Tirando o instinto predatório, crocodilos dariam ótimas babás. Eles não só reconhecem quando um bebê está chorando, como também são melhores em identificar o nível de estresse da criança do que nós, humanos. Com um porém: o que para nós é um pedido de ajuda, para eles é um aviso de almoço.
É o que mostra um novo estudo, publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences. Bebês de várias espécies – primatas, aves e até répteis – usam certo tipo de vocalização para avisar aos adultos quando algo não está certo. Os pesquisadores da Universidade de Saint-Étienne, na França, defendem que algumas características do choro de bebês podem ser entendidas por outras espécies, como os crocodilos.
Os cientistas usaram 24 choros de crianças primatas, sendo 12 humanos, 6 bonobos em zoológicos europeus e 6 chimpanzés selvagens de Uganda. O motivo do berreiro variava para cada áudio; os macacos poderiam brigando ou querendo atenção da mãe, enquanto os humanos estavam irritados com um banho ou uma vacina.
Analisando as gravações, eles identificaram 18 variáveis acústicas de um choro, como tom, quantidade e duração das sílabas, sons caóticos e harmônicos. Então, montaram alto-falantes em uma instalação ao ar livre no Marrocos, em que cerca de 300 crocodilos-do-Nilo estão livres para vagar por vários lagos.
Conhecidos por terem excelente audição, os animais foram expostos aos choros. Imediatamente, vários deles deixaram suas posições e foram investigar a origem do barulho. Crocodilos não são animais que se mexem muito, então qualquer movimento é considerada uma reação forte. Alguns investigaram os alto-falantes por terra, outros se aproximaram por debaixo d’água, e alguns até tentaram morder os alto-falantes.
Ao usar a análise de software dos elementos acústicos das gravações, junto do vídeo das reações dos crocodilos, a equipe pinçou exatamente quais aspectos dos gritos produziram reações nos crocodilos – que até foram comparadas com reações humanas.
Apesar de serem parentes distantes, os crocodilos sabiam analisar o sofrimento de um bebê bonobo com mais precisão do que os Homo sapiens. Segundo os cientistas, confiamos tanto no tom (e isso faz com que superestimemos a angústia dos bonobinhos) que costumam ter gritos agudos sempre. Quanto mais agudo o choro, mais os humanos achavam que o bebê estava aflito.
Por outro lado, os répteis prestavam atenção em outros aspectos. As reações deles eram mais fortes quando as gravações tinham características acústicas mais caóticas e intensas em frequências altas.
Segundo os pesquisadores, as descobertas sugerem que a presença de crocodilos na região em que os primeiros humanos evoluíram pode ter sido um problema. Esses predadores estariam à espreita, esperando um bebezinho indefeso ficar só.
Contudo, nem todos reagiram de forma predatória aos gritos. De acordo com os cientistas, alguns indivíduos pareciam mostrar comportamento protetor, se posicionando na frente do alto-falante, como se quisessem protegê-lo dos outros. Na natureza, crocodilos fêmeas frequentemente defendem seus filhotes de machos canibais. Parece que a preocupação com uma prole chorona não é só humana.
Fonte: abril