “indicando sua utilidade potencial como terapia alternativa ou adjuvante contra DII.”
A erva-doce também apresenta efeitos antiespasmódicos e carminativos, ou seja, que aliviam a flatulência, podendo também ser útil para outros tipos de problemas como a síndrome do intestino irritável ou SCI. Quando combinado com curcumina para um óleo essencial de erva-doce, pode trazer benefícios significativos contra os sintomas, como dor abdominal, e a melhora da qualidade de vida em pacientes com SII durante um período de 30 dias.
O sabor da erva-doce vem do composto anetol, que é benéfico para a saúde
O anetol é o principal composto bioativo da erva-doce, responsável por fornecer seu sabor único. Possui diversas propriedades benéficas, como efeitos anti-inflamatórios, anticarcinogênicos, quimiopreventivos, antidiabéticos, imunomoduladores, neuroprotetores e antitrombóticos.
Também apresenta propriedades gastroprotetoras. Em um estudo realizado com ratos apresentando colite, o anetol trouxe alívio para os sintomas da mesma ao reduzir o estresse oxidativo e a resposta inflamatória. O anetol também ajudar no controle de apetite e na prevenção do ganho de peso, que observamos ao consumir erva-doce. As sementes de erva-doce também apresentam cerca de 50% de fibra, responsável por aumentar a sensação de saciedade; no entanto, foi descoberto que até o óleo essencial de erva-doce pode ser benéfico no controle do apetite.
Um estudo publicado na Clinical Nutrition Research, também descobriu que mulheres com sobrepeso que faziam uso de erva-doce e chá de feno-grego antes do almoço sentiam menos fome e consequentemente apresentavam um menor consumo. Durante a Grécia antiga, a erva-doce era conhecida como Maratona, que vem da palavra Mariano, ou “emagrecer.” Eles utilizavam a planta para eliminar o apetite e perder peso ou era usada em tempos onde os alimentos estavam escassos.
Funcho ou erva-doce é eficaz contra cólicas
Entre as crianças, a emulsão de óleo de semente de erva-doce também reduziu de maneira efetiva a intensidade das cólicas, sendo também benéfica para redução de espasmos intestinais. Em um estudo onde os pais utilizaram um tratamento à base de erva-doce para aliviar cólicas, que se caracterizam por choro inconsolável, nos seus bebês, 65% deles relataram uma rápida redução dos sintomas.
Após meia hora, os pais relataram “significativas melhoras” em até 79% dos sintomas apresentados. Constipação e diarreia também foram relatadas com uma frequência bem menor em bebês que consumiram o produto à base de erva-doce. Os compostos benéficos da erva-doce também podem estar presentes no leite materno, portanto, as mães que estão em processo de amamentação e consomem sementes de erva-doce podem trazer benefícios naturais contra as cólicas em seus bebês.
Por que é ideal o consumo de sementes de erva-doce após uma refeição
Os compostos do óleo essencial de erva-doce, ajudam a regular a motilidade dos músculos lisos do intestino e também ajudam na redução de gases.
“Sozinho, ou com outras plantas medicinais, o Foeniculum vulgare é indicado para o tratamento de distúrbios gastrointestinais espásticos, em algumas formas de colite crônica (que resistem a outros tratamentos), nas dispepsias por atonia gastrointestinal, nas dispepsias com sensação de peso no estômago, entre outros,” explicaram os pesquisadores na BioMed Research International.
Em uma revisão das propriedades de saúde do funcho (erva-doce), foram descobertos que ensaios clínicos validaram os usos tradicionais do mesmo para diversos problemas gastrointestinais, como dor abdominal, obstipação, diarreia, flatulência, gastrite, cólon irritável, dor de estômago, entre outros.
Acredita-se que os fitoquímicos da erva-doce, incluindo compostos voláteis, flavonoides, compostos fenólicos, ácidos graxos e aminoácidos, possam ser os responsáveis pelos vastos benefícios da planta, porém acrescentaram:
“A erva-doce também possui minerais e oligoelementos como… bário, cálcio, cádmio, cobalto, cromo, cobre, ferro, magnésio, manganês, níquel, chumbo, estrôncio e zinco; vitaminas lipossolúveis, como vitaminas A, E e K; vitaminas solúveis em água como ácido ascórbico, tiamina, riboflavina, niacina e piridoxina; aminoácidos essenciais como leucina, isoleucina, fenilalanina e triptofano, podem contribuir para os diversos benéficos para saúde.”
‘Um dos auxiliares mais eficazes contra problemas digestivos’
A Northwest School for Botanical Studies, também considera a erva-doce como “um dos auxiliares mais eficazes contra problemas digestivos,” destacando suas propriedades antiespasmódicas e estomacais, ou benéficas para o estômago, que também são conhecidas por aliviarem os gases. Em uma monografia a respeito da erva-doce, é explicado como várias partes da planta se unem formando uma erva quase perfeita para a saúde digestiva:
“[O funcho] é de fato benéfico para redução de cólicas digestivas, gases e inchaço. Os óleos voláteis presentes na semente estimulam as membranas mucosas do trato digestivo, auxiliando na motilidade e no peristaltismo. Os óleos aromáticos também apresentam ações antiespasmódicas e carminativas no músculo liso.
O chá de sementes é eficaz no tratamento de espasmos intestinais resultantes de condições como síndrome do intestino irritável, colite ulcerativa, doença de Crohn, síndrome do intestino permeável, doença celíaca e candidíase intestinal.
As propriedades da erva-doce podem estar presentes no leite materno, podendo reduzir as cólicas infantis. A semente de erva-doce apresenta propriedades contra náuseas, auxiliando na recuperação de cólicas estomacais, intoxicações alimentares, infecções digestivas e ressacas. Anestesia dores resultantes de hérnia de hiato e indigestão. A erva-doce descongestiona o fígado, sendo um complemento eficaz contra condições decorrentes da estagnação do fígado.”
O funcho possui propriedades que aliviam cólicas menstruais, combatendo com efeitos semelhantes a outros medicamentos como NSAIDs
Existem também outros usos para a erva-doce, inclusive como remédio para cólicas menstruais dolorosas. Em um estudo realizado com 60 estudantes universitários, com idades entre 18 e 25 anos, que apresentavam cólicas, os autores explicaram que a erva-doce contém “agentes antiespasmódicos e anetol que podem ser úteis no tratamento da dismenorreia primária.”
Os participantes foram divididos em 2 grupos e acompanhados por 2 ciclos. No início da dor, um grupo recebeu 25 gotas de uma solução contendo 2% de erva-doce a cada 6 horas. Se a dor não diminuísse em 2 horas, eles também recebiam 250 miligramas (mg) de ácido mefenâmico, um NSAID, em forma de cápsula. O grupo controle recebeu apenas 250 mg de ácido mefenâmico, também em cápsulas, a cada 6 horas, conforme fosse necessário.
Após comparar os 2 grupos, os pesquisadores afirmaram: “O presente estudo mostrou que a eficácia das gotas de erva-doce no alívio da dor na dismenorreia primária é comparável à eficácia dos AINEs comuns, como as cápsulas de ácido mefenâmico.” Em um estudo envolvendo 110 meninas do ensino médio, com idade média de 13 anos, a erva-doce também foi considerada tão eficaz quanto o ácido mefenâmico no alívio de dores associadas às cólicas menstruais.
O funcho também é benéfico para a saúde bucal
Consumir sementes de erva-doce é uma forma natural de refrescar o hálito, enquanto o anetol presente nelas pode apresentar um poderoso efeito inibitório sobre a periodontite. As sementes de erva-doce também possui efeitos antimicrobianos e seu consumo pode aumentar o pH da saliva, ajudando no combate contra cáries.
Outra pesquisa encontrou efeitos semelhantes no pH salivar ao consumir sementes de erva-doce ou cardamomo, observando: “O consumo de sementes de erva-doce e de cardamomo são iguais no quesito de eficácia no aumento do pH salivar e da placa. Ambas as sementes podem ser utilizadas para lubrificar e umedecer a boca, ao mesmo tempo que são benéficas contra cáries em indivíduos suscetíveis.”
É muito fácil cultivar sua própria erva-doce
Se quiser uma fonte fresca e conveniente de sementes de erva-doce para consumir após as refeições ou caso esteja inchado, com cólicas ou gases, é fácil cultivar sua erva-doce em casa. As sementes podem ser cultivadas dentro de casa ou na parte exterior. Apenas saiba que a erva-doce tende a crescer nas áreas vizinhas, então caso não queira que ela se espalhe muito, plante-a em um local com bordas naturais.
Para conseguir o máximo de frescor, as sementes de erva-doce devem ser colhidas assim que as flores começarem a secar e apresentarem uma coloração marrom. Apenas corte as pontas dos caules que contêm as flores e guarde-as em um local escuro durante 1 ou 2 semanas até que estejam de fato secas. Nesse ponto, as sementes caem das flores de maneira fácil, podendo ser separadas dos restos secos da planta.
Você pode consumir as sementes sozinhas, utilizá-las em pães ou em bebidas. Para um chá simples de erva-doce, adiciones de 1 a 2 colheres de chá em 1 xícara de água fervente durante 5 a 10 minutos. Coe as sementes e desfrute desse remédio natural para ajudar em sua digestão.
Fonte: mercola